Njẹ́ àwọn ẹranko ní àṣà?
Será que os animais possuem cultura?
Àkójọ́pọ̀ Itumọ̀ (Glossário).
Ìwé gbédègbéyọ̀ (Vocabulário).
Njẹ́ (forma reduzida de hunjẹ́), ṣé, part. interrog. Será que. Inicia uma frase interrogativa quando exigem respostas sim (bẹ́ẹ̀ni, ẹ́n) ou não (bẹ́ẹ̀kọ́, rárá, ẹ́n-ẹ́n). Ṣé o mọ ọ̀nà? - Você conhece o caminho? Rárá, èmi kò mọ̀ - Não, eu não conheço.
Àwọn, wọn, pron. Eles elas. Indicador de plural.
Ní, prep. Contração da preposição ní e substantivo. Quando a vogal inicial do substantivo não é i, a consoante n da preposição se transforma em l, e a vogal i toma forma de vogal do substantivo posterior. Mas se a vogal do substantivo é i, ela é eliminada. Ní àná ( l'ánàá ). Ní ilé (ní'lé)
Ní, part. enfática. Usada na construção de frases, quando o verbo tiver dois objetos, o segundo objeto é precedido por " ní".
Ní, prep. No, na, em. Usada para indicar o lugar em que alguma coisa está. Indica uma posição estática.
Ní, v. Ter, possuir, dizer.Transportar carga em um barco ou navio. Ocupar, obter, pegar.
Ni, v. Ser, é.
Nì, pron. dem. Aquele, aquela. Requer alongamento da vogal final da palavra que o antecede somente na fala. Ex.: Fìlà ( a ) nì = aquele chapéu.
Ìmòye, àmòye, s. Sabedoria, compreensão, previsão.
Ìmọ̀, s. Cultura, saber, conhecimento.
Ìlàjú, s. Cultura, civilização.
Àṣà, s. Costume, hábito, moda.
Àṣà-ibílẹ̀, s. Costume nativo.
Animais , eles também têm cultura
Novas revelações da ciência sobre o comportamento dos animais estão ajudando a derrubar uma das últimas barreiras que distinguia o homem das outras espécies.
POR Redação Super
Rodrigo Cavalcante / Rodrigo Maroja
Há quase 50 anos, na pequena ilha de Koshima, no Japão, Imo, um jovem macaco que gostava de batata- doce, teve um insight que mudaria para sempre o hábito alimentar da sua espécie. Num dia de setembro de 1953, ele não levou a batata diretamente à boca, como faziam todos os outros animais. Ninguém sabe ao certo se ele percebeu que a terra suja desgastava seus dentes. Ou se ele achou mais saboroso comer ela limpa. O fato é que Imo começou a lavar a batata antes de comer, como faria qualquer dona-de-casa. No começo, ele apenas mergulhou a batata num pequeno braço d’água que corria em direção ao mar. Depois, aperfeiçoou a técnica: enquanto afundava a batata na água com uma das mãos, aproveitava a outra para retirar a lama mais aderente. Três meses depois, dois amigos dele começaram a fazer o mesmo e o hábito se espalhou pelos irmãos mais velhos, foi repetido pelas mães, numa espécie de reação em cadeia. Em cinco anos, mais de três quartos dos jovens da espécie lavavam a batata exatamente como Imo.
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Hoje, comer a batata limpa é uma característica das novas gerações de macacos da ilha de Koshima.
A descoberta de Imo pode parecer banal, mas obrigou os cientistas a reverem para sempre a forma como viam os animais e a espécie humana. Para os pesquisadores, a capacidade de Imo transmitir uma nova técnica para outras gerações é uma das provas de que alguns animais também têm um dom que era considerado exclusivo do homem: a cultura. “Precisamos reconhecer que está caindo uma das últimas barreiras que nos separam das outras espécies”, diz o primatologista holandês Frans de Waal, autor do livro The Ape and The Sushi Master (O macaco e o sushiman, sem tradução no Brasil). Ele diz que é claro que cultura, nesse caso, não significa a capacidade para escrever obras literárias ou pintar quadros cubistas. “Cultura é um comportamento transmitido socialmente que não é adquirido individualmente nem geneticamente”, diz de Wall. “É algo que se aprende com os outros, como a técnica de lavar batata dos macacos japoneses.”
Apesar de o primeiro artigo sobre esses macacos ter sido publicado no Japão ainda na década de 1960, a maioria dos pesquisadores ocidentais só recentemente vem usando sem pudor o termo cultura para descrever o comportamento dos animais. “Não é à toa que essas descobertas pioneiras foram feitas no Japão”, diz de Wall. “Os orientais vêem o homem bem mais perto das outras espécies, ao contrário da tradição do Ocidente, que coloca o ser humano num pedestal muito acima dos outros.”
A Bíblia é um bom exemplo dessa tradição. A primeira parte do Gênesis descreve como Deus, depois de criar as outras espécies, fez o homem à sua imagem e semelhança para “dominar os peixes do mar, as aves do céu, os animais domésticos e todo réptil que se arrasta sobre a terra”. Do grego Aristóteles, no século IV a.C., ao filósofo francês René Descartes, no século XVII, os animais continuaram sendo encarados como seres desprovidos de razão, emoção e alma. Mesmo no século XX, quando ficou evidente que a inteligência de diversas espécies era muito superior ao que se imaginava, essa capacidade de aprendizado foi classificada de instinto, reflexo condicionado ou pura imitação. “O curioso é que, quando um garçom de um restaurante japonês aprende a fazer seus pratos observando o sushiman em ação, isso é aprendizado. Quando um animal aprende uma nova técnica de conseguir alimentos observando outro, isso é visto como imitação”, diz de Wall.
Todas essas descobertas só vieram à tona quando os pesquisadores passaram a prestar atenção nos animais como uma forma de descobrir mais sobre a própria evolução humana. Foi o que ocorreu com a inglesa Jane Goodall, que ficou famosa por seu convívio com os chimpanzés na década de 1960, na Reserva Nacional de Gombe, na Tanzânia. Contratada pelo famoso antropólogo Louis Leakey para trazer informações sobre o comportamento dos primatas – e possivelmente conseguir, com essa observação, esclarecer alguns pontos obscuros da própria evolução da cultura humana – o trabalho de Goodall logo revelaria que os chimpanzés eram fascinantes pela diversidade da sua própria cultura. Acampada dentro da floresta, ela passou milhares de horas observando e coletando dados surpreendentes. Goodall comprovou que os chimpanzés tinham uma complexa vida social, uma linguagem primitiva com mais de 20 sons diferentes e usavam diversas ferramentas para extrair alimento – algo que até então era considerado um marco da cultura humana.
Lembra a clássica cena de abertura de 2001 Uma Odisséia no Espaço, em que um dos nossos antepassados hominídeos usa pela primeira vez um pedaço de osso como ferramenta e dá início a todo o desenvolvimento tecnológico? Goodall provou que os chimpanzés também usam ferramentas, como gravetos, de uma forma semelhante ao homem. Não se trata apenas de artefatos como a casa do joão-de-barro, que, de geração para geração, tende sempre a permanecer a mesma, como quem segue à risca a planta de conjunto habitacional programado pelos genes. Quando a revista National Geographic enviou o fotógrafo alemão Hugo van Lawick (futuro marido de Goodall) para registrar o dia-a-dia dos chimpanzés no parque, em 1962, até o mais cético foi obrigado a rever sua crença de que a cultura é um dom único da nossa espécie. Além das ferramentas, a pesquisa de Goodall e as imagens de Van Lawick revelaram que eles tinham um sistema de organização política.
Os machos da espécie disputavam a liderança do grupo não só pela força, mas com intrincados jogos de alianças, conflitos e reconciliações. “Eles participam de acordos, disputas e reconciliações semelhantes ao que ocorre em qualquer parlamento”, diz Eduardo Ottoni, estudioso do comportamento animal da Universidade de São Paulo. Recentemente, uma dessas alianças entre chimpanzés terminou em tragédia no zoológico de Arnhem, na Holanda, quando dois machos se uniram e assassinaram um dos líderes do grupo. “Depois da morte do chimpanzé, a aliança entre os dois ‘assassinos’ terminou”, diz Ottoni.
Ottoni vem estudando, no Brasil, o uso de ferramentas e a vida social de grupos de macacos-prego que vivem em uma área reflorestada de 180 000 metros quadrados no Parque Ecológico do Tietê, em São Paulo. Há sete anos, um funcionário do parque viu um dos macacos quebrando cocos com pedras sobre uma base rochosa. “Desde então, estamos acompanhando esse grupo”, diz Ottoni. “Como essa técnica não é comum em outros macacos da espécie, essa descoberta foi surpreendente.” Além do uso de ferramentas, a pesquisa vem revelando que o macaco-prego apresenta alguns traços de vida política semelhante à dos chimpanzés. “Na hora em que um deles vai dividir a comida, os amigos têm sempre a preferência”, diz a pesquisadora Patrícia Isar, que faz parte do grupo que estuda a espécie no Brasil.
Mas será que a lista de animais que têm cultura estaria restrita a chimpanzés, macacos-pregos, gorilas, orangotangos e outras espécies próximas do homem? “É natural que, no início, as pesquisas se concentrem em animais mais semelhantes ao homem”, diz o etólogo (estudioso do comportamento animal) César Ades, da Universidade de São Paulo (USP). “Até mesmo porque é mais fácil reconhecer a presença de cultura em artefatos produzidos pelas mãos, o que exclui, por exemplo, os animais que vivem no mar”, afirma.
Há muito tempo, os cientistas sabem que os mamíferos marinhos, como baleias e golfinhos, têm uma inteligência surpreendente. Mas novas descobertas trouxeram dados ainda mais reveladores. No ano passado, no Aquário de Nova York, uma experiência mostrou que os golfinhos têm uma capacidade que até então era considerada exclusiva do homem e dos grandes primatas: são capazes de se reconhecer no espelho. Para comprovar que, de fato, o animal sabe que quem está ali do outro lado do vidro é ele e não um estranho (se você já viu o olhar desconfiado de um gato e de um cachorro em frente ao espelho, sabe do que se trata), os pesquisadores fizeram um teste simples mas bastante eficaz: colocaram pintas pretas de tinta não tóxica em diversas partes do corpo do golfinho para saber se eles iriam procurar a imagem desses sinais. Resultado: os golfinhos Presley e Tab, do Aquário de Nova York, colocaram exatamente as partes do corpo pintadas em frente ao espelho, como se quisessem ver as manchas pretas.
E, a cada vez que uma outra parte do corpo era pintada, eles expunham a nova marca no espelho. “Isso prova que essa habilidade não é exclusiva dos grandes primatas”, diz Diana Reiss, pesquisadora do Laboratório de Vida Marinha do aquário. Irene Pepperberg, pesquisadora do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), Estados Unidos, diz que agora é preciso saber até que ponto o auto-reconhecimento significa uma capacidade maior de pensamento abstrato.
Em meio à diversidade da vida animal, um dos principais desafios dos cientistas é tentar entender por que algumas espécies são capazes de desenvolver a inteligência e certas habilidades culturais e outras não. No passado, o tamanho e a complexidade do cérebro eram considerados os únicos pré-requisitos para essas aptidões. Mas os pesquisadores já têm novas pistas. “Apesar de o cérebro não ter perdido sua importância nessa classificação, hoje há um certo consenso de que quanto mais complexa for a dinâmica social do grupo, há mais probabilidade para o desenvolvimento do aprendizado e de alguma forma de cultura”, diz Ottoni. Ou seja: a cultura e a inteligência não surgiram da necessidade de algumas espécies de conseguir alimentos e sobreviver – se fosse assim, a barata, com mais de 340 milhões de anos de resistência na Terra, seria o ser vivo mais inteligente do planeta. A aptidão para aprender teria surgido em função do estilo de vida social da espécie.
O maior defensor dessa idéia é o estudioso de primatas Carel van Schaik, professor de Antropologia Biológica da Universidade Duke, na Carolina do Norte, Estados Unidos. Ao estudar dois grupos de orangotangos, ele notou que, enquanto um usava ferramentas elaboradas para extrair mel ou comer sementes, o outro parecia pouco dotado de tecnologias desse tipo. Foi aí que Schaik percebeu que o grupo mais avançado tecnicamente era o mesmo em que havia maior tolerância dos mais velhos com os filhotes. Sua conclusão foi de que essa tolerância permitiu um maior contato entre as gerações e, conseqüêntemente, mais aprendizado e cultura.
Um bom exemplo de ensino e aprendizado entre gerações é o das baleias orca, na costa da Argentina. Nessa região, elas se arriscam a encalhar na areia para devorar as focas que nadam na praia. Como essa técnica envolve uma série de riscos que os filhotes não querem correr, as mães praticamente empurram os aprendizes na marra para a perigosa caça e permanecem perto para evitar que algum fique preso num banco de areia – como qualquer pai atento que vê o filho andar de bicicleta pela primeira vez. Os pesquisadores também descobriram que, quando as pequenas orcas não nadam em direção à presa, as próprias mães se encarregam de jogar focas vivas sobre elas para que façam o dever de casa. “O aprendizado é uma das chaves da cultura”, diz o pesquisador Eduardo Ottoni. “E não é só entre os humanos que os mais velhos têm um papel crucial no ensino.”
Entre os elefantes, sabe-se que a fêmea mais velha da manada é uma espécie de mentora do grupo nos momentos de dificuldade. Com os seus anos de experiência, é ela quem decide, por exemplo, para onde o grupo deve seguir no caso de uma migração forçada por falta d’água. A americana Joyce Poole, que estuda a comunicação entre esses animais há 27 anos no Quênia, já catalogou mais de 75 tipos de sons usados em diferentes situações. “Eles têm todos os traços de uma sociedade bem estruturada”, diz Poole. “Têm liderança, comunicação, cooperação, busca de consenso, respeito pelo outro e capacidade de reconciliação”, diz.
Você deve estar se perguntando: se os elefantes, orcas e todos esses animais têm inteligência e cultura, por que só o homem é capaz de subjugar tantas espécies – colocando boa parte delas em extinção? Uma das melhores explicações para a “superioridade cultural” humana, quando o assunto é cultura, é do pesquisador Michael Tomasello, do Instituto Max Planck de Antropologia da Evolução. Apesar de reconhecer a capacidade de aprendizado dos outros animais, Tomasello diz que o diferencial da cultura humana é que ela é essencialmente cumulativa: uma descoberta é somada a outra que se soma a uma nova e assim por diante, como numa corrente que não volta para o ponto inicial. Daí sua teoria ser conhecida como “efeito catraca”.
Tomasello diz ainda que temos mais facilidade de aprender porque somos dotados de um detalhe importante que os psicólogos chamam de teoria da mente: a capacidade que temos de entender que existe o “eu” (nossa visão de mundo) em oposição ao “outro” (o mundo visto pela consciência de outra pessoa). Mesmo que diversos outros animais possam se reconhecer no espelho, eles não estariam aptos a perceber as entrelinhas do que o outro quer nos dizer (aquele momento que você olha para o seu professor e diz: nem precisa mostrar, eu já entendi o que você quer de mim). Mas, para muitos estudiosos do comportamento animal, essa diferença não é tão grande a ponto de justificar a gigante barreira que o homem impõe diante de diversas espécies. Afinal, os psiquiatras sabem que os portadores de alguns distúrbios mentais, como os autistas, também não têm teoria da mente bem elaborada. Nem por isso, obviamente, alguém pensaria em tratar esses seres humanos como são tratados muitos animais.
Todas essas descobertas devem alterar, pelo menos no futuro, a relação do homem com diversas espécies. Steven Wise, advogado americano especialista em Direito dos Animais, diz que a atual discussão sobre se alguns animais têm ou não cultura é muito semelhante ao debate dos religiosos europeus que, no século XVI, com a descoberta dos índios na América, se perguntavam se eles tinham ou não alma – o papa Paulo III, em 1537, chegou a editar uma bula para discutir o tema. Wise também lembra que a escravidão, baseada em teorias de inferioridade racial, logo foi descartada quando ficou claro que não havia nenhuma base científica para afirmar que algum ser humano era inferior a outro. “De certa forma, o mesmo deve acontecer com os animais”, diz Wise. “É claro que a questão não vai ser se os animais são ou não humanos. Eles não são. A pergunta será: que tipo de animal você é?”
Dependendo da resposta, Wise diz que já existem dados suficientes para que chimpanzés, orangotangos, gorilas e golfinhos tenham garantido seus direitos básicos de liberdade – não podendo ser considerados legalmente como “propriedade” de alguém ou de alguma instituição, como eram os escravos. Isso não só deve eliminar o direito do uso desses animais como cobaias, como talvez transforme, no futuro, os zoológicos e os circos em excentricidades do passado – como eram os shows que, no século XIX, exibiam gêmeos siameses e mulheres barbudas.
E mais: como muitos animais têm sua própria diversidade de técnicas, os pesquisadores agora não estão apenas preocupados com a extinção de algumas espécies, mas com a extinção da própria variedade de cultura delas. Eles temem que, no futuro, a humanidade olhe para trás e descubra que fez com os animais o mesmo que com várias culturas humanas aniquiladas. “Se não preservarmos esses animais no seu meio natural, estaremos provavelmente sepultando a possibilidade de entendermos como se deu a formação da nossa própria espécie”, diz Walter Neves, estudioso da evolução humana da USP. “Quando nos dermos conta de que só com eles poderemos entender a origem da nossa consciência e das nossas emoções, talvez seja tarde demais.”
Será que os animais possuem cultura?
Àkójọ́pọ̀ Itumọ̀ (Glossário).
Ìwé gbédègbéyọ̀ (Vocabulário).
Njẹ́ (forma reduzida de hunjẹ́), ṣé, part. interrog. Será que. Inicia uma frase interrogativa quando exigem respostas sim (bẹ́ẹ̀ni, ẹ́n) ou não (bẹ́ẹ̀kọ́, rárá, ẹ́n-ẹ́n). Ṣé o mọ ọ̀nà? - Você conhece o caminho? Rárá, èmi kò mọ̀ - Não, eu não conheço.
Àwọn, wọn, pron. Eles elas. Indicador de plural.
Ẹranko, s. Animal.
Ẹran, s. Carne, animal.Ní, prep. Contração da preposição ní e substantivo. Quando a vogal inicial do substantivo não é i, a consoante n da preposição se transforma em l, e a vogal i toma forma de vogal do substantivo posterior. Mas se a vogal do substantivo é i, ela é eliminada. Ní àná ( l'ánàá ). Ní ilé (ní'lé)
Ní, part. enfática. Usada na construção de frases, quando o verbo tiver dois objetos, o segundo objeto é precedido por " ní".
Ní, prep. No, na, em. Usada para indicar o lugar em que alguma coisa está. Indica uma posição estática.
Ní, v. Ter, possuir, dizer.Transportar carga em um barco ou navio. Ocupar, obter, pegar.
Ni, v. Ser, é.
Nì, pron. dem. Aquele, aquela. Requer alongamento da vogal final da palavra que o antecede somente na fala. Ex.: Fìlà ( a ) nì = aquele chapéu.
Ìmòye, àmòye, s. Sabedoria, compreensão, previsão.
Ìmọ̀, s. Cultura, saber, conhecimento.
Ìlàjú, s. Cultura, civilização.
Àṣà, s. Costume, hábito, moda.
Àṣà-ibílẹ̀, s. Costume nativo.
Animais , eles também têm cultura
Novas revelações da ciência sobre o comportamento dos animais estão ajudando a derrubar uma das últimas barreiras que distinguia o homem das outras espécies.
POR Redação Super
Rodrigo Cavalcante / Rodrigo Maroja
Há quase 50 anos, na pequena ilha de Koshima, no Japão, Imo, um jovem macaco que gostava de batata- doce, teve um insight que mudaria para sempre o hábito alimentar da sua espécie. Num dia de setembro de 1953, ele não levou a batata diretamente à boca, como faziam todos os outros animais. Ninguém sabe ao certo se ele percebeu que a terra suja desgastava seus dentes. Ou se ele achou mais saboroso comer ela limpa. O fato é que Imo começou a lavar a batata antes de comer, como faria qualquer dona-de-casa. No começo, ele apenas mergulhou a batata num pequeno braço d’água que corria em direção ao mar. Depois, aperfeiçoou a técnica: enquanto afundava a batata na água com uma das mãos, aproveitava a outra para retirar a lama mais aderente. Três meses depois, dois amigos dele começaram a fazer o mesmo e o hábito se espalhou pelos irmãos mais velhos, foi repetido pelas mães, numa espécie de reação em cadeia. Em cinco anos, mais de três quartos dos jovens da espécie lavavam a batata exatamente como Imo.
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Hoje, comer a batata limpa é uma característica das novas gerações de macacos da ilha de Koshima.
A descoberta de Imo pode parecer banal, mas obrigou os cientistas a reverem para sempre a forma como viam os animais e a espécie humana. Para os pesquisadores, a capacidade de Imo transmitir uma nova técnica para outras gerações é uma das provas de que alguns animais também têm um dom que era considerado exclusivo do homem: a cultura. “Precisamos reconhecer que está caindo uma das últimas barreiras que nos separam das outras espécies”, diz o primatologista holandês Frans de Waal, autor do livro The Ape and The Sushi Master (O macaco e o sushiman, sem tradução no Brasil). Ele diz que é claro que cultura, nesse caso, não significa a capacidade para escrever obras literárias ou pintar quadros cubistas. “Cultura é um comportamento transmitido socialmente que não é adquirido individualmente nem geneticamente”, diz de Wall. “É algo que se aprende com os outros, como a técnica de lavar batata dos macacos japoneses.”
Apesar de o primeiro artigo sobre esses macacos ter sido publicado no Japão ainda na década de 1960, a maioria dos pesquisadores ocidentais só recentemente vem usando sem pudor o termo cultura para descrever o comportamento dos animais. “Não é à toa que essas descobertas pioneiras foram feitas no Japão”, diz de Wall. “Os orientais vêem o homem bem mais perto das outras espécies, ao contrário da tradição do Ocidente, que coloca o ser humano num pedestal muito acima dos outros.”
A Bíblia é um bom exemplo dessa tradição. A primeira parte do Gênesis descreve como Deus, depois de criar as outras espécies, fez o homem à sua imagem e semelhança para “dominar os peixes do mar, as aves do céu, os animais domésticos e todo réptil que se arrasta sobre a terra”. Do grego Aristóteles, no século IV a.C., ao filósofo francês René Descartes, no século XVII, os animais continuaram sendo encarados como seres desprovidos de razão, emoção e alma. Mesmo no século XX, quando ficou evidente que a inteligência de diversas espécies era muito superior ao que se imaginava, essa capacidade de aprendizado foi classificada de instinto, reflexo condicionado ou pura imitação. “O curioso é que, quando um garçom de um restaurante japonês aprende a fazer seus pratos observando o sushiman em ação, isso é aprendizado. Quando um animal aprende uma nova técnica de conseguir alimentos observando outro, isso é visto como imitação”, diz de Wall.
Todas essas descobertas só vieram à tona quando os pesquisadores passaram a prestar atenção nos animais como uma forma de descobrir mais sobre a própria evolução humana. Foi o que ocorreu com a inglesa Jane Goodall, que ficou famosa por seu convívio com os chimpanzés na década de 1960, na Reserva Nacional de Gombe, na Tanzânia. Contratada pelo famoso antropólogo Louis Leakey para trazer informações sobre o comportamento dos primatas – e possivelmente conseguir, com essa observação, esclarecer alguns pontos obscuros da própria evolução da cultura humana – o trabalho de Goodall logo revelaria que os chimpanzés eram fascinantes pela diversidade da sua própria cultura. Acampada dentro da floresta, ela passou milhares de horas observando e coletando dados surpreendentes. Goodall comprovou que os chimpanzés tinham uma complexa vida social, uma linguagem primitiva com mais de 20 sons diferentes e usavam diversas ferramentas para extrair alimento – algo que até então era considerado um marco da cultura humana.
Lembra a clássica cena de abertura de 2001 Uma Odisséia no Espaço, em que um dos nossos antepassados hominídeos usa pela primeira vez um pedaço de osso como ferramenta e dá início a todo o desenvolvimento tecnológico? Goodall provou que os chimpanzés também usam ferramentas, como gravetos, de uma forma semelhante ao homem. Não se trata apenas de artefatos como a casa do joão-de-barro, que, de geração para geração, tende sempre a permanecer a mesma, como quem segue à risca a planta de conjunto habitacional programado pelos genes. Quando a revista National Geographic enviou o fotógrafo alemão Hugo van Lawick (futuro marido de Goodall) para registrar o dia-a-dia dos chimpanzés no parque, em 1962, até o mais cético foi obrigado a rever sua crença de que a cultura é um dom único da nossa espécie. Além das ferramentas, a pesquisa de Goodall e as imagens de Van Lawick revelaram que eles tinham um sistema de organização política.
Os machos da espécie disputavam a liderança do grupo não só pela força, mas com intrincados jogos de alianças, conflitos e reconciliações. “Eles participam de acordos, disputas e reconciliações semelhantes ao que ocorre em qualquer parlamento”, diz Eduardo Ottoni, estudioso do comportamento animal da Universidade de São Paulo. Recentemente, uma dessas alianças entre chimpanzés terminou em tragédia no zoológico de Arnhem, na Holanda, quando dois machos se uniram e assassinaram um dos líderes do grupo. “Depois da morte do chimpanzé, a aliança entre os dois ‘assassinos’ terminou”, diz Ottoni.
Ottoni vem estudando, no Brasil, o uso de ferramentas e a vida social de grupos de macacos-prego que vivem em uma área reflorestada de 180 000 metros quadrados no Parque Ecológico do Tietê, em São Paulo. Há sete anos, um funcionário do parque viu um dos macacos quebrando cocos com pedras sobre uma base rochosa. “Desde então, estamos acompanhando esse grupo”, diz Ottoni. “Como essa técnica não é comum em outros macacos da espécie, essa descoberta foi surpreendente.” Além do uso de ferramentas, a pesquisa vem revelando que o macaco-prego apresenta alguns traços de vida política semelhante à dos chimpanzés. “Na hora em que um deles vai dividir a comida, os amigos têm sempre a preferência”, diz a pesquisadora Patrícia Isar, que faz parte do grupo que estuda a espécie no Brasil.
Mas será que a lista de animais que têm cultura estaria restrita a chimpanzés, macacos-pregos, gorilas, orangotangos e outras espécies próximas do homem? “É natural que, no início, as pesquisas se concentrem em animais mais semelhantes ao homem”, diz o etólogo (estudioso do comportamento animal) César Ades, da Universidade de São Paulo (USP). “Até mesmo porque é mais fácil reconhecer a presença de cultura em artefatos produzidos pelas mãos, o que exclui, por exemplo, os animais que vivem no mar”, afirma.
Há muito tempo, os cientistas sabem que os mamíferos marinhos, como baleias e golfinhos, têm uma inteligência surpreendente. Mas novas descobertas trouxeram dados ainda mais reveladores. No ano passado, no Aquário de Nova York, uma experiência mostrou que os golfinhos têm uma capacidade que até então era considerada exclusiva do homem e dos grandes primatas: são capazes de se reconhecer no espelho. Para comprovar que, de fato, o animal sabe que quem está ali do outro lado do vidro é ele e não um estranho (se você já viu o olhar desconfiado de um gato e de um cachorro em frente ao espelho, sabe do que se trata), os pesquisadores fizeram um teste simples mas bastante eficaz: colocaram pintas pretas de tinta não tóxica em diversas partes do corpo do golfinho para saber se eles iriam procurar a imagem desses sinais. Resultado: os golfinhos Presley e Tab, do Aquário de Nova York, colocaram exatamente as partes do corpo pintadas em frente ao espelho, como se quisessem ver as manchas pretas.
E, a cada vez que uma outra parte do corpo era pintada, eles expunham a nova marca no espelho. “Isso prova que essa habilidade não é exclusiva dos grandes primatas”, diz Diana Reiss, pesquisadora do Laboratório de Vida Marinha do aquário. Irene Pepperberg, pesquisadora do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), Estados Unidos, diz que agora é preciso saber até que ponto o auto-reconhecimento significa uma capacidade maior de pensamento abstrato.
Em meio à diversidade da vida animal, um dos principais desafios dos cientistas é tentar entender por que algumas espécies são capazes de desenvolver a inteligência e certas habilidades culturais e outras não. No passado, o tamanho e a complexidade do cérebro eram considerados os únicos pré-requisitos para essas aptidões. Mas os pesquisadores já têm novas pistas. “Apesar de o cérebro não ter perdido sua importância nessa classificação, hoje há um certo consenso de que quanto mais complexa for a dinâmica social do grupo, há mais probabilidade para o desenvolvimento do aprendizado e de alguma forma de cultura”, diz Ottoni. Ou seja: a cultura e a inteligência não surgiram da necessidade de algumas espécies de conseguir alimentos e sobreviver – se fosse assim, a barata, com mais de 340 milhões de anos de resistência na Terra, seria o ser vivo mais inteligente do planeta. A aptidão para aprender teria surgido em função do estilo de vida social da espécie.
O maior defensor dessa idéia é o estudioso de primatas Carel van Schaik, professor de Antropologia Biológica da Universidade Duke, na Carolina do Norte, Estados Unidos. Ao estudar dois grupos de orangotangos, ele notou que, enquanto um usava ferramentas elaboradas para extrair mel ou comer sementes, o outro parecia pouco dotado de tecnologias desse tipo. Foi aí que Schaik percebeu que o grupo mais avançado tecnicamente era o mesmo em que havia maior tolerância dos mais velhos com os filhotes. Sua conclusão foi de que essa tolerância permitiu um maior contato entre as gerações e, conseqüêntemente, mais aprendizado e cultura.
Um bom exemplo de ensino e aprendizado entre gerações é o das baleias orca, na costa da Argentina. Nessa região, elas se arriscam a encalhar na areia para devorar as focas que nadam na praia. Como essa técnica envolve uma série de riscos que os filhotes não querem correr, as mães praticamente empurram os aprendizes na marra para a perigosa caça e permanecem perto para evitar que algum fique preso num banco de areia – como qualquer pai atento que vê o filho andar de bicicleta pela primeira vez. Os pesquisadores também descobriram que, quando as pequenas orcas não nadam em direção à presa, as próprias mães se encarregam de jogar focas vivas sobre elas para que façam o dever de casa. “O aprendizado é uma das chaves da cultura”, diz o pesquisador Eduardo Ottoni. “E não é só entre os humanos que os mais velhos têm um papel crucial no ensino.”
Entre os elefantes, sabe-se que a fêmea mais velha da manada é uma espécie de mentora do grupo nos momentos de dificuldade. Com os seus anos de experiência, é ela quem decide, por exemplo, para onde o grupo deve seguir no caso de uma migração forçada por falta d’água. A americana Joyce Poole, que estuda a comunicação entre esses animais há 27 anos no Quênia, já catalogou mais de 75 tipos de sons usados em diferentes situações. “Eles têm todos os traços de uma sociedade bem estruturada”, diz Poole. “Têm liderança, comunicação, cooperação, busca de consenso, respeito pelo outro e capacidade de reconciliação”, diz.
Você deve estar se perguntando: se os elefantes, orcas e todos esses animais têm inteligência e cultura, por que só o homem é capaz de subjugar tantas espécies – colocando boa parte delas em extinção? Uma das melhores explicações para a “superioridade cultural” humana, quando o assunto é cultura, é do pesquisador Michael Tomasello, do Instituto Max Planck de Antropologia da Evolução. Apesar de reconhecer a capacidade de aprendizado dos outros animais, Tomasello diz que o diferencial da cultura humana é que ela é essencialmente cumulativa: uma descoberta é somada a outra que se soma a uma nova e assim por diante, como numa corrente que não volta para o ponto inicial. Daí sua teoria ser conhecida como “efeito catraca”.
Tomasello diz ainda que temos mais facilidade de aprender porque somos dotados de um detalhe importante que os psicólogos chamam de teoria da mente: a capacidade que temos de entender que existe o “eu” (nossa visão de mundo) em oposição ao “outro” (o mundo visto pela consciência de outra pessoa). Mesmo que diversos outros animais possam se reconhecer no espelho, eles não estariam aptos a perceber as entrelinhas do que o outro quer nos dizer (aquele momento que você olha para o seu professor e diz: nem precisa mostrar, eu já entendi o que você quer de mim). Mas, para muitos estudiosos do comportamento animal, essa diferença não é tão grande a ponto de justificar a gigante barreira que o homem impõe diante de diversas espécies. Afinal, os psiquiatras sabem que os portadores de alguns distúrbios mentais, como os autistas, também não têm teoria da mente bem elaborada. Nem por isso, obviamente, alguém pensaria em tratar esses seres humanos como são tratados muitos animais.
Todas essas descobertas devem alterar, pelo menos no futuro, a relação do homem com diversas espécies. Steven Wise, advogado americano especialista em Direito dos Animais, diz que a atual discussão sobre se alguns animais têm ou não cultura é muito semelhante ao debate dos religiosos europeus que, no século XVI, com a descoberta dos índios na América, se perguntavam se eles tinham ou não alma – o papa Paulo III, em 1537, chegou a editar uma bula para discutir o tema. Wise também lembra que a escravidão, baseada em teorias de inferioridade racial, logo foi descartada quando ficou claro que não havia nenhuma base científica para afirmar que algum ser humano era inferior a outro. “De certa forma, o mesmo deve acontecer com os animais”, diz Wise. “É claro que a questão não vai ser se os animais são ou não humanos. Eles não são. A pergunta será: que tipo de animal você é?”
Dependendo da resposta, Wise diz que já existem dados suficientes para que chimpanzés, orangotangos, gorilas e golfinhos tenham garantido seus direitos básicos de liberdade – não podendo ser considerados legalmente como “propriedade” de alguém ou de alguma instituição, como eram os escravos. Isso não só deve eliminar o direito do uso desses animais como cobaias, como talvez transforme, no futuro, os zoológicos e os circos em excentricidades do passado – como eram os shows que, no século XIX, exibiam gêmeos siameses e mulheres barbudas.
E mais: como muitos animais têm sua própria diversidade de técnicas, os pesquisadores agora não estão apenas preocupados com a extinção de algumas espécies, mas com a extinção da própria variedade de cultura delas. Eles temem que, no futuro, a humanidade olhe para trás e descubra que fez com os animais o mesmo que com várias culturas humanas aniquiladas. “Se não preservarmos esses animais no seu meio natural, estaremos provavelmente sepultando a possibilidade de entendermos como se deu a formação da nossa própria espécie”, diz Walter Neves, estudioso da evolução humana da USP. “Quando nos dermos conta de que só com eles poderemos entender a origem da nossa consciência e das nossas emoções, talvez seja tarde demais.”
Fonte: http://super.abril.com.br/ciencia/animais-eles-tambem-tem-cultura