sábado, 22 de outubro de 2016

Enrevista

  Ìfojúkojú pẹ̀lú olùkọ́ ìmòye.
  Entrevista com o professor de filosofia.




1. Qual cidade você nasceu?
   Nasci na cidade de Sabáudia, município brasileiro do estado do Paraná. A cidade é localizada no norte do Estado. Sua população estimada em 2013 era de 6.462 sabaudienses. Área territorial é 190, 3 km². 

2. Qual o nome da universidade que você se formou em filosofia?

    Pontifícia Universidade Católica de Campinas. É uma universidade confessional católica, privada, comunitária e localizada em Campinas, SP, Brasil.

3. Você teve algum apoio?

Não tive apoio financeiro nem do governo e nem da família. A família não não tinha muito dinheiro, mas deu apoio moral e logístico (roupas limpas e refeições prontas) e o governo, na época, não se importava com os pobres. Por isso, tive que trabalhar e pagar meus estudos.

4. Quais foram as dificuldades para chegar na posição atual?

      As dificuldades foram sobre falta de dinheiro, a distância da universidade e falta de tempo para estudar por causa do trabalho. Todos estes problemas foram vencidos com estudos constantes nos finais de semanas. Mesmo assim, minhas notas foram sempre altas e nunca tirei nota vermelha.


5. Fale um pouco sobre você.  

       Sou casado, não tenho filhos e minha mulher já está aposentada, Sou uma pessoa muito caseira, gosto de ficar em casa para curtir minha família, ler, pesquisar e escrever meu dicionário, mas também costumo viajar para São Paulo de quinze em quinze dias. Sou uma pessoa calma, estrategista  e persistente na luta para realizar meus projetos pessoais, políticos e profissionais.

6. Fale de sua vida social e cultural.

       Sou um ativista em prol do comunismo, da democracia, do empoderamento dos pobres ( negros, índios e brancos), do poder feminino e pelo retorno das culturas animistas (xamanismo, wícca e cultos aos orixás, voduns e inquices). Para atingir o comunismo, procuro dispersar os soberbos,
derrubar os poderosos de seus tronos
e elevar os humildes; saciar de bens os famintos e deixar os ricos sem nada (Magnificat – Lc 1,39-56). No âmbito cultural e para descolonizar nossas mentes, sou propagador de religiões pagãs, do idioma yorubá e do pensamento afro-indígena.

7. O que é o animismo?

  No animismo africano, um só espírito está por dentro de tudo que existe e cada ser que nasce traz consigo uma partezinha do espírito universal (Deus).  O animismo torna as pessoas ambientalistas, por elas tratarem tudo com carinho e respeito. Aqui estão algumas das 42 confissões negativas do Antigo Egito que reforçam os valores ambientalistas dos animistas e para obter êxito ao reunir-se à fonte: não saqueei os neteru, não desperdicei a terra fértil, não me contaminei,  não sujei a água, nunca amaldiçoei os neteru (deuses). Os animistas (indígenas e africanos) pedem desculpas aos deuses da floresta para cortar uma árvore e matar um animal.

8. Quais são os fundamentos científicos do animismo?

   Para os animistas, o universo todo está vivo e, devido à conexão de Einstein há, na verdade, um só todo indiviso. Quando duas partículas ficam entrelaçadas (não-localidade quântica, conexão de Einstein), elas se comportam como se estivessem coordenadas entre si, como se estivessem "trocando informações" à distância. O ser humano sempre desejou unir-se com Deus, talvez essa unidade esteja relacionada com a conexão quântica (conexão de Einstein). Para Leonardo Boff , o universo está pleno de espírito porque é interativo, pan-relacional e criativo.  Desta perspectiva não há entes inertes, não há matéria morta, se contrapondo aos seres vivos. Todas as coisas, todas as entidades (de partículas subatômicas a galáxias) participam de certo modo do espírito, da consciência e da vida. Todos os seres vivos do nosso planeta estão interligados, de uma forma ou de outra e que sugere que somos todos parte de um único organismo vivo. 
     Outra teoria animista é a hipótese Gaia de James Lovelock. Segundo esta hipótese, o planeta Terra é um imenso organismo vivo, capaz de obter energia para seu funcionamento, regular seu clima e temperatura, eliminar seus detritos e combater suas próprias doenças, ou seja, assim como os outros seres vivos, um organismo capaz de se autorregular. De acordo com a hipótese, os organismos bióticos controlam os organismos abióticos, de forma que a Terra se mantém em equilíbrio e em condições propícias de sustentar a vida.

9. O que é afrocentricidade?

    Afrocentricidade é um paradigma baseado na idéia de que os povos africanos devem reafirmar o sentido de agência para atingir a sanidade. É o conhecimento numa “perspectiva negra” como oposição ao que tem sido considerado “perspectiva branca.” É uma orientação Afrocêntrica da informação. Durante 400 anos, os povos africanos têm sido removidos de estar no centro da sua própria experiência. A afrocentricidade é uma perspectiva que permite aos povos africanos se relocalizarem ao centro de sua própria experiência -  Dr. Molefi Kete Asante.

10 . O que é filosofia ubuntu?

   "Eu sou porque nós somos". Eu sou humano e, a naturza humana implica compaixão, partilha, respeito, empatia e ser feliz com o outro. Ubuntu e felicidade são conceitos que andam juntos: na África, a felicidade é concebida como aquilo que faz bem a toda coletividade ou ao outro. E quem é o meu “outro”? “São meus orixás, ancestrais, minha família, minha aldeia, os elementos não humanos e não divinos, como a nossa roça, nossos rios, nossas florestas, nossas rochas”. Dessa forma, resume Malomalo, para a filosofia africana, “o ser humano tem uma grande responsabilidade para a manutenção do equilíbrio cósmico”.


 11Quais são seus planos para o futuro?


   Meus planos são aposentar e concluir meu dicionário de língua yorubá. 

12. Cite três coisas importantes em sua vida.

 Minha faculdade de filosofia, o sítio no assentamento de reforma agrária e o meu conhecimento do idioma yorubá.

13. Qual foi o último livro que você leu?

A Fisica da Alma, de Amit Goswami. Uma  explicação científica para reencanação, a imortalidade e experiências de quase morte.

14. Você sempre foi de religião de orixá?

   Nem sempre, porque desde criança fui católico e, na adolescência, estudei num seminário redentorista. Do catolicismo só restou a opção preferencial pelos pobres e um certo tipo de comunismo cristão, já que todo cristão autêntico deve ser comunista. Em seguida, flertei com os ideais do comunismo de Marx e do ateísmo (logo superado). Porém, na infância e no seminário, lia tudo sobre povos tribais (indígenas e africanos) e, assim, minha consciênia foi se tornando descolonizada, animista (dos orixás), negra, indígena, ecológica, teísta, holística, sistêmica e, posteriormente, quântica. Hoje, faz 25 anos que conheço e adoro os orixás do candomblé, admiro o comunismo tribal, a filosofia ubuntu e a cultura yorubá.

15. Por que você escreve um dicionário yorubá?

  Porque sou da religião tradicional  yorubá e estudioso do idioma. Por isso, quero deixar um legado para os seguidores dessa religião, um dicionário que contempla tanto os costumes tradicionais como o mundo da ciência e da tecnologia.

16. Você já sofreu algum preconceito?

  Para os negros e seguidores do candomblé, preconceito é uma ameaça constante. Há violência policial contra jovens negros e pobres, que são considerados suspeitos e culpados e agressões contra candomblecistas  e terreiros de culto aos orixás. Já sofri os dois tipos de preconceitos: suspeita policial  e por ser devoto de orixá. Porém, tudo isso pode ser superado com consciência negra, organização política e conhecimento da lei.

Cachorro


Ajá ti atatẹ́tẹ́ (cão jogador)