quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

O operário em construção

    Nítorí náà ó mú un gòkè wá, ó sì fi gbogbo ìjọba ilẹ̀ ayé tí a ń gbé hàn án ní ìṣẹ́jú akàn; Sátánì sì wí fún un pé: “Gbogbo ọlá àṣẹ yìí àti ògo wọn ni èmi yóò fi fún ọ dájúdájú, nítorí pé a ti fi í lé mi lọ́wọ́, ẹnì yòówù tí mo bá sì fẹ́ ni èmi yóò fi í fún. Nítorí náà, ìwọ, bí o bá jọ́sìn  níwájú mi lẹ́ẹ̀kan ṣoṣo, gbogbo rẹ̀ ni yóò jẹ́ tìrẹ.”   Ní ìfèsìpadà, Jésù wí fún un pé: “A kọ̀wé rẹ̀ pé, ‘Jèhófà Ọlọ́run rẹ  ni ìwọ gbọ́dọ̀ jọ́sìn, òun nìkan ṣoṣo sì ni ìwọ gbọ́dọ̀ ṣe iṣẹ́ ìsìn ọlọ́wọ̀ fún.’'


   Ele o levou assim para cima e lhe mostrou todos os reinos da terra habitada, num instante de tempo;  e o Diabo disse-lhe: “Eu te darei toda esta autoridade  e a glória deles, porque me foi entregue e a dou a quem eu quiser.  Se tu, pois, fizeres um ato de adoração diante de mim, tudo será teu.”  Em resposta, Jesus disse-lhe: “Está escrito: ‘É a Jeová,  teu Deus, que tens de adorar e é somente a ele que tens de prestar serviço sagrado.’' (Lc 4, 5-8)

E o Diabo, levando-o a um alto monte, mostrou-lhe num momento de tempo todos os reinos do mundo. E disse-lhe o Diabo: 
- Dar-te-ei todo este poder e a sua glória, porque a mim me foi entregue e dou-o a quem quero; portanto, se tu me adorares, tudo será teu. 
E Jesus, respondendo, disse-lhe: 
- Vai-te, Satanás; porque está escrito: adorarás o Senhor teu Deus e só a Ele servirás. (Lc 4, 5-8)









O OPERÁRIO EM CONSTRUÇÃO
                                 Vinicius de Moraes

Era ele que erguia casas 
Onde antes só havia chão. 
Como um pássaro sem asas 
Ele subia com as casas 
Que lhe brotavam da mão. 
Mas tudo desconhecia 
De sua grande missão: 
Não sabia, por exemplo 
Que a casa de um homem é um templo 
Um templo sem religião 
Como tampouco sabia 
Que a casa que ele fazia 
Sendo a sua liberdade 
Era a sua escravidão. 

De fato, como podia 
Um operário em construção 
Compreender por que um tijolo 
Valia mais do que um pão? 
Tijolos ele empilhava 
Com pá, cimento e esquadria 
Quanto ao pão, ele o comia... 
Mas fosse comer tijolo! 
E assim o operário ia 
Com suor e com cimento 
Erguendo uma casa aqui 
Adiante um apartamento 
Além uma igreja, à frente 
Um quartel e uma prisão: 
Prisão de que sofreria 
Não fosse, eventualmente 
Um operário em construção. 

Mas ele desconhecia 
Esse fato extraordinário: 
Que o operário faz a coisa 
E a coisa faz o operário. 
De forma que, certo dia 
À mesa, ao cortar o pão 
O operário foi tomado 
De uma súbita emoção 
Ao constatar assombrado 
Que tudo naquela mesa 
- Garrafa, prato, facão - 
Era ele quem os fazia 
Ele, um humilde operário, 
Um operário em construção. 
Olhou em torno: gamela 
Banco, enxerga, caldeirão 
Vidro, parede, janela 
Casa, cidade, nação! 
Tudo, tudo o que existia 
Era ele quem o fazia 
Ele, um humilde operário 
Um operário que sabia 
Exercer a profissão. 

Ah, homens de pensamento 
Não sabereis nunca o quanto 
Aquele humilde operário 
Soube naquele momento! 
Naquela casa vazia 
Que ele mesmo levantara 
Um mundo novo nascia 
De que sequer suspeitava. 
O operário emocionado 
Olhou sua própria mão 
Sua rude mão de operário 
De operário em construção 
E olhando bem para ela 
Teve um segundo a impressão 
De que não havia no mundo 
Coisa que fosse mais bela. 

Foi dentro da compreensão 
Desse instante solitário 
Que, tal sua construção 
Cresceu também o operário. 
Cresceu em alto e profundo 
Em largo e no coração 
E como tudo que cresce 
Ele não cresceu em vão 
Pois além do que sabia 
- Exercer a profissão - 
O operário adquiriu 
Uma nova dimensão: 
A dimensão da poesia. 

E um fato novo se viu 
Que a todos admirava: 
O que o operário dizia 
Outro operário escutava. 

E foi assim que o operário 
Do edifício em construção 
Que sempre dizia sim 
Começou a dizer não. 
E aprendeu a notar coisas 
A que não dava atenção: 

Notou que sua marmita 
Era o prato do patrão 
Que sua cerveja preta 
Era o uísque do patrão 
Que seu macacão de zuarte 
Era o terno do patrão 
Que o casebre onde morava 
Era a mansão do patrão 
Que seus dois pés andarilhos 
Eram as rodas do patrão 
Que a dureza do seu dia 
Era a noite do patrão 
Que sua imensa fadiga 
Era amiga do patrão. 

E o operário disse: Não! 
E o operário fez-se forte 
Na sua resolução. 

Como era de se esperar 
As bocas da delação 
Começaram a dizer coisas 
Aos ouvidos do patrão. 
Mas o patrão não queria 
Nenhuma preocupação 
- "Convençam-no" do contrário - 
Disse ele sobre o operário 
E ao dizer isso sorria. 

Dia seguinte, o operário 
Ao sair da construção 
Viu-se súbito cercado 
Dos homens da delação 
E sofreu, por destinado 
Sua primeira agressão. 
Teve seu rosto cuspido 
Teve seu braço quebrado 
Mas quando foi perguntado 
O operário disse: Não! 

Em vão sofrera o operário 
Sua primeira agressão 
Muitas outras se seguiram 
Muitas outras seguirão. 
Porém, por imprescindível 
Ao edifício em construção 
Seu trabalho prosseguia 
E todo o seu sofrimento 
Misturava-se ao cimento 
Da construção que crescia. 

Sentindo que a violência 
Não dobraria o operário 
Um dia tentou o patrão 
Dobrá-lo de modo vário. 
De sorte que o foi levando 
Ao alto da construção 
E num momento de tempo 
Mostrou-lhe toda a região 
E apontando-a ao operário 
Fez-lhe esta declaração: 
- Dar-te-ei todo esse poder 
E a sua satisfação 
Porque a mim me foi entregue 
E dou-o a quem bem quiser. 
Dou-te tempo de lazer 
Dou-te tempo de mulher. 
Portanto, tudo o que vês 
Será teu se me adorares 
E, ainda mais, se abandonares 
O que te faz dizer não. 

Disse, e fitou o operário 
Que olhava e que refletia 
Mas o que via o operário 
O patrão nunca veria. 
O operário via as casas 
E dentro das estruturas 
Via coisas, objetos 
Produtos, manufaturas. 
Via tudo o que fazia 
O lucro do seu patrão 
E em cada coisa que via 
Misteriosamente havia 
A marca de sua mão. 
E o operário disse: Não! 

- Loucura! - gritou o patrão 
Não vês o que te dou eu? 
- Mentira! - disse o operário 
Não podes dar-me o que é meu. 

E um grande silêncio fez-se 
Dentro do seu coração 
Um silêncio de martírios 
Um silêncio de prisão. 
Um silêncio povoado 
De pedidos de perdão 
Um silêncio apavorado 
Com o medo em solidão. 

Um silêncio de torturas 
E gritos de maldição 
Um silêncio de fraturas 
A se arrastarem no chão. 
E o operário ouviu a voz 
De todos os seus irmãos 
Os seus irmãos que morreram 
Por outros que viverão. 
Uma esperança sincera 
Cresceu no seu coração 
E dentro da tarde mansa 
Agigantou-se a razão 
De um homem pobre e esquecido 
Razão porém que fizera 
Em operário construído 
O operário em construção.



1. Nítorí náà ó mú un gòkè wá, ó sì fi gbogbo ìjọba ilẹ̀ ayé tí a ń gbé hàn án ní ìṣẹ́jú akàn.


Ele o levou assim para cima e lhe mostrou todos os reinos da terra habitada, num instante de tempo

Nítorí náà ó mú un gòkè wá = Ele o levou assim para cima.

Nítorí náà = então, assim.
Ó = ele, ela.
Mú un =  o levou.
Mú un gòkè wá = o levou para cima.
Gòkè = subir escadas, ascender, escalar.
= procurar.
Ó sì fi gbogbo ìjọba ilẹ̀ ayé tí a ń gbé hàn án ní ìṣẹ́jú akàn = e lhe mostrou todos os reinos da terra habitada, num instante de tempo.
Ó sì fi hàn án = e lhe mostrou.
Ó = ele, ela.
= e.
Fihàn = mostrar, revelar.
Fi hàn án = lhe mostrou.
Gbogbo ìjọba ilẹ̀ ayé tí a ń gbé = todos os reinos da terra habitada.
Gbogbo = todos.
Ìjọba = reino.
Ìjọba ilẹ̀ ayé = Reinos da terra.
Ilẹ̀ ayé = planeta terra.
Tí a ń gbé = que nós vivemos, habitada.
= que.
A = nós. 
ń = estar. Indicador de gerúndio.
Gbé = morar, viver em determinado lugar.
Ní ìṣẹ́jú akàn = em um instante, num instante de tempo.
= no, na, em. 
Ìṣẹ́jú = minutos. 
Akàn (caranguejo) = palavra usada em conversação para indicar o que é bom e, ao lado de ẹjá (peixe) para indicar o que é mau.

2. Sátánì sì wí fún un pé: “Gbogbo ọlá àṣẹ yìí àti ògo wọn ni èmi yóò fi fún ọ dájúdájú, nítorí pé a ti fi í lé mi lọ́wọ́, ẹnì yòówù tí mo bá sì fẹ́ ni èmi yóò fi í fún.

 E o Diabo disse-lhe: “Eu te darei toda esta autoridade e a glória deles, porque me foi entregue e a dou a quem eu quiser.


Sátánì sì wí fún un pé: e o Diabo disse-lhe.

= e.
Sátánì = diabo, capeta, satã.
= dizer.
Fún = para.
Fún un = para ele.
= que.
Gbogbo ọlá àṣẹ yìí àti ògo wọn ni èmi yóò fi fún ọ dájúdájú = Eu te darei toda esta autoridade e a glória deles.
Gbogbo ọlá àṣẹ yìí = toda essa autoridade.
ọlá àṣẹ = autoridade.
Yìí = essa, esse.
Àti = e
Àti ògo wọn = e sua glória.
Ògo = glória. 
Wọn = deles, delas.
Wọn = a eles, a elas
Èmi yóò fi fún ọ dájúdájú =  Eu te darei.
Èmi = eu.
Yóò =  tempo futuro.
Fi fún = dar para. 
Fún = dar.
=  você
Dájúdájú = certamente.
Nítorí pé a ti fi í lé mi lọ́wọ́ = porque me foi entregue.
Mi = me.
Lọ́wọ́ = mãos
ẹnì yòówù tí mo bá sì fẹ́ ni èmi yóò fi í fún = e a dou a quem eu quiser.
Yòówù = tanto faz, seja qual for.

3.  Nítorí náà, ìwọ, bí o bá jọ́sìn níwájú mi lẹ́ẹ̀kan ṣoṣo, gbogbo rẹ̀ ni yóò jẹ́ tìrẹ .     

  Se tu, pois, fizeres um ato de adoração diante de mim, tudo será teu.”                                                          


Nítorí náà = então, pois.

Níwájú = diante.
Níwájú mi = diante de mim.
Lẹ́ẹ̀kan ṣoṣo = só uma vez.
ṣoṣo = só, somente. 
Gbogbo rẹ̀ ni yóò jẹ́ tìrẹ = tudo será teu.
Rẹ̀, ẹ̀ = dele, dela.
Rẹ̀ = aumentar. Derramar. Atirar, cair frutas ou folhas.  Estar cansado.
Ni = ser, é.
Jẹ́ = ser.
Tìrẹ = seu, sua, de você.

4. Ní ìfèsìpadà, Jésù wí fún un pé: “A kọ̀wé rẹ̀ pé, ‘Jèhófà Ọlọ́run rẹ ni ìwọ gbọ́dọ̀ jọ́sìn, òun nìkan ṣoṣo sì ni ìwọ gbọ́dọ̀ ṣe iṣẹ́ ìsìn ọlọ́wọ̀ fún.


        Em resposta, Jesus disse-lhe: “Está escrito: ‘É a Jeová, teu Deus, que tens de adorar e é somente a ele que tens de prestar serviço sagrado.


Ní ìfèsìpadà, Jésù wí fún un pé = Em resposta, Jesus disse-lhe.
A kọ̀wé rẹ̀ pé = está escrito.
Jèhófà Ọlọ́run rẹ  ni = É a Jeová, teu Deus.
Jèhófà = Jeová, Javé, Jah, Yahveh, Yehovah, YHVH (Deus de Israel).
Ọlọ́run, Olódùmarè, Èdùmàrè = Deus, o ser supremo, o Onipotente.
Ìwọ gbọ́dọ̀ jọ́sìn = você deve adorar.
Òun nìkan ṣoṣo sì ni ìwọ gbọ́dọ̀ ṣe iṣẹ́ ìsìn ọlọ́wọ̀ fún = e é somente a ele que tens de prestar serviço sagrado.
Nìkan ṣoṣo = somente.
Ìṣẹ́ ìsìn = serviço sagrado.
ọlọ́wọ̀ = pessoa que impõe respeito.
ọlọ́wọ̀ fún = sagrado para.