terça-feira, 1 de julho de 2014

Rap guarani

   Ẹgbẹ́ ti ìbílẹ̀ ṣe ráàpù nínú èdèe guaraní  láti  sọdi-aláìkú  èdè náà.

   Grupo indígena faz rap em guarani para imortalizar o idioma.





Àkójọ́pọ̀ Itumọ̀ (Glossário).

Ìwé gbédègbéyọ̀  (Vocabulário).

 Ẹgbẹ́ = grupo, sociedade, associação, partido, par, companheiro.

Ti ìbílẹ̀ = indígena.

Ti, prep. De ( indicando posse).


Ìbílẹ̀, s. Nativo, nascido na região.

Ráàpù = rap.

= no, na, em.

Nínú = dentro, no interior de.

Láti = para. Usada antes de verbo no infinitivo.

Sọdi, sọdà = transformar, converter.

Aláìkú = imortal, inextinguível.

Sọdi-aláìkú = imortalizar.

Èdè = idioma, língua, dialeto.

Èdèe guaraní = idioma guarani. Nesta expressão, há dois substantivos juntos e por isso, a vogal do primeiro é estendida na fala e na escrita, se o substantivo seguinte começar com consoante.

Guaraní = guarani.

Náà = o, a, os, as. 






É a mesma coisa que a gente chegar na casa de alguém e falar:
 'eu descobri essa casa’. É que nem se fosse assim aqui, nas histórias”. 





A frase é de Charlie, integrante dos Brô MCs, grupo indígena de rap que é original de uma cidadezinha próxima de Dourados (Mato Grosso do Sul), na divisa do Brasil com o Paraguai. 


Portal Vermelho



Na dúvida se ele está falando da colonização da América do Sul ou da constante invasão e degradação de terras indígenas no país, esclarece-se: das duas coisas. O tratamento de exclusão e desrespeito que se dá aos índios por aqui é o mesmo desde 1500, e é contra que cantam os Brô MCs. E em idioma original.


A banda faz um rap diferente, misturando bases clássicas com instrumentos de origem guarani kaiowá e toques da musical brasileira.

O escolhido pelo grupo foi o ritmo norte-americano com letras em guarani e em português por várias razões. Primeiro, porque ele surgiu do contexto das oficinas oferecidas em um Ponto de Cultura da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD). Os quatro rapazes que o fundaram participaram de aulas de dança da Cufa (Central Única de Favelas), aprenderam a dançar o rap, e então um deles começou a compor letras de música. Em 2008, nascia a formação básica dos Brô Mc's: Bruno, Charlie, Kelvin e Clemerson.

Depois, eles chegaram à conclusão que Brô MCs – que vem de “brothers” – era um nome bacana, porque são duas duplas de irmãos (Bruno e Clemerson; Charlie e Kelvin) que queriam, de fato, buscar uma integração. "Brother, irmão, em linguagem indígena, seria [em guarani] Xerykey, se for mais velho, e Xeryvy, se for mais novo", explica Kelvin. "Como o rap tem sua origem no inglês, o nome ficou assim como uma forma de mostrar ao homem branco que nós queremos paz”.

Eles fundaram o quarteto, levando em conta o cotidiano de sua região, onde os conflitos ao redor da posse de terra ameaçam a forma de vida ancestral dos indígenas. Rapear se tornou a maneira de canalizar as reivindicações e os conflitos da comunidade nativa da maior reserva urbana do Brasil. 

Adany Muniz, um dos integrantes da formação atual, explica que o Mato Grosso está dominado pela economia do agronegócio, que os "rejeita e persegue". "Existe muito conflito pela questão da terra e o preconceito contra o indígena. A sociedade não aceita nossa cultura e nossa identidade, então somos muito melhor recebidos em outros estados onde não há indígenas como São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília", diz.

Cantar em duas línguas foi uma escolha natural. Ao mesmo tempo em que no Brasil se fala português, "valorizamos nossa língua". "Somos o único grupo indígena no país que faz rap e mistura português com guarani”, afirma Bruno. Os Brôs têm se apresentado com frequência cada vez maior desde que se tornaram mais conhecidos, em 2010, no Brasil e no Paraguai – onde o guarani é idioma oficial junto ao espanhol e falado por mais de 90% dos paraguaios, de acordo com o último censo local. Kelvin acredita que a banda se transformou em "uma oportunidade muito grande para mostrar a capacidade da cultura indígena" e de sua língua.

Clemerson destacou a surpresa que causaram na própria aldeia quando começaram a cantar rap. Depois veio o lançamento do primeiro CD, em 2012, a gravação de um clipe que já tem mais de 200 mil acessos no YouTube e ampla repercussão na imprensa. Chegaram a abrir um show de Milton Nascimento, se apresentaram em unidades do Sesc de São Paulo e inclusive tocaram em Brasília, para a presidenta Dilma Rousseff. O futuro, apesar do que já foi alcançado, pede muitas conquistas mais. O que esperam é continuar cantando para "imortalizar o guarani" e divulgar o conflito de sua terra.



Assista ao clipe oficial do grupo: 
                                                                                                                  

Analfabeto midiático

Àwọn ènìyàn láìkọ́wé.
Pessoas analfabetas.














Àkójọ́pọ̀ Itumọ̀ (Glossário).

Ìwé gbédègbéyọ̀  (Vocabulário).


Àwọn, pron. Eles, elas. Indicador de plural ( os, as).

Ènìà, ènìyàn, s. Pessoa. Povo, seres humanos, alguém
Láìkọ́, aláìkẹ́kọ́, adj. Inculto
Òpèaláìmọ̀s. pessoa ignorante, simplória.
Láìkọ́wé, aláìmọ̀ iwéaláìmọ̀wé adj. analfabeto, iletrado, sem estudo.
Láìmọ̀rí, ad. Inexperiente.
Kẹ́kọ́, v. Aprender, receber instrução.
Kọ́, v. Estudar, aprender, ensinar, educar.
Mọ̀, v. Saber, compreender. Conhecer, reconhecer.
Láì, prep. Sem, não. Usado como prefixo negativo das palavras.
Àì, láì, pref. neg. Sem, carecer de.
Aláì, pref. neg.





O pior analfabeto é o analfabeto midiático


“Ele imagina que tudo pode ser compreendido sem o mínimo esforço intelectual”. Reflexões do jornalista Celso Vicenzi em torno de poema de Brecht, no século 21

Celso Vicenzi, no Outras Palavras
Ele ouve e assimila sem questionar, fala e repete o que ouviu, não participa dos acontecimentos políticos, aliás, abomina a política, mas usa as redes sociais com ganas e ânsias de quem veio para justiçar o mundo. Prega ideias preconceituosas e discriminatórias, e interpreta os fatos com a ingenuidade de quem não sabe quem o manipula. Nas passeatas e na internet, pede liberdade de expressão, mas censura e ataca quem defende bandeiras políticas. Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas. E que elas – na era da informação instantânea de massa – são muito influenciadas pela manipulação midiática dos fatos.
Não vê a pressão de jornalistas e colunistas na mídia impressa, em emissoras de rádio e tevê – que também estão presentes na internet – a anunciar catástrofes diárias na contramão do que apontam as estatísticas mais confiáveis. Avanços significativos são desprezados e pequenos deslizes são tratados como se fossem enormes escândalos. O objetivo é desestabilizar e impedir que políticas públicas de sucesso possam ameaçar os lucros da iniciativa privada. O mesmo tratamento não se aplica a determinados partidos políticos e a corruptos que ajudam a manter a enorme desigualdade social no país.
Questões iguais ou semelhantes são tratadas de forma distinta pela mídia. Aula prática: prestar atenção como a mídia conduz o noticiário sobre o escabroso caso que veio à tona com as informações da alemã Siemens. Não houve nenhuma indignação dos principais colunistas, nenhum editorial contundente. A principal emissora de TV do país calou-se por duas semanas após matéria de capa da revista IstoÉ denunciando o esquema de superfaturar trens e metrôs em 30%.
jornal nacional analfabeto midiático
Bancada do Jornal Nacional (Divulgação)
O analfabeto midiático é tão burro que se orgulha e estufa o peito para dizer que viu/ouviu a informação no Jornal Nacional e leu na Veja, por exemplo. Ele não entende como é produzida cada notícia: como se escolhem as pautas e as fontes, sabendo antecipadamente como cada uma delas vai se pronunciar. Não desconfia que, em muitas tevês, revistas e jornais, a notícia já sai quase pronta da redação, bastando ouvir as pessoas que vão confirmar o que o jornalista, o editor e, principalmente, o “dono da voz” (obrigado, Chico Buarque!) quer como a verdade dos fatos. Para isso as notícias se apoiam, às vezes, em fotos e imagens. Dizem que “uma foto vale mais que mil palavras”. Não é tão simples (Millôr, ironicamente, contra-argumentou: “então diga isto com uma imagem”). Fotos e imagens também são construções, a partir de um determinado olhar. Também as imagens podem ser manipuladas e editadas “ao gosto do freguês”. Há uma infinidade de exemplos. Usaram-se imagens para provar que o Iraque possuía depósitos de armas químicas que nunca foram encontrados. A irresponsabilidade e a falta de independência da mídia norte-americana ajudaram a convencer a opinião pública, e mais uma guerra com milhares de inocentes mortos foi deflagrada.
  • O analfabeto midiático não percebe que o enfoque pode ser uma escolha construída para chegar a conclusões que seriam diferentes se outras fontes fossem contatadas ou os jornalistas narrassem os fatos de outro ponto de vista. O analfabeto midiático imagina que tudo pode ser compreendido sem o mínimo de esforço intelectual. Não se apoia na filosofia, na sociologia, na história, na antropologia, nas ciências política e econômica – para não estender demais os campos do conhecimento – para compreender minimamente a complexidade dos fatos. Sua mente não absorve tanta informação e ele prefere acreditar em “especialistas” e veículos de comunicação comprometidos com interesses de poderosos grupos políticos e econômicos. Lê pouquíssimo, geralmente “best-sellers” e livros de autoajuda. Tem certeza de que o que lê, ouve e vê é o suficiente, e corresponde à realidade. Não sabe o imbecil que da sua ignorância política nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos que é o político vigarista, pilantra, o corrupto e o espoliador das empresas nacionais e multinacionais.”

O analfabeto midiático gosta de criticar os políticos corruptos e não entende que eles são uma extensão do capital, tão necessários para aumentar fortunas e concentrar a renda. Por isso recebem todo o apoio financeiro para serem eleitos. E, depois, contribuem para drenar o dinheiro do Estado para uma parcela da iniciativa privada e para os bolsos de uma elite que se especializou em roubar o dinheiro público. Assim, por vias tortas, só sabe enxergar o político corrupto sem nunca identificar o empresário corruptor, o detentor do grande capital, que aprisiona os governos, com a enorme contribuição da mídia, para adotar políticas que privilegiam os mais ricos e mantenham à margem as populações mais pobres. Em resumo: destroem a democracia.
Para o analfabeto midiático, Brecht teria, ainda, uma última observação a fazer: Nada é impossível de mudar. Desconfiai do mais trivial, na aparência singelo. E examinai, sobretudo, o que parece habitual.
O analfabeto político
O pior analfabeto, é o analfabeto político.
Ele não ouve, não fala, não participa dos acontecimentos políticos.
Ele não sabe que o custo de vida,
O preço do feijão, do peixe, da farinha
Do aluguel, do sapato e do remédio
Depende das decisões políticas.
O analfabeto político é tão burro que
Se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia política.
Não sabe o imbecil,
Que da sua ignorância nasce a prostituta,
O menor abandonado,
O assaltante e o pior de todos os bandidos
Que é o político vigarista,
Pilanta, o corrupto e o espoliador
Das empresas nacionais e multinacionais.
Bertold Brecht