Ìdálẹ́bi ikú ní ilẹ̀ Indonésíà àti Bràsíl.
Pena de morte na Indonésia e no Brasil.
Àkójọ́pọ̀ Itumọ̀ (Glossário).
Ìwé gbédègbéyọ̀ (Vocabulário).
Ìdálẹ́bi, s. Condenação, reprovação, convicção.
Ọ̀rọ̀ ìdájọ́, s. pena, condenação.
Ikú, s. Morte.
Ní, prep. No, na, em.
Ilẹ̀, s. Terra, solo, chão
Indonésíà, s. Indonésia.
Bràsíl, s. Brasil.
1. Presidente indonésio rejeita pedido de Dilma para não executar brasileiros.
A Presidenta Dilma reiterou lamentar profundamente a decisão do Presidente Widodo de levar adiante a execução do brasileiro Marcos Archer, que vai gerar comoção no Brasil e terá repercussão negativa para a relação bilateral."
2 - Criança negra de 11 anos é condenada à pena de morte no Brasil. Porém, não houve sensibilidade e nem pedido de clemência por parte do governo brasileiro para essa criança e nem para os demais jovens negros (82 por dia) que serão executados pela polícia militar brasileira.
Bem vindo, 2015.
Sinceramente gostaria de um ano novo! na manhã desta última quinta feira, no Méier, zona norte do Rio de Janeiro, Patrick Ferreira de Queiroz, 11 anos, foi morto pela polícia. Ele completaria 12 anos no próximo sábado.
O caso foi registrado como auto de resistência. Segundo os policiais, na mochila de Patrick encontraram dinheiro, drogas, uma pistola e um rádio transmissor. Segundo Daniel de Queiroz, pai de Patrick, seu filho nunca esteve envolvido no tráfico, era medroso e estava matriculado na escola.
Boa parte dos jornais e rádios trataram do assunto no dia de hoje. O debate foi marcado fundamentalmente sobre a possibilidade de Patrick estar ou não envolvido com o tráfico. Isso de alguma maneira poderia nos trazer certo conforto ou naturalização perante mais uma morte?
Inacreditável!!!!!! Estamos diante de uma tragédia! Sim, uma TRAGÉDIA!!!!! Tragédia na manchete do jornal Extra que já crava a condenação do menino como traficante, tragédia na centralidade do debate sobre o envolvimento ou não do menino com o crime. Se Patrick estava no trafico temos uma tragédia, se ele não estava e foi morto temos uma tragédia, se os policiais forjaram o auto de resistência temos uma tragédia, se ele foi confundido e morto temos uma tragédia. Não existe possibilidade do caso ser tratado com qualquer grau de normalidade. Estamos falando de uma criança de 11 anos de idade.É isso! uma criança de 11 anos de idade perdeu a vida desta forma. Na sua mochila deveria ter livros, lápis, caderno e sonhos.
No último mapa da violência, registramos 56 mil homicídios no ano, dos quais 30 mil são de jovens, sendo que 77% desses são negros. Vivemos um genocídio sobre a população jovem e negra. Esse debate não pode continuar sendo secundário diante da criminalização das vitimas como forma de se naturalizar a barbárie. Lembro perfeitamente de uma mãe que certo dia entrou na comissão de direitos humanos da ALERJ, olhou nos meus olhos e disse " mataram o meu filho e ele nem era bandido". Na hora não sabia o que dizer para aquela pessoa completamente destruída. O que ela queria me dizer é que se fosse bandido, ela não estaria ali. Triste, muito triste.
Sinceramente, acho muito pouco provável que consigamos esclarecer o que realmente aconteceu nesta manhã de quinta. Fato é que perdemos mais uma criança para a barbárie, mais uma vida. Perdemos também a chance de darmos um trato mais digno ao assunto, olharmos de forma mais pedagógica e menos criminalizadora da pobreza. Talvez o maior problema do mundo hoje não seja o da ameaça à liberdade de expressão, mas o da nossa responsabilidade diante desta "liberdade". O mundo vai além do que cabe nas páginas dos nossos jornais. Que venha 2015.
Por Marcelo Freixo
3. Não há sensibilidade e nem pedido de clemência por parte do governo brasileiro para os indígenas que serão executados por pena de morte no Brasil.
NOTA PÚBLICA DA ATY GUASU É PARA TODAS AUTORIDADES NACIONAIS E INTERNACIONAIS
mulheres kaiowas
foto: solidariedadeguaranikaiowa
Esta nota da Aty Guasu Guarani e Kaiowa visa destacar as formas de julgamento e a condenação dos integrantes dos povos indígenas no Brasil pela outra “justiça financiada” dos fazendeiros e, sobretudo condenação das lideranças indígenas de frente pelos pistoleiros dos anti-indígenas, os fazendeiros, políticos, etc. Essas condenações foram e são promovidas pela outra “justiça” só dos fazendeiros no atual Brasil que já julgaram, condenaram e ainda condenam os povos e as lideranças indígenas à pena da morte e genocida no Brasil. Essa condenação histórica dos povos indígenas do atual Estado da Bahia e do litoral às mortes já foi registrada como o maior genocida da história da humanidade que perdura até os dias de hoje. Os mandantes e autores desse maior genocida da humanidade não são punidos pela justiça nacional e internacional.
Em primeiro lugar destacamos que os julgamentos e as condenações dessa outra “justiça” dos fazendeiros são mais céleres do que Justiça Federal e Tribunais Federais normais do Brasil, por exemplo, no Estado da Bahia, nos últimos quinze dias, os pistoleiros contratados através dessa outra justiça dos fazendeiros começaram a julgar e condenar os integrantes de povo Tupinambá e quaisquer índios no Estado da Bahia-Brasil. Como revela a sessão de interrogatório dos pistoleiros em que foi submetido um professor indígena universitário, após incendiar o carro oficial do governo federal, os pistoleiros começaram a interrogar o professor indígena, na mira da arma de fogo.
Pistoleiros de outra justiça dos fazendeiros interrogam assim:
Você é índio, né?
- Sou Kayapó, não sou daqui da Bahia.
Mas você é índio, né?
-Sou, sou Kayapó, sou da amazônia.
O que você tá fazendo aqui?
- Sou professor do IFBA, trabalho na Licenciatura Intercultural Indígena.
Você é amigo deles.
Você está preparado pra morrer?
- (silencio)
(barulho do gatilho da arma…Não disparou)
Vá embora, nem olhe para trás”.
De forma igual, os pistoleiros das fazendas condenam à genocida e pena da morte os povos indígenas Guarani e Kaiowá no Estado de Mato Grosso do Sul.
Uma liderança Guarani e Kaiowa, em maio de 2012 foi interrogado pelos pistoleiros das fazendas na mira da arma de fogo.
Líder Tonico Benites Guarani Kaiowa relata à polícia federal assim:
Hoje de manhã, sexta-feira [06/04/2012], às 10h20, na estrada pública, um homem não índio, com dois revólveres na mão cercou a estrada e me mandou parar o carro, pedindo para eu descer dele.
O homem começou a me interrogar. O que veio fazer por aqui?!, conta? Hoje vamos conversar seriamente!”
Respondi: “Vim visitar meus parentes aqui na aldeia”.
Ele falou: “É só isso?” respondi que sim. O homem, ao ouvir o choro da criança e mulher, falou-me naturalmente: “Você tem filhos e esposa, né? Gosta dela e de teus filhos? hein?! fala?” Respondi que sim.
Então ele passou me ameaçar: “Você vai perder tudo, ela que você ama e filhos que gosta, vai perder, Vai perder carro. Vai perder dinheiro. Tudo você vai perder. Você quer perder tudo? Você quer perder tudo?”, ele repetiu várias vezes essas pergunta. Respondi: “Não! ”
Pediu-me várias vezes para não voltar mais àquela aldeia e região. “Se você promete que nunca mais vai voltar por aqui vou soltar você vivo. Respondi: “Sim, sim!”.
Ele falou: “Não estou não sozinho não”; “SOMOS MUITOS”.
Ele julgou-me: “Você não está fazendo o trabalho que presta, sabia não? Invadindo fazendas!”, referindo-se à luta pela recuperação da terra indígena e pesquisa antropológica.
Pediu para eu não contar para autoridade, não! Ele me falou: “Vai embora daqui! Nunca mais quero ver você por aqui.” Por último, disse: “Vou ficar de olho em você, hein?!”. E tirou o dedo do gatilho do revolver.
Lamentamos muito que, nos últimos trintas anos, centenas de lideranças dos povos indígenas Guarani e Kaiowa, Tupinamba, Terena, entre outras foram interrogadas e condenadas à morte de forma imediata pelos pistoleiros vinculados à outra “justiça” dos fazendeiros, isto é, o gatilho da arma de fogo foi covardemente apertado em direção das vidas das lideranças indígenas na frente de suas comunidades.
Os integrantes da comunidade Guarani e Kaiowa liderada pelo cacique Nisio Gomes lembram em detalhe as formas de interrogação e condenação à pena da morte do Nisio realizadas pelos pistoleiros das fazendas, no dia 18 de novembro de 2011, às 06h30min no tekoha Guaiviry-Aral Moreira-MS-Brasil. Um das testemunhas reproduz a pergunta dos pistoleiros e a resposta do cacique Nisio Gomes. Segue os trechos.
Chegaram vários os pistoleiros armados à barraca do cacique Nisio, pegaram e interrogaram e condenaram à morte o nosso cacique em nossa frente.
Nas miras de várias armas de fogo, um pistoleiro perguntou: “você é o cacique Nisio?” Nisio respondeu: “Sim, eu mesmo sou cacique Nisio”, “o que vocês querem comigo?” perguntou o Nisio. Um pistoleiro falou: “Vimos matar você e expulsar todos os índios daqui, agora”. “Já avisamos bem você antes, quando invadisse as fazendas você iria morrer”. Diante disso, nosso cacique Nisio respondeu: “Sim, voltei a minha terra para morrer, pode me matar, mas não matem todas minhas crianças, elas precisam viver”. Nesse momento, um homem pediu ao Cacique Nisio a se render e ficasse parado na frente das famílias e comunidade. Um homem começou a falar para nós, assim: “todos os índios daqui vão morrer”, “vocês têm que sair correndo agora daqui”. Cacique Nisio antes de morrer, pediu: “não é para abandonar a nossa terra”. Essa é última palavra que cacique Nisio pediu. Nisio queria falar mais, mas um homem julgou, condenou e ordenou a matar o cacique Nisio, o condenando: “Atira logo! Atira! Mata! Mata logo!”. “Um homem atirou e acertou bem no peito e na cabeça do Nisio Gomes”. “Assim, os pistoleiros condenaram e assassinaram o nosso cacique Nisio em nossa frente”. “Na sequencia, passaram a atirar sem parar em direção das crianças, mulheres, idosos (as), no momento em que arrastaram o corpo do cacique Nisio e carregaram na caminhonete e foram embora”. “Até hoje, não foi encontrado o corpo do nosso cacique”.
Importa destacar que outras lideranças Guarani e Kaiowa sofreram e foram pegos interrogados e assassinados pelos pistoleiros das fazendas, de modo similar ao cacique Nisio Gomes, como as lideranças Guarani e Kaiowa Marçal Tupã’i, Marco Veron, Dorival Benites, Dorvalino Rocha, Genivaldo Vera, Rolindo Vera, Samuel Martins, Xurite Lopes, Ortiz Lopes, entre outras lideranças dos povos indígenas no Brasil. Mais uma vez, pedimos à Justiça Federal normal do Brasil a o julgamento e punição aos pistoleiros assassinos dos líderes indígenas no Brasil.
Em geral, as comunidades indígenas no Brasil são condenadas à genocida e as lideranças foram condenadas à pena da morte por lutar pela recuperação de terras indígenas tradicionais. É mais lamentável que a Justiça Federal normal do Brasil não julga os fazendeiros mandantes e os pistoleiros dessa outra “justiça ilegal” dos fazendeiros e anti-indígenas que a década atua e opera em todas as partes do Brasil, condenando os povos indígenas à genocida no Brasil.
Mais uma vez, repudiamos a ação genocida dos pistoleiros das fazendas no Brasil.
Aguardamos a posição urgente da Justiça Federal normal do Brasil frente à atuação dos pistoleiros vinculada á outra justiça ilegal dos anti-indígenas contra o povo Tupinamba, Guarani, Kaiowá, Terena, Kadweu, etc.
Aty Guasu – Grande Assembleia Guarani-Kaiowá, Dourados, MS, jul/2013. Foto: Egon Heck/Cimi
Atenciosamente,
Tekoha Guasu Guaranie Kaiowa, 08 de setembro de 2013
Aty Guasu contra o genocídio
Pena de morte na Indonésia e no Brasil.
Àkójọ́pọ̀ Itumọ̀ (Glossário).
Ìwé gbédègbéyọ̀ (Vocabulário).
Ìdálẹ́bi, s. Condenação, reprovação, convicção.
Ọ̀rọ̀ ìdájọ́, s. pena, condenação.
Ikú, s. Morte.
Ní, prep. No, na, em.
Ilẹ̀, s. Terra, solo, chão
Indonésíà, s. Indonésia.
Bràsíl, s. Brasil.
1. Presidente indonésio rejeita pedido de Dilma para não executar brasileiros.
A Presidenta Dilma reiterou lamentar profundamente a decisão do Presidente Widodo de levar adiante a execução do brasileiro Marcos Archer, que vai gerar comoção no Brasil e terá repercussão negativa para a relação bilateral."
2 - Criança negra de 11 anos é condenada à pena de morte no Brasil. Porém, não houve sensibilidade e nem pedido de clemência por parte do governo brasileiro para essa criança e nem para os demais jovens negros (82 por dia) que serão executados pela polícia militar brasileira.
Bem vindo, 2015.
Sinceramente gostaria de um ano novo! na manhã desta última quinta feira, no Méier, zona norte do Rio de Janeiro, Patrick Ferreira de Queiroz, 11 anos, foi morto pela polícia. Ele completaria 12 anos no próximo sábado.
O caso foi registrado como auto de resistência. Segundo os policiais, na mochila de Patrick encontraram dinheiro, drogas, uma pistola e um rádio transmissor. Segundo Daniel de Queiroz, pai de Patrick, seu filho nunca esteve envolvido no tráfico, era medroso e estava matriculado na escola.
Boa parte dos jornais e rádios trataram do assunto no dia de hoje. O debate foi marcado fundamentalmente sobre a possibilidade de Patrick estar ou não envolvido com o tráfico. Isso de alguma maneira poderia nos trazer certo conforto ou naturalização perante mais uma morte?
Inacreditável!!!!!! Estamos diante de uma tragédia! Sim, uma TRAGÉDIA!!!!! Tragédia na manchete do jornal Extra que já crava a condenação do menino como traficante, tragédia na centralidade do debate sobre o envolvimento ou não do menino com o crime. Se Patrick estava no trafico temos uma tragédia, se ele não estava e foi morto temos uma tragédia, se os policiais forjaram o auto de resistência temos uma tragédia, se ele foi confundido e morto temos uma tragédia. Não existe possibilidade do caso ser tratado com qualquer grau de normalidade. Estamos falando de uma criança de 11 anos de idade.É isso! uma criança de 11 anos de idade perdeu a vida desta forma. Na sua mochila deveria ter livros, lápis, caderno e sonhos.
No último mapa da violência, registramos 56 mil homicídios no ano, dos quais 30 mil são de jovens, sendo que 77% desses são negros. Vivemos um genocídio sobre a população jovem e negra. Esse debate não pode continuar sendo secundário diante da criminalização das vitimas como forma de se naturalizar a barbárie. Lembro perfeitamente de uma mãe que certo dia entrou na comissão de direitos humanos da ALERJ, olhou nos meus olhos e disse " mataram o meu filho e ele nem era bandido". Na hora não sabia o que dizer para aquela pessoa completamente destruída. O que ela queria me dizer é que se fosse bandido, ela não estaria ali. Triste, muito triste.
Sinceramente, acho muito pouco provável que consigamos esclarecer o que realmente aconteceu nesta manhã de quinta. Fato é que perdemos mais uma criança para a barbárie, mais uma vida. Perdemos também a chance de darmos um trato mais digno ao assunto, olharmos de forma mais pedagógica e menos criminalizadora da pobreza. Talvez o maior problema do mundo hoje não seja o da ameaça à liberdade de expressão, mas o da nossa responsabilidade diante desta "liberdade". O mundo vai além do que cabe nas páginas dos nossos jornais. Que venha 2015.
Por Marcelo Freixo
3. Não há sensibilidade e nem pedido de clemência por parte do governo brasileiro para os indígenas que serão executados por pena de morte no Brasil.
NOTA PÚBLICA DA ATY GUASU É PARA TODAS AUTORIDADES NACIONAIS E INTERNACIONAIS
mulheres kaiowas
foto: solidariedadeguaranikaiowa
Esta nota da Aty Guasu Guarani e Kaiowa visa destacar as formas de julgamento e a condenação dos integrantes dos povos indígenas no Brasil pela outra “justiça financiada” dos fazendeiros e, sobretudo condenação das lideranças indígenas de frente pelos pistoleiros dos anti-indígenas, os fazendeiros, políticos, etc. Essas condenações foram e são promovidas pela outra “justiça” só dos fazendeiros no atual Brasil que já julgaram, condenaram e ainda condenam os povos e as lideranças indígenas à pena da morte e genocida no Brasil. Essa condenação histórica dos povos indígenas do atual Estado da Bahia e do litoral às mortes já foi registrada como o maior genocida da história da humanidade que perdura até os dias de hoje. Os mandantes e autores desse maior genocida da humanidade não são punidos pela justiça nacional e internacional.
Em primeiro lugar destacamos que os julgamentos e as condenações dessa outra “justiça” dos fazendeiros são mais céleres do que Justiça Federal e Tribunais Federais normais do Brasil, por exemplo, no Estado da Bahia, nos últimos quinze dias, os pistoleiros contratados através dessa outra justiça dos fazendeiros começaram a julgar e condenar os integrantes de povo Tupinambá e quaisquer índios no Estado da Bahia-Brasil. Como revela a sessão de interrogatório dos pistoleiros em que foi submetido um professor indígena universitário, após incendiar o carro oficial do governo federal, os pistoleiros começaram a interrogar o professor indígena, na mira da arma de fogo.
Pistoleiros de outra justiça dos fazendeiros interrogam assim:
Você é índio, né?
- Sou Kayapó, não sou daqui da Bahia.
Mas você é índio, né?
-Sou, sou Kayapó, sou da amazônia.
O que você tá fazendo aqui?
- Sou professor do IFBA, trabalho na Licenciatura Intercultural Indígena.
Você é amigo deles.
Você está preparado pra morrer?
- (silencio)
(barulho do gatilho da arma…Não disparou)
Vá embora, nem olhe para trás”.
De forma igual, os pistoleiros das fazendas condenam à genocida e pena da morte os povos indígenas Guarani e Kaiowá no Estado de Mato Grosso do Sul.
Uma liderança Guarani e Kaiowa, em maio de 2012 foi interrogado pelos pistoleiros das fazendas na mira da arma de fogo.
Líder Tonico Benites Guarani Kaiowa relata à polícia federal assim:
Hoje de manhã, sexta-feira [06/04/2012], às 10h20, na estrada pública, um homem não índio, com dois revólveres na mão cercou a estrada e me mandou parar o carro, pedindo para eu descer dele.
O homem começou a me interrogar. O que veio fazer por aqui?!, conta? Hoje vamos conversar seriamente!”
Respondi: “Vim visitar meus parentes aqui na aldeia”.
Ele falou: “É só isso?” respondi que sim. O homem, ao ouvir o choro da criança e mulher, falou-me naturalmente: “Você tem filhos e esposa, né? Gosta dela e de teus filhos? hein?! fala?” Respondi que sim.
Então ele passou me ameaçar: “Você vai perder tudo, ela que você ama e filhos que gosta, vai perder, Vai perder carro. Vai perder dinheiro. Tudo você vai perder. Você quer perder tudo? Você quer perder tudo?”, ele repetiu várias vezes essas pergunta. Respondi: “Não! ”
Pediu-me várias vezes para não voltar mais àquela aldeia e região. “Se você promete que nunca mais vai voltar por aqui vou soltar você vivo. Respondi: “Sim, sim!”.
Ele falou: “Não estou não sozinho não”; “SOMOS MUITOS”.
Ele julgou-me: “Você não está fazendo o trabalho que presta, sabia não? Invadindo fazendas!”, referindo-se à luta pela recuperação da terra indígena e pesquisa antropológica.
Pediu para eu não contar para autoridade, não! Ele me falou: “Vai embora daqui! Nunca mais quero ver você por aqui.” Por último, disse: “Vou ficar de olho em você, hein?!”. E tirou o dedo do gatilho do revolver.
Lamentamos muito que, nos últimos trintas anos, centenas de lideranças dos povos indígenas Guarani e Kaiowa, Tupinamba, Terena, entre outras foram interrogadas e condenadas à morte de forma imediata pelos pistoleiros vinculados à outra “justiça” dos fazendeiros, isto é, o gatilho da arma de fogo foi covardemente apertado em direção das vidas das lideranças indígenas na frente de suas comunidades.
Os integrantes da comunidade Guarani e Kaiowa liderada pelo cacique Nisio Gomes lembram em detalhe as formas de interrogação e condenação à pena da morte do Nisio realizadas pelos pistoleiros das fazendas, no dia 18 de novembro de 2011, às 06h30min no tekoha Guaiviry-Aral Moreira-MS-Brasil. Um das testemunhas reproduz a pergunta dos pistoleiros e a resposta do cacique Nisio Gomes. Segue os trechos.
Chegaram vários os pistoleiros armados à barraca do cacique Nisio, pegaram e interrogaram e condenaram à morte o nosso cacique em nossa frente.
Nas miras de várias armas de fogo, um pistoleiro perguntou: “você é o cacique Nisio?” Nisio respondeu: “Sim, eu mesmo sou cacique Nisio”, “o que vocês querem comigo?” perguntou o Nisio. Um pistoleiro falou: “Vimos matar você e expulsar todos os índios daqui, agora”. “Já avisamos bem você antes, quando invadisse as fazendas você iria morrer”. Diante disso, nosso cacique Nisio respondeu: “Sim, voltei a minha terra para morrer, pode me matar, mas não matem todas minhas crianças, elas precisam viver”. Nesse momento, um homem pediu ao Cacique Nisio a se render e ficasse parado na frente das famílias e comunidade. Um homem começou a falar para nós, assim: “todos os índios daqui vão morrer”, “vocês têm que sair correndo agora daqui”. Cacique Nisio antes de morrer, pediu: “não é para abandonar a nossa terra”. Essa é última palavra que cacique Nisio pediu. Nisio queria falar mais, mas um homem julgou, condenou e ordenou a matar o cacique Nisio, o condenando: “Atira logo! Atira! Mata! Mata logo!”. “Um homem atirou e acertou bem no peito e na cabeça do Nisio Gomes”. “Assim, os pistoleiros condenaram e assassinaram o nosso cacique Nisio em nossa frente”. “Na sequencia, passaram a atirar sem parar em direção das crianças, mulheres, idosos (as), no momento em que arrastaram o corpo do cacique Nisio e carregaram na caminhonete e foram embora”. “Até hoje, não foi encontrado o corpo do nosso cacique”.
Importa destacar que outras lideranças Guarani e Kaiowa sofreram e foram pegos interrogados e assassinados pelos pistoleiros das fazendas, de modo similar ao cacique Nisio Gomes, como as lideranças Guarani e Kaiowa Marçal Tupã’i, Marco Veron, Dorival Benites, Dorvalino Rocha, Genivaldo Vera, Rolindo Vera, Samuel Martins, Xurite Lopes, Ortiz Lopes, entre outras lideranças dos povos indígenas no Brasil. Mais uma vez, pedimos à Justiça Federal normal do Brasil a o julgamento e punição aos pistoleiros assassinos dos líderes indígenas no Brasil.
Em geral, as comunidades indígenas no Brasil são condenadas à genocida e as lideranças foram condenadas à pena da morte por lutar pela recuperação de terras indígenas tradicionais. É mais lamentável que a Justiça Federal normal do Brasil não julga os fazendeiros mandantes e os pistoleiros dessa outra “justiça ilegal” dos fazendeiros e anti-indígenas que a década atua e opera em todas as partes do Brasil, condenando os povos indígenas à genocida no Brasil.
Mais uma vez, repudiamos a ação genocida dos pistoleiros das fazendas no Brasil.
Aguardamos a posição urgente da Justiça Federal normal do Brasil frente à atuação dos pistoleiros vinculada á outra justiça ilegal dos anti-indígenas contra o povo Tupinamba, Guarani, Kaiowá, Terena, Kadweu, etc.
Aty Guasu – Grande Assembleia Guarani-Kaiowá, Dourados, MS, jul/2013. Foto: Egon Heck/Cimi
Atenciosamente,
Tekoha Guasu Guaranie Kaiowa, 08 de setembro de 2013
Aty Guasu contra o genocídio