domingo, 19 de outubro de 2014

Felicidade

   
Ìwádìí  àlàáfíà.
A busca da felicidade.

dia das criancas0001


Àkójọ́pọ̀ Itumọ̀ (Glossário).
Ìwé gbédègbéyọ̀  (Vocabulário).



Buscar, v. Wá, wákiri, wádìí
Busca, s. Àwárí, ìwádìí, ìwákiri
Felicidade, s. Ayọ̀, ìrọra, àlàáfíà, orí ire.


 Texto 1 - A busca da felicidade

                                
Super 212             
2005


Pesquisas desvendam os mecanismos do prazer e da felicidade. Como esse novo conhecimento pode melhorar sua vida?

Por Barbara Axt
  
Felicidade é um truque. Um truque da natureza concebido ao longo de milhões de anos com uma só finalidade: enganar você. A lógica é a seguinte: quando fazemos algo que aumenta nossas chances de sobreviver ou de procriar, nos sentimos muito bem. Tão bem que vamos querer repetir a experiência muitas e muitas vezes. E essa nossa perseguição incessante de coisas que nos deixem felizes acaba aumentando as chances de transmitirmos nossos genes. “As leis que governam a felicidade não foram desenhadas para nosso bem-estar psicológico, mas para aumentar as chances de sobrevivência dos nossos genes a longo prazo”, escreveu o escritor e psicólogo americano Robert Wright, num artigo para a revista americana Time.
A busca da felicidade é o combustível que move a humanidade – é ela que nos força a estudar, trabalhar, ter fé, construir casas, realizar coisas, juntar dinheiro, gastar dinheiro, fazer amigos, brigar, casar, separar, ter filhos e depois protegê-los. Ela nos convence de que cada uma dessas conquistas é a coisa mais importante do mundo e nos dá disposição para lutar por elas. Mas tudo isso é ilusão. A cada vitória surge uma nova necessidade. Felicidade é uma cenoura pendurada numa vara de pescar amarrada no nosso corpo. Às vezes, com muito esforço, conseguimos dar uma mordidinha. Mas a cenoura continua lá adiante, apetitosa, nos empurrando para a frente. Felicidade é um truque.
E temos levado esse truque muito a sério. Vivemos uma época em que ser feliz é uma obrigação – as pessoas tristes são indesejadas, vistas como fracassadas completas. A doença do momento é a depressão. “A depressão é o mal de uma sociedade que decidiu ser feliz a todo preço”, afirma o escritor francês Pascal Bruckner, autor do livro A Euforia Perpétua. Muitos de nós estão fazendo força demais para demonstrar felicidade aos outros – e sofrendo por dentro por causa disso. Felicidade está virando um peso: uma fonte terrível de ansiedade.
Esse assunto sempre foi desprezado pelos cientistas. Mas, na última década, um número cada vez maior deles, alguns influenciados pelas idéias de religiosos e filósofos, tem se esforçado para decifrar os segredos da felicidade. A idéia é finalmente desmascarar esse truque da natureza. Entender o que nos torna mais ou menos felizes e qual é a forma ideal de lidar com a ansiedade que essa busca infinita causa. Veja nas próximas páginas o que eles já descobriram.

Três caminhos

Um dos motivos pelos quais a felicidade é tão difícil de alcançar é que nem sabemos bem o que ela é (veja algumas tentativas de defini-la no quadro da página 52). Daí a importância das pesquisas do psicólogo americano Martin Seligman, da Universidade da Pensilvânia. Seligman concluiu que felicidade é na verdade a soma de três coisas diferentes: prazer, engajamento e significado.
Prazer você sabe o que é. Trata-se daquela sensação que costuma tomar nossos corpos quando dançamos uma música boa, ouvimos uma piada engraçada, conversamos com um bom amigo, fazemos sexo ou comemos chocolate. Um jeito fácil de reconhecer se alguém está tendo prazer é procurar em seu rosto por um sorriso e por olhos brilhantes. Já engajamento é a profundidade de envolvimento entre a pessoa e sua vida. Um sujeito engajado é aquele que está absorvido pelo que faz, que participa ativamente da vida. E, finalmente, significado é a sensação de que nossa vida faz parte de algo maior.
A vantagem de dividir a felicidade em três é que assim fica mais fácil definirmos nossos objetivos. “Buscar a felicidade” é uma meta meio vaga, fica difícil até de saber por onde começar. Mas, se você se conscientizar de que basta juntar essas três coisas – prazer, engajamento e significado – para a felicidade vir de brinde, a tarefa torna-se menos penosa. Seligman acha que um dos maiores erros das sociedades ocidentais contemporâneas é concentrar a busca da felicidade em apenas um dos três pilares, esquecendo os outros. E geralmente escolhemos justo o mais fraquinho deles: o prazer. “Engajamento e significado são muito mais importantes”, disse ele numa entrevista à Time. Como então alcançá-los? (Veja algumas dicas práticas para ser feliz, no quadro à direita.)
Comecemos pelo engajamento. Algumas pessoas são capazes de se engajar em tudo: entram de cabeça nos romances, doam-se ao trabalho, dão tudo de si a todo momento. Isso é raro e nem sempre é bom (inclusive porque gente engajada demais tende a negligenciar outros aspectos da vida, em especial o prazer). Ninguém precisa ir tão longe, mas o esforço de estar atento ao mundo, participando da vida, vale a pena.
Mihaly Csikszentmihalyi (pronuncie “txicsentmirrái”), pesquisador da Universidade de Chicago, nos Estados Unidos, estuda um fenômeno cerebral chamado “fluxo”, que ocorre quando o engajamento numa atividade torna-se tão intenso que dá aquela sensação boa de estar completamente absorto, a ponto de esquecer do mundo e perder a noção do tempo. Ou seja, é um estado de alegria quase perfeita. Esse fenômeno acontece com monges em estado de meditação, mas também em situações muito mais comuns, como ao tocar um instrumento, andar de bicicleta ou até mesmo ao consertar a estante da casa. Um outro pesquisador, o americano Richard Davidson, da Universidade de Wisconsin, observou em laboratório que as pessoas em estado de fluxo ativam uma região do cérebro chamada córtex pré-frontal esquerdo, o que pode ter uma série de efeitos no organismo, inclusive um melhor funcionamento do sistema imunológico. Ao longo de um estudo realizado na Holanda, pessoas que entraram em fluxo tiveram seu risco de morte reduzido em 50%, por reagirem melhor a doenças.
E como se entra no tal fluxo? Csikszentmihalyi afirma que o segredo é buscar atividades nas quais se possa usar todo o seu talento. Tem de ser um desafio não muito fácil a ponto de ser entediante, nem tão difícil que se torne frustrante. Procurar experiências desse tipo é recompensador e traz níveis bem altos de felicidade. Claro que infelizmente nem todo mundo tem a sorte de encontrar desafios assim no trabalho. Nesse caso, um hobby pode ajudar na busca por engajamento e por momentos de fluxo – pode tanto ser uma atividade manual ou intelectual quanto um esporte.
Quanto ao terceiro pilar da felicidade, o significado, o jeito tradicional de conquistá-lo é via religião. Há milênios, a humanidade encontra alento na crença de que cada um de nós faz parte de uma ordem maior. Pesquisas mostram que as pessoas religiosas consideram-se, na média, mais felizes que as não-religiosas – elas também têm menos depressão, menos ansiedade e suicidam-se menos. A crença de que Deus está nos observando, nas palavras do psicólogo e estudioso da religião Michael McCullough, da Universidade de Miami, é uma espécie de “equivalente em grande escala do pensamento ‘se eu não conseguir pagar o aluguel, meu pai vai ajudar’”. Ou seja, é um conforto, uma garantia de que, no final, as injustiças serão corrigidas e nossos esforços, reconhecidos.
Mas a religião não é a única forma de dar significado à vida. Um truque eficaz para ficar mais feliz é fazer o bem para os outros – visitar um orfanato, ajudar uma criança a fazer a lição de casa, dar um presente útil. E isso não é conversa mole. Seligman mediu em laboratório os efeitos do altruísmo e percebeu que um único ato de bondade pode melhorar efetivamente os níveis de felicidade de uma pessoa por até dois meses. Cinco atos de bondade por semana turbinaram sensivelmente o astral dos cobaias – e, quando todos os cinco foram realizados num mesmo dia, o benefício foi ainda maior. Também se alcança significado construindo algo que pode sobreviver a você. O exemplo clássico é criar filhos. Uma outra dica é acreditar que sua vida é importante para alguma grande causa: a história, a ciência, a justiça social, a democracia, a liberdade, o progresso, a natureza. Ou seja, é útil crer em algo, mesmo que não seja em Deus.
Para terminar, há uma regra da qual especialista nenhum discorda: ter amigos (e nem precisam ser muitos) ajuda a ser feliz. Amigos contam pontos nos três critérios: trazem, ao mesmo tempo, prazer, engajamento e significado para nossas vidas.

Ser infeliz é preciso

Ok, já temos a receita da felicidade. Basta juntar prazer, engajamento e significado e nossa vida se resolve para sempre? Ah, se fosse assim tão simples. A felicidade, como não cansam de repetir os poetas e os chatos, é breve. Ainda bem. Felicidade, por definição, é um estado no qual não temos vontade de mudar nada. Ou seja, se passássemos tempo demais assim, nossas vidas estacionariam. A busca da felicidade é o que nos empurra para a frente – se agarramos a cenoura, paramos de correr e a brincadeira perde completamente a graça. Portanto, um pouco de ansiedade, de insatisfação, é perfeitamente saudável.
“Felicidade é projetada para evaporar”, escreveu Robert Wright. E, segundo ele, há uma razão evolutiva para isso também: “se a alegria que vem após o sexo não acabasse nunca, então os animais copulariam apenas uma vez na vida”. Mora aí um dos grandes problemas atuais. Muita gente acredita que é possível viver uma existência só de altos, sem nenhum ponto baixo, sem tristeza, sem sofrimento. E alguns estão dispostos a conseguir isso sem esforço algum, só à custa de antidepressivos.
Isso é conversa de cientista, mas alguns religiosos, em especial os budistas, já afirmam algo parecido há muito tempo. Um de seus preceitos básicos é o de que “a vida é sofrimento”. Coisa chata, né? Talvez, mas ter consciência de que o sofrimento é inevitável pode ajudar a trazer felicidade, e certamente diminui a ansiedade. O conselho do dalai-lama é que, quando as coisas estiverem mal, em vez de se entregar à infelicidade ou tentar apenas minimizar os sintomas, você respire fundo e tente descobrir o porquê da situação.
Segundo ele, grande parte da dor é criada por nós mesmos, pela nossa inabilidade de lidar com a tristeza e pela sensação de que somos obrigados a ser sempre felizes. Ao encarar o sofrimento de frente e identificar as suas causas reais, você estará dando um passo na direção do autoconhecimento, o que vai lhe permitir entender quais seus objetivos na vida, quais seus valores. Para usar a terminologia de Seligman, esse autoconhecimento dará a você mais clareza sobre que tipo de atividades lhe traz prazer, engajamento e significado. Ou seja, são esses momentos ruins que criarão condições para você correr atrás da sua própria realização – individual, pessoal e intransferível.

Cada um é cada um

É aí que está o pulo-do-gato. Não existe uma fórmula da felicidade que funcione com todo mundo – é justamente nisso que os livros de auto-ajuda costumam falhar. Cada pessoa é diferente e reage à vida de modo diferente. Foi essa a conclusão do estudo realizado em 1996 pelo pesquisador David Lykken, da Universidade de Minnesota. Ele comparou dados sobre 4 000 pares de gêmeos idênticos e percebeu que, na maioria dos casos, quando um tem tendência a ver o mundo de modo otimista, o outro tem também – e quando um é pessimista o outro é igual. Ou seja, existe um forte componente genético na nossa tendência a ser feliz. Não que isso seja uma grande surpresa. Qualquer pai ou mãe sabe que algumas crianças nascem com vocação para o sorriso, enquanto outras são simplesmente muito mais difíceis de agradar.
Nas últimas décadas, apareceram muitas evidências de que nós tendemos a manter um “nível de felicidade” constante ao longo de nossas vidas – e nem mesmo grandes acontecimentos parecem capazes de alterar bruscamente esse nível. Um exemplo disso é a pesquisa conduzida pelo psicólogo Richard Lucas, da Universidade do Estado de Michigan, Estados Unidos. Lucas passou 15 anos entrevistando solteiros e casados na Alemanha e pedindo que eles dessem notas de 0 a 10 para seu estado de felicidade. Os solteiros tinham média 7,28. No momento em que eles casavam, o valor aumentava muito: para perto de 8,5. Mas dois anos depois a média já era de exatamente 7,28 outra vez. Ou seja, a longo prazo, o casamento parece não mudar – para melhor ou para pior – o nível de felicidade .
O mesmo vale para outros acontecimentos radicalmente transformadores – para o bem ou para o mal. Um estudo com ganhadores da loteria realizado em 1978 mostrou que esses felizardos têm picos de felicidade logo após o prêmio, mas tendem a voltar aos níveis anteriores alguns meses depois. Algo equivalente parece acontecer com pessoas que ficam paraplégicas em acidentes. Elas passam por um período de infelicidade, mas dois meses depois recuperam níveis quase tão altos quanto os anteriores ao acidente.
Esse acúmulo de dados levou alguns especialistas a afirmarem que a felicidade é algo imutável. Oito anos atrás, o pesquisador Lykken criou polêmica ao afirmar publicamente que “parece que tentar se tornar mais feliz é tão fútil quanto tentar se tornar mais alto”. Hoje até ele próprio reconhece que essa afirmação foi, no mínimo, exagerada. Parece que uma analogia melhor para a felicidade é compará-la com o peso. Cada um de nós tem um biotipo diferente – uma tendência para ser mais ou menos gordo. Mas é claro que os nossos hábitos e a nossa postura têm uma grande influência sobre o número que aparece na balança. É a mesma coisa com a felicidade: temos uma tendência natural para um certo nível. Mas fazer regime funciona.

Uma questão de desejo

Um exemplo do quanto podemos alterar nossa predisposição genética para a felicidade é a forma como lidamos com nossos desejos. Existem duas maneiras de alcançar a felicidade: possuindo mais ou desejando menos. Se a felicidade é a cenoura, a vara na qual ela está pendurada é o que chamamos de desejo. E estamos fazendo varas cada vez mais compridas.
Veja o caso dos países ricos. “Nos Estados Unidos e na Europa, há uma sensação de desapontamento, pois se está percebendo que existe um limite para a satisfação que a sociedade e os bens materiais trazem”, diz o economista e filósofo Eduardo Giannetti, autor do ótimo livro Felicidade. Nos Estados Unidos, desde a Segunda Guerra Mundial, todos os indicadores econômicos e sociais melhoraram sem parar. A renda triplicou, o tamanho das casas dobrou e o acesso aos bens materiais cresceu tanto, que hoje há mais carros nas garagens do que habitantes no país. Ainda assim, o índice nacional de felicidade não cresceu um milímetro sequer. O Centro de Pesquisas de Opinião Nacional dos Estados Unidos entrevista periodicamente os americanos desde os anos 50 – e o resultado é invariavelmente o mesmo (um terço deles se considera “muito feliz”).
Há uma razão para isso: os americanos querem cada vez mais. Seus desejos não páram de crescer. Ou seja, a cenoura está cada vez mais apetitosa, mas também mais distante. Demandas crescentes são a condição essencial para manter a economia funcionando. A lógica do capitalismo é criar necessidades, para então satisfazê-las – não por acaso, esse país de insatisfeitos é o mais rico do mundo. Precisamos das coisas a partir do momento em que elas estão disponíveis e isso vale tanto para produtos quando para idéias. Quando vemos pessoas lindas, maquiadas e malhadas nas capas das revistas, e aparelhos de som inacreditáveis nos anúncios, fica difícil nos satisfazer com nosso visual comum e com o walkman velho mas honesto. Acontece que a felicidade não está diretamente ligada aos bens materiais. Ed Diener, da Universidade de Illinois, estudioso do assunto há 25 anos, avaliou o nível de felicidade das 400 pessoas mais ricas do mundo segundo a revista Forbes, e concluiu que elas estão rigorosamente empatadas com os pastores maasai da África.
Para complicar, temos cada vez mais opções. Na época em que a prateleira da farmácia abrigava apenas xampu para cabelos secos, normais ou oleosos, era fácil escolher um e ir para casa tranqüilo. Mas, quando na sua frente se enfileiram xampus de todas as procedências e preços, para cabelos ondulados, escuros, danificados, mistos, com pontas duplas, tingidos ou fracos, você não tem mais tanta segurança de que sua escolha foi a melhor. O mesmo acontece na hora de comprar um carro, creme dental ou comida congelada. Ou no momento de escolher um namorado ou uma profissão. “Muita gente fica simplesmente paralisada com tantas opções”, diz o psicólogo americano Barry Schwartz em seu livro, The Paradox of Choice (“O Paradoxo da Escolha”, não lançado no Brasil). Está aí uma fonte de frustração e ansiedade.
Em 2000, Sheena Iyengar e Mark Lepper, das Universidades de Columbia e Stanford, montaram em uma loja dois estandes com amostras de geléia, um com 24 opções de sabor e outro com apenas seis. O número de clientes que comprou o produto foi dez vezes maior no estande menos variado, ainda que o outro tenha atraído 50% mais gente. Por que isso acontece? Schwartz sugere que nessas situações as pessoas avaliam intuitivamente os “custos de oportunidade”: uma escolha implica abrir mão de todas as outras opções. Quando há centenas de possibilidades, escolher uma só significa “perder” muito mais. E, no mundo de hoje, em que cada um tem acesso ao mundo inteiro pela internet e quase não há limites para os nossos desejos, parece inevitável ficar ansioso – e infeliz – com tudo isso.
Pesquisando o assunto, o psicólogo encontrou padrões de comportamento que permitem dividir as pessoas em dois grupos: as que procuram fazer escolhas apenas satisfatórias, sem tentar alcançar a perfeição, e as que não sossegam até que encontrem “a melhor opção de todas”. As pessoas do segundo grupo costumam fazer escolhas melhores, é claro. Mas as do primeiro ficam mais felizes com suas decisões. “A solução é diminuir o número de opções ou melhorar nossa maneira de fazer escolhas”, diz Schwartz.
Então tá. Mas será que sabemos fazer as melhores escolhas para nossa vida? Segundo os pesquisadores Daniel Gilbert, Tim Wilson, George Loewenstein e Daniel Kahneman, a resposta é não. Decisões são tomadas tendo como base nossa previsão de como cada opção vai afetar nossas vidas. Porém, segundo eles, temos uma dificuldade enorme para avaliar o quanto um acontecimento vai nos deixar felizes ou infelizes.
Nós superestimamos a intensidade e a duração das nossas reações emocionais, ao mesmo tempo que subestimamos nossa capacidade de adaptação. Lembra da história dos ganhadores da loteria e acidentados paraplégicos que logo voltam ao nível normal de felicidade? Pois então: somos capazes de nos acostumar com quase tudo. Damos importância demais a escolhas que não são tão definitivas assim e esquecemos que uma decisão “errada” não é o fim do mundo. É uma questão de colocar limites nos nossos desejos. Em outras palavras, ser feliz é muito mais simples do que se pensa.

Simples? Então explique

Tem uma idéia central: não leve tudo tão a sério. “Leveza” é a palavra-chave. Não quer dizer que todos devamos instalar um sorriso permanente no rosto e começar a achar bom tudo o que acontece. Leveza significa entender que até as melhores sensações têm fim, assim como não há aborrecimento que dure para sempre. Não é para se tornar um bobo-alegre: às vezes as circunstâncias nos obrigam a reagir de jeito negativo, e isso não é necessariamente ruim.
Gianetti chama atenção para a diferença entre “ser feliz” e “estar feliz”. “Existem pessoas que levam uma vida cheia de momentos de prazer, mas que não têm um caminho ou um significado. No extremo contrário estão aqueles que abrem mão do ‘estar feliz’ por só pensar no futuro e viver com prudência demais”. Talvez o melhor caminho esteja entre esses dois. Atingir esse equilíbrio não é moleza e infelizmente não há fórmula mágica nem manual completo. O lance é prestar atenção a si mesmo e ir mudando aos pouquinhos. “As transformações mentais demoram e não são fáceis. Demandam um esforço constante”, aconselha o dalai.
Felicidade não é um fim em si, e sim uma conseqüência do jeito que você leva a vida. As pessoas que procuram receitas e respostas complicadas para ela acabam perdendo de vista os pequenos prazeres e alegrias. É o dia-a-dia de uma pessoa e a maneira como ela reage às situações mais banais que definem seu nível de felicidade. Ou, para resumir tudo: um jeito garantido de ser feliz é se preocupando menos em ser feliz.

A receita da felicidade

Esses métodos para se tornar mais feliz foram testados em laboratório. E funcionam

Prazer
• Permita-se ter experiências sensorialmente agradáveis de vez em quando. Não se trata só de emoções fortes. A maior parte dos prazeres é bem simples: conversar, ver uma paisagem bonita, comer algo gostoso.
• Tire “fotografias mentais” dos momentos agradáveis de sua vida – repare nos detalhes, nas cores, nos cheiros. Nas horas difíceis, tente recordar-se de tudo.
• Tenha companhia. Quase todas as pessoas sentem-se mais felizes quando estão com outras pessoas. Claro que isso não significa evitar a solidão a qualquer custo, mas é importante ter amigos.

Engajamento

• Dedique-se a tudo que você faz, no trabalho ou fora. Lembre-se: a diferença entre um emprego chato e um emprego legal pode ser a sua postura. Se você se envolver mais, ele vai ficar mais divertido.
• Arrume uma atividade desafiadora, difícil, e esforce-se para se tornar cada vez melhor nela. Yoga, aeromodelismo, videogame, natação, flauta, mountain bike, culinária vegetariana, bateria. Há opções para todos os gostos.
• Exercite-se. Esporte praticado com freqüência aumenta a disposição para a vida e em geral nos deixa mais ligados no mundo e no nosso próprio corpo. Algumas pesquisas sugerem que dar risada é um ótimo exercício.

Significado

• Pesquisas mostram que escrever num diário as coisas pelas quais você é grato garante um aumento no nível de felicidade que dura seis semanas. Portanto, de tempos em tempos, lembre-se de agradecer.
• Faça atos de altruísmo ou bondade. Colabore com alguma instituição humanitária, ensine algo que você saiba (não interessa se as aulas são de alfabetização ou de guitarra), saia do seu caminho para ajudar alguém.
• Se tem alguém que foi importante na sua vida, ainda que num passado remoto, faça-o saber disso, de preferência com uma visita pessoal. Os cientistas dizem que essa “visita de gratidão” pode valer um mês de felicidade.

A receita da infelicidade

Se você quer mesmo ser feliz, precisa se convencer de que nada disso é a solução

Dinheiro

• Ele só traz felicidade até o momento em que cobre as necessidades básicas. Depois disso, mais dinheiro não altera o nível de satisfação. E um foco exagerado em coisas materiais vai esvaziar sua vida de significado.

Casamento

• Condicionar a felicidade a fatores sobre os quais você não tem controle não pode dar certo. Além disso, um casamento não tem nada a ver com um estado perene de alegria. Ele tem altos e baixos como tudo na vida.

Futuro

• “Vou ser feliz quando eu terminar de pagar meu apartamento.” É importante ter metas, mas achar que a felicidade está no futuro só adia sua realização. Sem falar que, depois de quitar a dívida, é provável que você invente outra meta, ainda mais difícil.

Carro novo

• Nossa cultura consumista e a publicidade criam necessidades novas a cada minuto. Às vezes o carro antigo ainda funciona muito bem, mas você se convence de que não pode viver sem o modelo maior que foi lançado esse mês.

Beleza

• Mais um caso de expectativa irreal. Em primeiro lugar, porque é impossível ter um corpo e um rosto perfeitos. Em segundo, porque nada disso é garantia de felicidade. Pergunte à Gisele Bündchen se ela não sofre às vezes.

Status

• Priorizar símbolos de status indica uma preocupação maior com os outros do que com você mesmo. Uma cobertura de frente para a praia é boa por causa da vista maravilhosa, não porque vai deixar os amigos morrendo de inveja.

Felicidade interna bruta

A Holanda é o país mais feliz do mundo. Mas o Brasil está bem na fita
“A Felicidade Interna Bruta de um país é mais importante do que seu Produto Interno Bruto”. A frase foi dita nos anos 70 por Jigme Singye Wangchuck, rei do Butão, um país budista espremido entre a China e a Índia. Se formos acreditar em Wangchuck, o índice mais importante que existe é aquele avaliado pela pesquisa comandada pelo especialista americano Ed Diener. Pessoas de várias partes do mundo tiveram de avaliar sua própria felicidade, dando notas. O resultado foi bem interessante. Primeiro: ficou claro que os países ricos têm níveis altos de felicidade. Nenhuma nação com renda per capita maior que 20 mil dólares por ano tirou nota de felicidade abaixo de 8 e todos os que passaram de 9 são ricos. Mas não são só os ricos que riem. Nossa América Latina também passou de ano, apesar da pobreza. O destaque foi a Colômbia – justo ela, assolada pelo tráfico de drogas e pela guerra civil. O Brasil revelou-se menos feliz que Argentina e Uruguai, uma surpresa para quem acredita no estereótipo carnavalesco. Mas também nos saímos bem.

Felicidade é...

Tirando "amor", não tem palavra mais difícil de definir. Veja aqui algumas tentativas
... “viver em paz e harmonia.”
Visão budista
... “a atividade da alma dirigida pela virtude.”
Aristóteles, filósofo grego (384–322 a.C.)
... “uma boa saúde e uma memória ruim.”
Ingrid Bergman¸ atriz sueca (1915-1982)
... “breve. Nunca chame um mortal de feliz até ver como ele baixou à sua tumba.”
Eurípedes, dramaturgo grego (480-406 a.C.)
... “um mistério como a religião. Não deveria nunca ser racionalizada.”
Gilbert Keith Chesterton, escritor inglês (1874-1936)
... “algo que não alcançaremos neste mundo, mas apenas após a salvação.”
Visão cristã
... “um estado imaginário, antes atribuído pelos vivos aos mortos, hoje geralmente atribuído pelos adultos às crianças e pelas crianças aos adultos.”
Thomas Szasz, psiquiatra húngaro (1920-)
... “um subproduto de alguma outra coisa que a gente está fazendo.”
Aldous Huxley, escritor inglês (1894-1963)
... “o caminho. Portanto, não existe caminho para a felicidade.”
Mahatma Gandhi, líder nacionalista indiano (1869-1948)

Para saber mais

Na livraria:
A Descoberta do Fluxo - Mihaly Csikszentmihalyi, Rocco, 1999
Felicidade - Eduardo Giannetti, Companhia das Letras, 2002
Euforia Perpétua - Pascal Bruckner, Difel, 2002
The Paradox of Choice - Barry Schwartz, Ecco, EUA, 2004
Culture and Subjective Well-Being - Ed Diener e Eunkook M. Suh (editores), MIT Press, EUA, 2003


Texto 2 - 8 FUNDAMENTOS PARA ALCANÇAR A FELICIDADE

22/0910 Por Miguel Lucas em Felicidade


Nos últimos anos, os investigadores dedicaram muito do seu tempo ao assunto relacionado com a felicidade, e a grande maioria estão de acordo com a importância na distinção entre a felicidade baseada nos valores e a felicidade hedónica, a felicidade de nos sentirmos bem. A felicidade de sentir-se bem é uma sensação baseada no prazer. Quando estamos num jogo de piadas ou fazemos sexo, experienciamos a felicidade de nos sentirmos bem. Dado que a felicidade de nos sentirmos bem é regulada pela lei dos retornos decrescentes. Este tipo de felicidade raramente dura mais que um bom par de horas. A felicidade baseada nos valores, é um senso de que a nossa vida tem um sentido e cumpre um propósito maior. Representa como que uma fonte espiritual e/ou moral de satisfação, decorrente do propósito e valores de vida. Dado que a felicidade baseada nos valores não depende da lei dos retornos decrescentes, não existe limite para quão significativas as nossas vidas podem ser.

Na actualidade na grande maioria das vezes olhamos para a felicidade de uma forma pouco saudável e prejudicial. Isto inclui abuso de comida, vício em drogas, sexo, jogo e poder, e ainda materialismo desenfreado. Será isto que nos faz felizes?
De acordo com os inúmeros estudos e experiências, existem oito fundamentos para a felicidade baseada nos valores:

Necessidade de contacto e ligação com as outras pessoas
Um senso de autonomia (caracterizado por independência pessoal e controlo)
Necessidade de auto-estima
Um senso de competência
Um senso de propósito
Ligação funcional com o próprio corpo
Conexão com a natureza e animais
Espiritualidade


CONTACTO E LIGAÇÃO COM AS OUTRAS PESSOAS

Como seres humanos, somos criaturas que nos desenvolvemos com base nos relacionamentos. Provavelmente a evolução desenhou-nos de forma a que independentemente daquilo que fizéssemos, faríamos melhor quando sentimos o suporte das outras pessoas. As relações são o âmago do ser humano. Tal como Paul Martin mostrou no seu livro The Sickening Mind, os relacionamentos governam o nosso sistema imunitário, têm grande influencia no tipo de doenças que temos e o quão rápido recuperamos das mesmas. Determinam a forma como nos sentimos acerca de nós próprios e sobre o mundo em geral. Ditam o nosso humor e os padrões comportamentais. Se a sua relação é harmoniosa, segura e enriquecedora, é por certo promotora de bem-estar, felicidade, resiliência e optimismo. Se a sua relação for o oposto, provavelmente aumentará a probabilidade à doença, incapacidade, tristeza, pessimismo e desesperança. Quando mais desligado for das boas relações com as outras pessoas, mais infeliz poderá vir a ser. A capacidade para cooperar com os outros foi a principal razão pela qual sobrevivemos enquanto espécie contra todos os predadores. Relacionamentos funcionais são extremamente importantes para nos proteger de sermos controlados pelas forças abusivas que existem na sociedade.

De acordo com algumas investigações os chimpanzés desenvolveram cérebros maiores que os macacos porque eles lidavam com redes sociais maiores e mais complexas. Os grupos humanos lidavam ainda com mais elementos da mesma espécie (para cima de cinquenta), requerendo cérebros ainda maiores que os seus semelhantes.
A nossa sociedade moderna, pelo contrario, é demasiado alargada até para os nossos cérebros expandidos pela evolução. Desta forma quando nos relacionamos com demasiadas pessoas, temos dificuldade em formar ligações funcionais, e por certo aumentamos os nossos níveis de stress.

Partilhar e trocar informação em grupos pequenos, sobre os nossos interesses, gostos e experiencias, promove a nossa felicidade. No entanto para obter os reais benefícios da ligação com os outros, para sermos verdadeiramente felizes e termos um sentimento de segurança, precisamos de determinadas relações específicas. Os seus relacionamentos devem preencher as suas necessidades humanas fundamentais, segurança física, segurança emocional, atenção e importância. As pessoas com as quais estabelece relações de proximidade, normalmente possuem os mesmos interesses, crenças, formas de estar e movimentam-se segundo um propósito comum.

Por outras palavras, para aumentar a soma das coisas que promovem a sua felicidade, os relacionamentos devem ser os mais próximos e funcionais possíveis. Com suporte, lealdade e pessoas amistosas perto de si, você não temerá a exclusão, e torna-se mais optimista, positivo e emocionalmente saudável.

AUTONOMIA

Autonomia é um sentimento de independência e um senso de estar em controlo sobre os seus relacionamentos e destino. É sobre ser-se um indivíduo no contexto de um grupo de suporte. Como tudo o que é significativo na nossa vida, a autonomia depende da qualidade dos nossos relacionamentos. Sem isso, a segurança é comprometida, o que dificulta a felicidade.
Na presente sociedade, muito poucas pessoas possuem autonomia total. De certa forma todos nós possuímos crises de identidade. Todos nós estamos constantemente na iminência de perder a nossa individualidade. Perder a sua autonomia é fácil e o processo é pernicioso. Considere o seguinte:

Investigadores têm vindo a concluir que a perda de autonomia conduz não só ao pessimismo e estados depressivos, mas também para a irritabilidade e hostilidade. Autonomia é muitas vezes confundida com a total ausência de necessidade dos outros ou da sociedade, com uma tendência para as pessoas se tornarem solitárias. Certamente a necessidade para controlarmos a nossa própria vida, pode conduzir-nos a percepcionar a separação como sinónimo de nos sentirmos controlados numa sociedade complexa. De facto não necessitamos de nos sentir como um eremita, para sermos independentes. Ter autonomia significa que temos poder de decisão sobre as nossas escolhas e temos uma palavra a dizer sempre que necessário, sobre todas as decisões que afectam as nossas relações.

Autonomia significa estar ciente das suas possibilidades e capacidades, compreendendo os seus limites. Isto significa que as outras pessoas vêem-nos como um indivíduo com necessidades, direitos, assim como um elemento pertencente à sociedade ou como membro de um determinado grupo, tais como: “consumista”, “pai”, “criança”, “jogador”, “aluno”, “trabalhador”. Quando você se torna num número ou em estatística, perde o senso de autonomia. Quanto menor for o controlo que temos na nossa vida, mais assustados e inseguros nos tornamos. Iniciamos uma postura de controlador e receamos que a autonomia dos outros é uma ameaça directa, ou tornamo-nos medrosos, submissos, depressivos e pessimistas. Mas este processo pode ser revertido quando você tem uma autonomia assertiva e funcional.

A reter: a autonomia pode definir-se como a habilidade para pensar, sentir, tomar decisões e agir por conta própria, assim como tomadas de decisões que envolvem não só o próprio indivíduo, mas também as relações que estabelece com os outros membros da família, seus pares ou pessoas fora do ambiente familiar.

Neste sentido, podemos identificar que, na nossa realidade, existe certa confusão quando nos referimos a esta temática. Por vezes, relacionamos a autonomia na crença do controle da sua própria vida; outras vezes, relacionamos com a possibilidade de ser livres, considerando a liberdade como possibilidade de fazer o que se quer, independente dos desejos e responsabilidade. Como se a nossa liberdade excluísse “o outro”, como se fosse necessário a desvinculação dos laços com as outras pessoas.

Dica: autonomia, como hoje é entendida, supõe que você possa, sim, ser livre, porém continuando a manter seus vínculos de relacionamento.



AUTO-ESTIMA

Você não pode ser feliz ou optimista, se não se sentir bem consigo próprio. E você não consegue sentir-se bem acerca de si mesmo num vácuo. A auto-estima é uma função da percepção que tem sobre como a outras pessoas o vêem. Ela sobressai quando você é elogiado, tratado como importante, ou lhe é dada a atenção apropriada. A auto-estima tem tendência a diminuir quando alguma destas três componentes não se verifica. Na verdade parece existir interesse para algumas pessoas ou alguns grupos sociais que você tenha uma baixa auto-estima, dado que não irá reclamar tanto no seu trabalho (ainda que não seja tão eficaz), não defenderá os seus interesses de forma aguerrida, e comprará mais coisas que não lhe são necessárias na tentativa de se sentir melhor.

A reter: a verdadeira auto-estima constrói-se através do suporte, do elogio, do encorajamento que você recebe daqueles que o rodeiam. Isto permite que você consiga ultrapassar as crenças negativas acerca de si próprio, provavelmente ainda vindas de quando era criança.

COMPETÊNCIA

O senso de competência faz parte da sua auto-estima e relaciona-se com a percepção do quão bem você é funcional na sua vida. Algumas pessoas percepcionam-se competentes em determinadas áreas, mas ainda assim mantêm uma baixa auto-estima. Sem uma forte crença de que desempenha bem e de forma eficaz, determinadas tarefas, e que estas capacidades são importantes e decisivas para os que o rodeiam, você não terá auto-estima nem felicidade. Na verdade não conseguirá ser autónomo, nem funcional na sua vida. Estes conceitos estabelecem uma relação de reforço entre si, se um for ou estiver afectado, toda a sua capacidade funcional fica comprometida.

A sociedade, os nossos pais e as pessoas em geral, jogam um papel bastante significativo, na construção da nossa competência. Por este facto ela constrói-se na relação com os outros. São os outros significativos que nos impulsionam, que nos apoiam e mostram os caminhos para uma competência mais funcional, e assim conseguirmos munirmo-nos de ferramentas para podermos atingir os nossos objectivos. Por este motivo quando toca à felicidade, também os outros jogam um papel preponderante para que possamos juntamente com eles, sentir a vibração do bem-estar, a satisfação de expressar-mos a energia do nosso contentamento – a felicidade.


    A reter: nunca é tarde para trabalhar no seu senso de competência. Procure criar um ambiente que lhe dê suporte para fazer aquilo que melhor faz, torne as pessoas à sua volta em seus aliados, não críticos desmedidos, mas os que o apoiam, se interessam e lhe permitem mostrar o que de melhor existe em si.

PROPÓSITO

Pode ser muito incomodativo perguntar “porque é que estou aqui”. E dar por você a não obter resposta, ou a inclinar-se a responder aquilo que a nossa sociedade nos “empurra” a sentir, que o nosso propósito é ganhar dinheiro. Sem dúvida que o dinheiro é algo importante nas nossas vidas, é dele que vivemos ou sobrevivemos. Mas concordarão comigo que não deverá ser o nosso fim último, mas sim uma via para que possamos construir um propósito de vida que nos permita relativizar os acontecimentos do nosso dia-a-dia. Mais tarde ou mais cedo, acabamos por perceber que os valores, enriquecem a vida. O tempo encarrega-se de nos retirar a pretensão, seja pela idade, doença física ou emocional, um mau investimento, ou uma alteração nas políticas económicas. Sem um sendo de propósito, arriscamo-nos a entrar na via da depressão e pessimismo.

O trabalho é apenas uma parte da nossa vida. Devemos esforçar-nos para encontrar um significado fora da esfera económica ou de alguns papeis que representamos na vida. Devemos procurar um propósito que nos realize e nos ligue aos outros, no sentido de estimular o impulso inato de vivermos em grupo e para o grupo, e assim caminharmos para a felicidade sustentada.

LIGAÇÃO COM O CORPO

A alguns milhões de anos atrás para os nossos ancestrais terem uma visão separada do corpo teria sido quase tão ridículo como verem-se separados do contexto do seu grupo.
Sentir a brisa na pele, correr, deitarem-se no chão, sentir o calor do sol ou da água fria, arremessar de forma precisa uma lança, o prazer do sexo, tudo proporcionava uma enorme fonte de bem-estar e felicidade. Para muitos, estas e outras sensações corporais continuam a proporcionar bem-estar. O trabalho sedentário, a escola, a ausência de exercício, o menor esforço nas tarefas do dia-a-dia, a vergonha aliada à prática sexual, o stress crónico, os traumas, tudo isto joga um papel preponderante para nos separar deste aspecto vital de nós próprios, o corpo, e a necessidade que ele tem de ser exercitado. Para um maior aprofundamento acerca deste assunto, leia o nosso artigo: 29 benefícios da atividade física na sua saúde.

O nosso corpo e a relação que possamos desenvolver com ele, é sem dúvida uma mais-valia para o bem-estar e felicidade. Na verdade nós somos só corpo, nas suas mais variadas expressões. Deste emergiu uma consciência, que nos fez os seres mais inteligentes na terra, é importante que essa consciência nos faça estar cientes das necessidades que o corpo tem, e o quão satisfação e prazer retiramos dele, numa relação simbiótica de felicidade. Ignorá-lo, mal tratá-lo, é colocarmo-nos mais afastados de nós próprios e da nossa felicidade. Deveremos então, olhar para o corpo como uma experiência física e fonte de capacitação e felicidade.

CONEXÃO COM A NATUREZA

Todos nós já experienciamos um senso de união, serenidade e contentamento com a natureza. O seu poder deslumbrante, a sua beleza, a energia e a ligação que nos transmite, deixa-nos rendidos à imensidão da sua maravilha. Estejamos na montanha, numa floresta, no deserto, o mar ou num lago, sentimo-nos perto das nossas origens, perto do natural “nós”.

A grande maioria de nós, somo sensíveis à destruição da natureza, seja de uma floresta, ou pela extinção de um animal, pela degradação e poluição dos nossos rios, pelos fogos que deixam ao seu redor uma enorme devastação e cenário horrendo. Quem já não se sentiu perturbado por um estes cenários? Claro sim, todos nós em determinada altura, por qualquer razão, tivemos sentimentos de tristeza e mau estar perante alguns destes acontecimentos. Os nossos cérebros foram forjados para viver em pequenas comunidades mutuamente apoiadas no contacto com a natureza e animais. Quanto mais nos afastarmos deste ideal, mas stressados, deprimidos, pessimistas e infelizes nos tornaremos. Quando você estrutura os seus relacionamentos de acordo com as suas necessidades e com a sua vida de forma a estar em contacto com a natureza, promove a sua felicidade e confiança.



ESPIRITUALIDADE

Estamos neurologicamente orientados para a espiritualidade. Muitos investigadores chegaram a algumas conclusões que apontam no sentido de que sem uma orientação para a espiritualidade a felicidade pode ser afectada. Espiritualidade não implica necessariamente fé ou crença. É apenas uma sensação de capacidade para estar ligado a…, ou estabelecer relação com…, algo superior ou transcendente a nós próprios. Por vezes sentimos a espiritualidade como algo que nos diz que nos temos de render às evidências ou desprendermo-nos das coisas, por outro lado sentimos como algo que nos incentiva para a acção. Mas independentemente da forma que possa ter para você, a espiritualidade, tal como o senso de propósito, é uma arma poderosa contra o pessimismo e o desânimo.

Muitas forças na sociedade exercem, como que uma barreira contra a possibilidade de nos capacitarmos através da espiritualidade. Seja através de cultos ou da religião, medo de ser ridicularizado pelos colegas ou família, por uma ideia de que a ciência e a espiritualidade são inimigos (o que não é verdade). Mas os maiores obstáculos que enfrentamos talvez sejam o materialismo e o nosso sistema económico. A nossa sociedade parece estar fundada na assunção que o maior poder não está em nós mas sim numa poderosa multi-nacional ou na comunicação social. Por vezes quando estamos cheios de dúvidas, receios ou desesperados, descobrimos a nossa espiritualidade funcional.

Na verdade entendo que a espiritualidade é uma forma que todos nós em algum momento da nossa vida acabamos por encontrar.

Dica: entendo que é a maneira que cada um de nós tem para se relacionar consigo próprio, com o mudo e com os outros. Esta inter-relação, permite-nos ser maiores que nós próprios, tendo como resultado disso a compreensão que fazemos parte dessa grandeza.

OBTER FELICIDADE

Por muitas vicissitudes que nos acontecem na vida e em sociedade, estamos à mercê de podermos ser atingidos por aquilo que o psicólogo Norte Americano, Martin Seligman, o “pai” da psicologia positiva,  apelidou de “desamparo aprendido” e “pessimismo aprendido”. Isto surge quando apesar de todos os nossos esforços para resolver um determinado assunto que para nós é perturbador, por não termos emprego, sofrermos de solidão, um relacionamento destruído, ou a incapacidade para se sentir em paz, tudo isto ensina-nos a sermos pessimistas e a perder a crença numa vida com sentido.

No entanto transitar deste cenário catastrófico para uma visão mais optimista do mundo e da nossa vida é possível através do “optimismo flexível”. O optimismo flexível leva em consideração ambos, a realidade tal como ela por vezes se nos apresenta, pessimista, e por outro lado o optimismo obtido do conhecimento que temos e das oportunidades e possibilidades que existem para obtermos um futuro mais brilhante. Você pode promover as condições que favorecem um optimismo, rodeando-se de pessoas que lhe forneçam apoio e suporte, completando com os oito fundamentos atrás descritos.

Trabalhe na sua felicidade :)


Abraço