segunda-feira, 23 de março de 2015

Fídíò lórí àwọn òrìṣà


Òjíṣẹ́ ti àwọn Òrìṣà.
O mensageiro dos Orixás.
                                                      

domingo, 22 de março de 2015

Epistemologia (ọ̀rọ̀-ìjìnlẹ̀)


Aṣeláàkàyè, ìṣeìrírí àti ìṣeàgbéwò.
Racionalismo, empirismo e criticismo.



1- Aṣeláàkàyè (Racionalismo): René Descartes.



          Para o racionalismo,  a razão é a fonte principal do conhecimento. O conhecimento sensível é considerado enganador. Por isso, as representações da razão são as mais certas e as únicas que podem conduzir ao  conhecimento logicamente necessário e universalmente válido.

        A razão é capaz de conhecer a estrutura da realidade a partir de princípios puros da própria razão. A ordenação lógica do mundo permite compreender a sua estrutura de forma dedutiva. O racionalismo segue, neste aspecto, o modelo matemático de dedução a partir de um reduzido número de axiomas.
         A partir de Descartes, o conhecimento não está mais gravado no mundo, mas seu lugar é na consciência do sujeito pensante enquanto representação e  adequação entre a “coisa” (mundo) e o pensamento (o cogito). No racionalismo de Descartes,  duvidar é  pensar e, também,  condição para a existência - penso, logo existo.
         A subjetividade em Descartes alcança um status, um grau de autonomia e liberdade para com a realidade exterior, tornando-se, então, o modo privilegiado para pensar o sujeito e também o mundo.

2. Aṣeonirírí, ìṣeìrírí (empirismo): Francis Bacon, John Locke, David Hume.

Resultado de imagem para empirismo na filosofia

        Para o empirismo, o ponto de partida para a reflexão humana está em considerar que todo conhecimento que se refere ao mundo começaria com a experiência, fundando-se na percepção. A experiência é a fonte de todo o conhecimento, mas também o seu limite. Os empiristas negam a existência de ideias inatas, como defendiam Platão e Descartes. A mente está vazia antes de receber qualquer tipo de informação proveniente dos sentidos. Todo o conhecimento sobre as coisas, mesmo aquele em que  se elabora leis universais, provém da experiência, por isso mesmo, só é válido dentro dos limites do observável.
       Os empiristas reservam para a razão, a função de  mera organização de dados da experiência sensível, sendo as ideias ou conceitos da razão simples cópias ou combinações de  dados provenientes da experiência. O pensador chama tais regras de associação de ideias, onde as ideias seriam associadas por contiguidade, semelhança e causalidade, transformando a relação de causalidade no principal elemento de todo o conhecimento no que se refere às questões de fato.




3.  Ìṣeàgbéwò (criticismo): Kant.




           Para o Criticismo todo o conhecimento inicia-se com a experiência, mas este é organizado pelas estruturas a priori do sujeito (espaço-tempo, causalidade, substância e atributos). Segundo Kant, só conhecemos o fenômeno - síntese dos dados da nossa sensibilidade  e daquilo que o nosso entendimento produz por si (conceitos). O conhecimento nunca é das coisas "em si", mas das coisas "em nós".

        Sobre a questão -"o que podemos conhecer?"  Ao contrário dos empiristas, afirmou que a mente humana não era uma "folha em branco", mas constituída por um conjunto de estruturas inatas que recebiam, filtravam, davam forma e interpretavam as impressões externas. Observa-se que o sujeito seria constituído de uma estrutura racional dotada de formas a priori da sensibilidade (espaço e tempo) e da razão pura (causalidade, substância e atributos) que indicaria aquilo que o homem poderia ou não conhecer.

sábado, 21 de março de 2015

OEA

Àgbájọ ilẹ̀ àwọn Orílẹ̀-èdè Amẹ́ríkà.
Organização dos Estados Americanos.


20 DE MARÇO DE 2015 • 19H40DESTAQUE

Brasil reconhece extermínio da juventude negra em audiência na OEA

- Relatora da OEA diz que redução da maioridade penal é retrocesso.
aud1Nesta sexta-feira, 20/03, em audiência temática na Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) da Organização dos Estados Americanos (OEA) sobre assassinato de jovens negros no Brasil, representantes do Governo brasileiro admitiram o cenário de extermínio no país.
O Secretário de Políticas de Ações Afirmativas da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, Ronaldo Crispim Sena Barros, assumiu que “o Governo Federal avalia que parte da elevada taxa de homicídio dos jovens negros deve ser atribuída ao racismo”. O país registra homicídio de 30 mil jovens por ano, segundo dados do Mapa da Violência 2014, dessas mortes quase 80% das vítimas eram negras.
Embora tenha reconhecido o extermínio, durante a audiência, realizada à pedido da Anced/Seção DCI – Associação Nacional dos Centros de Defesa dos Direitos da Criança e Adolescente, o Estado se calou quando foram apresentadas graves denúncias de violações de direitos humanos relacionadas ao sistema socioeducativo, como os casos nos estados do Maranhão, Ceará e Pernambuco, que envolvem desde adolescentes feridos com armas de fogo dentro das unidades, incluindo maus tratos e torturas.
Outro ponto abordado na audiência foi o desarquivamento da PEC 171/93, que prevê a redução da maioridade penal, medida claramente contrária aos direitos humanos das crianças e adolescentes. A relatora para criança e adolescente da OEA, Rosa María Ortiz, ressaltou a necessidade do governo brasileiro em adotar medidas efetivas para evitar esse grande retrocesso. “Em lugar de retroceder, é necessário progredir na proteção dos direitos, sobretudo dos jovens, sobretudo dos jovens negros”, afirmou.
Além do encarceramento em massa de jovens negros no sistema socioeducativo, as organizações destacaram a necessidade de aprovação do PL 4471 que extingue o auto de resistência, principal argumento da polícia brasileira para assassinar jovens negros, principalmente nas periferias. Rosa-Marie Belle Antoine, relatora para os direitos das populações afrodescendentes, lembrou das recomendações já feitas pela ONU sobre a Polícia Militar e a institucionalização do racismo no Brasil e questionou quais as estratégias práticas que o Estado apresenta para reduzir as violações. A relatora, disse ainda para o Governo Brasileiro que “reconhecer o problema é uma coisa, evitar é outra”.
As organizações pediram à CIDH que reforce as recomendações do fim da polícia militar, pelo fim dos auto de resistência e contra a redução da maioridade penal.
Participaram da audiência representantes da Anced/Seção DCI, Justiça Global e Campanha Reaja ou Será Morta/ Quilombo X.
A audiência está disponível no link: https://www.youtube.com/watch?v=OF-_n_T9A2Y&t=1526
Assista também o vídeo apresentado no início da audiência com o depoimento de mães que tiveram seus filhos vitimados pela violência do Estado: https://www.youtube.com/watch?v=9lNssYcgYYA
COMPARTILHE

segunda-feira, 16 de março de 2015

Ser perfeito


        Jésù wí fún un pé: “Bí ìwọ bá fẹ́ jẹ́ pípé, lọ ta àwọn nǹkan ìní rẹ, kí o sì fi fún àwọn òtòṣì, ìwọ yóò sì ní ìṣúra ní ọ̀run, sì wá di ọmọlẹ́yìn mi.”
     Jesus disse-lhe: “Se queres ser perfeito, vai vender teus bens e dá aos pobres, e terás um tesouro no céu, e vem, sê meu seguidor.”



Àkójọ́pọ̀ Itumọ̀ (Glossário).
Ìwé gbédègbéyọ̀  (Vocabulário).


1 - Jésù wí fún un pé.
     Jesus disse-lhe.
     Jésù, s. Jesus.
          , v. Dizer, relatar. Engolir.
          Wífún, v. Dizer para.
          Fún, prep. Para, em nome de (indica uma intenção pretendida para alguém).
          Fún, v. Dar. Espremer, apertar, extrair. Espalhar, desperdiçar, empurrar para os outros. Espirrar, assoar.
          Fun, v. Ser branco. Soprar, ventar.
          Un, u, pron. da 3ª pessoa da singular representado pela repetição da vogal final do verbo. Os demais pronomes possuem formas definidas. Esse procedimento é conhecido como o caso objetivo  da 3ª pessoa
           Un, pron. dem. Aquele, aquela.
           Un, pron. pess. Eu. É pouco usado. Utilizado somente no tempo futuro dos verbos.
           Un, s. Forma reduzida de ohun - coisa, algo. Em algumas composições de palavras, un é ainda reduzida para n.
           Ún,  ẹ́n, adv. Sim.
           , conj. Que, para que, a fim de que. Usado depois de verbos que informam, que fazem uma declaração indireta.
           , adj. Completo, perfeito, exato.
           Pé, v. Encontrar, reunir, juntar. Dizer que, opinar, expressar uma opinião. Precisar, ser exato. Ser, estar completo.
           Péé, adv. Fixamente.

2 - Bí ìwọ bá fẹ́ jẹ́ pípé 
     Se queres ser perfeito.
     Bí...bá, v. aux. Se. Expressa uma condição indefinida.
          Ìwọ, o, pron. pess. Você.
          Fẹ́, v. Querer, desejar. Amar, gostar, casar. Soprar, ventar, abanar.
          Jẹ́, v. Ser. Concordar, permitir, admitir, arriscar-se a um empreendimento. Ser feito de, envolver. Responder, replicar. Chamar-se. ser chamado.
          Pípé, adj. Perfeito, completo. 
3 - Lọ ta àwọn nǹkan ìní rẹ, kí o sì fi fún àwọn òtòṣì. 
    Vai vender teus bens e dá aos pobres.

        Lọ, v. Quando for usadopara indicar um lugar, é seguido por - para. Se a palavra que indica o lugar iniciar por vogal, pode ser omitido.
        , v. Vender, expor à venda.
        Àwọn, wọn, pron. Eles elas.
        Nǹkan, ǹkan, ǹkankan, nkan, ohun kan, s. Coisa, algo.
        Ìní, s.  Propriedade, possessão
        Rẹ, ẹ, pron. poss. Seu, sua, de você    
        , conj. que. É a marca do subjuntivo e usada com verbo que expressa obrigação, desejo, permissão, geralmente com o verbo fẹ́ ( querer). Ex.: Mo fẹ́ kí o wá ( eu quero que você venha).
        conj. A fim de que, de modo que, com a intenção de.
        Kí, adv. Antes de. Ex.: kí èmi tó dé ( antes de eu chegar ).
        Kí, part. Qualquer. Usada entre duas palavras repetidas. Ex.: Ẹnikẹ́ni ( qualquer pessoa). 
        Kí, v. Cumprimentar, saudar, aclamar. Ex.: Mo kí i ( Eu o saudei).
        O, ìwọ, pron. pess. Você.
        , conj. pré-v.  E, além disso, também. Liga sentenças, porém, não liga substantivos; nesse caso, usar " àti". É posicionado depois do sujeito e antes do verbo.
        Fi, part. Usada como verbo simples, como parte de um verbo composto e para ênfase na composição de frases. Díẹ̀díẹ̀ ni ọjà fi nkún - Pouco a pouco o mercado encheu.
        Fi, v. 1. Pôr, colocar. É muito usado na composição de frases. 2. Usar, tomar, pegar para fazer. 3. Dar, oferecer. 4. Deixar de lado, desistir, abandonar. 5. Secar alguma coisa expondo-a ao calor.
        Fi, prep. Com, para. Antecede os substantivos que indicam o uso de instrumentos, meios e ingredientes materiais. Ó fi òkúta fọ́ dígí - Ele quebrou o espelho com uma pedra.
        , v. Balançar, oscilar, ser instável, rodopiar. Ó fì apá mi - Ele balançou meu braço.
        , v. Levar para fazer.
        Fún, prep. Para, em nome de (indica uma intenção pretendida para alguém).
        Fún, v. Dar. Espremer, apertar, extrair. Espalhar, desperdiçar, empurrar para os outros. Espirrar, assoar.
        Fun, v. Ser branco. Soprar, ventar.
       Àwọn, wọn, pron. Eles elas.
       Òtòṣì, s. Uma pessoa pobre e miserável.

4 - Ìwọ yóò sì ní ìṣúra ní ọ̀run, sì wá di ọmọlẹ́yìn mi.
     E terás um tesouro no céu, e vem, sê meu seguidor.

  Ìwọ, o, pron. pess. Você.
   Yóò, adv. Tempo futuro. Indicadores de futuro: yóò, yóó, ó, á, máa, fẹ́.
   , conj. pré-v.  E, além disso, também. Liga sentenças, porém, não liga substantivos; nesse caso, usar " àti". É posicionado depois do sujeito e antes do verbo.
   , partícula enfática. Usada na construção de frases, quando o verbo tiver dois objetos, o segundo objeto é precedido por " ".
   , prep. No, na, em. Usada para indicar o lugar em que alguma coisa está. Indica uma posição estática.
   , v. Ter, possuir, dizer.Transportar carga em um barco ou navio. Ocupar, obter, pegar.
   Ni, v.  Ser, é.
   Nì, pron. dem. Aquele, aquela. Requer alongamento da vogal final da palavra que o antecede somente na fala. Ex.: Fìlà ( a ) nì = aquele chapéu.
   Ìṣúra, s. Tesouro.
   Ọ̀run, s. Céu.
   , v. Vir. Procurar por, buscar, vasculhar. Tremer de nervoso. Dividir, partir em pequenos pedaços.
   , v. Ser, haver, existir, estar.
   , V. Cavar. Remar, dirigir. Abraçar, prender, apertar . Monopolizar.
   Wà, àwa, pron. pess. Você.
   Wa, pron. oblíquo. Nos, conosco. Possui função reflexiva e é posicionado depois de verbo e preposição.
   Wa, pron. poss. Nosso, nossa.
   Di, v. Tornar-se, vir a ser. Ir direto. Ensurdecer. Cultivar. 
   mọlẹ́yìn, s. Seguidor.
   Mi, pron. poss.  Meu, minha.
   Mi, pron. Oblíquo. Me, mim, comigo.
   Mi, pron. pess. Eu. Contração de èmi, para ser usado em frases negativas.

sábado, 14 de março de 2015

Cura

Ó wò mí sàn.
Ele tratou de mim.



Àkójọ́pọ̀ Itumọ̀ (Glossário).
Ìwé gbédègbéyọ̀  (Vocabulário).


Ó, òun, pron. pess. Ele, ela.
, v. Olhar para, assistir, observar. Pagar uma visita. Ter cuidado. Tratar de um doente.
Mi, pron. oblíquo. Me, mim, comigo.
Sàn, v. Curar. Ser melhor.
Ìwòsàn, s. Curandeiro, cura.

1- O que é cura?
             Fred Alan Wolf

      Em inglês, a palavra healing (cura), o sonho do médico em nos deixar bem de saúde, deriva da palavra whole (todo). Assim ser curado (healed) é ser totalizado (wholed), é formar uma unidade com o universo. Falamos de uma mão afetuosa, de um coração solidário. Solidariedade é um entendimento rítmico. Uma pessoa solidária sente o que a outra pessoa está sentindo. Talvez a cura seja uma harmonia de fase de nossas ondas quânticas. Quando estamos juntas com outras pessoas, nós intensificamos essa harmonia, à semelhança de dois pedaços de holograma que , quando reunidos, produzem uma imagem mais nítida.
     Segundo essa concepção, a doença nada mais é  que vibração fora de harmonia. A doença é criada da mesma maneira ue qualquer coisa é criada: ela surge do pensamento. Creio que os pensamentos "interferem" no universo, perturbam o universo. Entretanto, não deixe esses pensamentos perturbá-lo; na verdade, você não pode deixar de perturbar o universo. Esse é o único modo de aprender algo acerca dele. Assim, a doença é modo de aprender algo acerca de você mesmo.

2 - O antropólogo e sacerdote da religião afro, Fernandez Portugal Filho, defendeu a medicina yorùbá e disse que a indústria farmacêutica produz remédios que não curam.



PORTUGAL DEFENDE MEDICINA AFRO E CRÍTICA A INDUSTRIA DE MEDICAMENTOS.

Dando sequência ao debate sobre saúde afro que nosso jornal vem fazendo com personalidades ligadas à cultura negra, o antropólogo e sacerdote de religião afro, FERNANDEZ PORTUGAL FILHO, autor de “Formulário Mágico e Terapêutico”, Editora Madras – que traz informações preciosas sobre os remédios de cunho popular -, criticou enfaticamente a indústria farmacêutica mundial por produzir medicações sem eficiência no combate às doenças.
Sobre os laboratórios farmacêuticos, ele disse: “Eles foram criados, não para curar, mas para prolongar enfermidades, muitas pessoas morrem em virtude do acúmulo e uso indevido, de medicamentos. Na medicina tradicional, sobretudo a alopata, alguns médicos se converteram em garotos propaganda dos laboratórios”, enfatizou o sacerdote.
Acompanhem sua entrevista ao nosso jornal:

QUESTÔES NEGRAS – Como o senhor define a medicina africana?
FERNANDEZ PORTUGAL FILHO – Em primeiro lugar é bom que antes de responder esta pergunta, eu possa fazer alguns esclarecimentos a cerca do que os africanos entendem por medicina, na verdade nossos estudos estão voltados para a Tradicional Religião Yurùbá, que em seu bojo detém os conhecimentos da medicina yurùbá. Qualquer um de nós que tente classificar a extensão das relações entre medicina, doença e organização social na Nigéria, logo se dá conta, que nenhum aspecto da vida social e biológica pode ser excluído. Podemos definir que os yorùbá entendem que a medicina tradicional yorùbá, é a arte e a ciência de preservar e restaurar a saúde, através de recursos espirituais e forças naturais.

QN – Ela é apena se apoia no emprego de ervas?
PORTUGAL – Em busca da vida com excelência ou busca de cura, os yurùbá usam folhas, cascas, sementes, ossos, pauas, resinas, areia, pedras, metais, animais, crânios, lagartos, camaleões, etc. Sendo que a maioria dos elementos são utilizados em forma de pó, que pode ser adicionado, em ekó (espécie de mingau), bebida destilada ou no próprio alimento diário. Antes, porém é necessário que a pessoa vá uma consulta com um onisegun (médico tradicional) ou a um Bàbálawo que poderá fazer um diagnóstico através do Ifá e verificar quais são os males que afligem aquela pessoa, após o diagnóstico são preparados os elementos que levarão a pessoa a cura.

QN – Qual o papel das ervas?
PORTUGAL – As folhas tem papel preponderante, uma vez que elas são poderosos agentes benéficos da natureza. Mas, somente um conhecedor profundo poderá ministra-las conhecendo suas características, sua textura, odor e principalmente o principio ativo.

QN – Em muitos casos, a cultura ocidental vê esta medicina como um embuste. Como você vê este problema?
PORTUGAL – Tudo o que aparece de uma forma natural, e que vem do povo e principalmente do Continente Africano, na maioria das vezes é tratado como embuste. Isto se deve principalmente porque uma das maiores comparações financeiras no mundo são os laboratórios, eles foram criados, não para curar, mas para prolongar enfermidades, muitas pessoas morrem em virtude do acúmulo e uso indevido, de medicamentos. Na medicina tradicional, sobretudo a alopata, alguns médicos se converteram em garotos propaganda dos laboratórios, são reféns de uma situação, alguns para passar férias em Paris, a custa de um laboratório, são capazes de entupir os pacientes de medicamentos, quando não levam a cirurgias desnecessárias. Com isso, não quero dizer que toda a Tradicional Medicina Yorùbá é infalível, nem tampouco todos os medicamentos tradicionais são excelentes. Portanto é natural que um médico desavisado, possa afirmar que a medicina de Yorùbá seja um embuste, bem, é melhor que ele estude bem e não tire conclusões apressadas antes de falar.

QN – Você pode fazer uma comparação entre a medicina africana e ocidental? Como o meio ambiente é vista pela medicina africana?
PORTUGAL – Para o país mais populoso da chamada África Negra, existe uma quantidade enorme de problemas, mas pelo menos não nas áreas que conheci, os rios, cachoeiras e a mata como um todo, estavam preservados, não poderia ser de outra forma, uma vez que o habitat Yorùbá está relacionado à preservação desses bens e de sua continuidade, se for o contrário, a cultura dos Òrìsà, já haveria desaparecido.

QN – Em que casos ou doenças a medicina africana não deve ser recomendada?
PORTUGAL – A tradicional medicina Yorùbá, não é um placebo, tampouco ela tem a capacidade de tudo curar, algumas enfermidades de alta cronicidade não são tratadas, por esta medicina. Porque ela não é especulativa, não possui laboratórios sofisticados, ela trata o homem como um todo, não excluindo nenhuma só parte.

QN – Como alma tem relação com a medicina africana?
PORTUGAL – A medicina yorùbá entende o homem uno, como um todo o Onisegun, o Bàbálawo, investigam as origens dos acontecimentos, trabalhando o ori, ipari, e ipin ijeun, estes três elementos constitutivos da alma, devem estar em equilíbrio total.

QN – Qual a relação hoje dos africanos de seus antepassados e a medicina ocidental?
PORTUGAL – Alguns yorùbá, mais jovens, aceitam a medicina de laboratórios, porém os velhos, só se tratam com ervas e outros componentes, porém o mais interessante apesar do progresso da ciência, a medicina dos yorùbá, continua bastante presente, conhecimentos que são passados de geração a geração.

QN – Que elementos/estruturas/fatos da medicina africana que você julga fundamentais para dar saúde/equilíbrio às pessoas?
PORTUGAL – O pensamento africano, sobretudo p yorùbá, se baseia na junção do mundo espiritual com o material, tudo é junto, portanto, o equilíbrio, bem estar e saúde, não são só conseguidos com poções, beberagens, etc., mas sim com um conjunto de normas conceituais, morais e sobretudo religiosas, os ebo é uma das expressões que dão complemento aos fármacos, todo este conjunto, é que proporciona o bem viver.

QN – Quais os deuses que estão relacionados ou ligados a medicina africana?
PORTUGAL – Orunmila, Èsú e Osayn, são os responsáveis maior por toda a medicina yorùbá, é claro que os demais nunca são esquecidos, e a qualquer momento o oráculo poderá através de Orunmila, designar outro Orisà para a resolução de um problema relacionado a saúde ou não.


In Jornal Questões Negras – Ano I – nº 10

Maio/Junho/2011

3 - Não se curem além da conta.



segunda-feira, 9 de março de 2015

Religião de Orixá

Ẹ̀sìn òrìṣà kọ́ àṣà àláfíà.
Religião de Orixá ensina cultura de paz.



 Àkójọ́pọ̀ Itumọ̀ (Glossário).
Ìwé gbédègbéyọ̀  (Vocabulário).
                  
Ẹ̀sìn, ìsìn, s. Culto, religião.
Òrìṣà, s. Orixá.
Kọ́, v. Ensinar, estudar, aprender, educar. Não ser. Construir. Pendurar, estar suspenso, fisgar, enganchar. Tossir. Aconselhar. 
Àṣà, s. Costume, hábito, moda, cultura.
Àláfíà, àlàáfíà, s. Paz, felicidade, bem-estar.

                                                                  

Comissão Interamericana dos Direitos Humanos da OEA, receberá Carta aberta contra os Gladiadores do Altar




Nesta manhã de segunda-feira, dia 09 de março, não por coincidência, dia em que a Casa de Oxumarê presta sua reverência anual a divindade da comunicação e dos caminhos, o Orixá Exu, foi confiado ao CEN dar encaminhamento da Carta aberta contra os “Gladiadores do Altar” da Igreja Universal do Reino de Deus.
A carta será protocolada na Comissão Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA); no escritório do Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos da ONU; no Ministério da Justiça; na Secretária Nacional de Direitos Humanos da Presidência da República; na Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa do Senado Federal e na Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados.
A coordenadora nacional de religiosidade do CEN, Mãe Jaciara, sentiu-se honrada com a designação, e destacou: “Por muitos anos está referida igreja vem ferindo e deixando profundas cicatrizes nos religiosos e comunidades de matrizes africanas. Esta luta é nossa, do povo negro. Temos o dever de proteger nossa ancestralidade e cultura”.
Coletivo de Entidades Negras foi criteriosamente escolhido em virtude do comprometimento histórico na luta por políticas voltadas à defesa e promoção da liberdade religiosa e a alta credibilidade na área dos Direitos Humanos e o desenvolvimento de ações com repercussão internacional. Para o Babalorixá Pecê esta missão foi confiada ao CEN pelos próprios Orixás, concluindo a reunião rogando que as divindades os protejam nesta jornada.

Carta Aberta às Autoridades Brasileiras:
Proteção das Religiões de Matriz Africana contra
os "Gladiadores do Altar"

Por décadas a Igreja Universal do Reino de Deus - IURD promove um massacre cultural e religioso contra as Religiões Tradicionais de Matriz Africana, perpetrando uma contínua, incansável, declarada e brutal perseguição através dos meios de comunicação social. A IURD promove o ódio religioso e através da bancada evangélica no Congresso Nacional estimula o fundamentalismo nas instâncias legislativas de nosso país, atentando contra o princípio constitucional que garante a laicidade do Estado.

Os principais alvos da IURD são o Candomblé e a Umbanda, religiões brasileiras edificadas com base nas tradições milenares de culto aos Orixás, N'kisis e Voduns, responsáveis pela preservação e difusão da cultura africana no país. Religiões estas que serviram de instrumentos de resistência para o povo negro e contribuíram de forma significativa para a cultura e identidade do Brasil. No entanto, o prejuízo vai muito além da desvalorização cultural e religiosa deixada pelos africanos no país. Para as comunidades tradicionais de matriz africana, os danos causados são incalculáveis, atingindo desde os seus espaços sagrados, que são destruídos e fechados, até a processos criminais, como o repercutido caso que levou a óbito a Ialorixá Gildásia dos Santos e Santos, em 1999, e tantos outros frequentemente noticiados em jornais
.
As comunidades tradicionais de matriz africana não revidam estes ataques com base nos seus próprios dogmas de respeito a vida e à convicção de que a paz, a fraternidade, a irmandade e o amor nos garantem estar de fato ligados em harmonia com o poder superior. Acreditamos ainda que compartilhamos a crença em um mesmo Deus, único e onipotente, senhor de todo universo, porém, por uma diferença cultural, o chamamos de Olodumare, e isto igualmente nos faz irmãos na fé. De forma pacífica, na tentativa de coibir os ataques da IURD contra os Povos de Santo, reivindicamos diariamente o direito constitucional da liberdade religiosa, lutamos por políticas públicas e buscamos o diálogo inter-religioso, contudo sem lograr o devido êxito. A IURD continua oprimindo as Religiões de Matriz Africana, munida de uma imensa fortuna, de poder político e agora de um exército, que poderá levar a Umbanda e o Candomblé a vivenciar uma releitura da santa inquisição.

Nos últimos dias, foram publicados vídeos de uma recente iniciativa da IURD, os Gladiadores do Altar. Em meio a pregações lotadas, adentram ao culto dezenas de rapazes, trajados uniformemente, marchando e repetindo palavras de ordem, com evidente inspiração militar. Segundo informações da própria IURD, os Gladiadores existem há somente dois meses – desde janeiro deste ano – e nesse curto período, já agregaram mais de 4 mil jovens. Se as cenas do "exército de evangelizadores" já são assustadoras no ambiente controlado das igrejas, há que se imaginar o que esses "soldados da fé" podem fazer nas ruas, longe da vigília de seus "comandantes-pastores". A mistura explosiva entre fé e força produz resultados imponderáveis. O Povo de Santo, vitimado por tantos atos de violência perpetrados por pastores da IURD e seus fiéis, não tem condições de "pagar para ver", até porque, são obviamente previsíveis os desdobramentos dessa iniciativa irresponsável: o fortalecimento de um ideário de ódio contra tudo e todos que não se conformam à pregação estreita da IURD – nas quais se enquadram também outras religiões, os povos indígenas, a população LGBT e grupos com ideologias libertárias.

No plano internacional o tema da intolerância religiosa não poderia ser mais atual. O mundo assiste atônito à escalada de movimentos paraestatais militarizados criados a partir de leituras fundamentalistas de textos religiosos. É este o caso do Boko Haram, na Nigéria, e do Estado Islâmico, na Síria. Supostamente seguindo mandamentos religiosos, esses grupos sequestram, matam e torturam quem não se converte à sua fé, numa estratégia de expansão religiosa fundada na violência e no mais completo e sórdido desrespeito à diversidade. Muitos poderão dizer que exageramos ao comparar os tais "Gladiadores" com extremistas islâmicos, mas e resposta é simples: não é exagero. Trata-se de uma preocupação fundada em experiências reais que demonstram que o fundamentalismo religioso, quando aliado simbólica ou objetivamente a um ideário de violência, pode despertar uma energia incontrolável e destruidora, intransigente e emburrecedora.

Assim, não podemos permitir que essa iniciativa se expanda e se consolide. A liberdade de consciência e de crença, garantida em nossa Constituição, não pode servir de guarida para atos de intolerância e de violência, e, no caso concreto, nos parece que esse direito fundamental colide com outro dispositivo elencado no mesmo artigo 5º da Carta Magna – a vedação de organização paramilitar, que configura crime previsto em nosso Código Penal (art. 288-A). A conceituação de organização paramilitar pode ser depreendida de julgados e da doutrina jurídica, embora não haja uma definição legal clara. Podemos defini-la como associações de civis armados, organizadas a partir de ideologia política, ideológica ou religiosa, com estrutura semelhante à militar. O comportamento e uniformização dos Gladiadores revela, de forma evidente e alarmante, a estruturação de um embrião paramilitar. É certo que até agora, não há evidências de que disponham de armamentos, mas igualmente não há evidências de que não os tenham. É possível que entre esses 4 mil jovens se encontrem pessoas com treinamento militar prévio, ou mesmo pessoas com porte de arma de fogo e outros tipos de armas.

Diante de tamanha incerteza sobre os objetivos dessa organização, sobre a sua natureza, o real controle que a Igreja conseguirá exercer sobre esses jovens e da possibilidade palpável de que essa alegoria se converta em ódio e violência real, CONCLAMAMOS os líderes religiosos de todas as tradições, a sociedade civil organizada, a classe política, as instituições democráticas e todos aqueles comprometidos com a consolidação do Estado Laico a se manifestarem veementemente contra a manutenção das atividades dos "Gladiadores da Fé", organização que abertamente atenta contra o Estado Democrático de Direito e que deve ser suprimida antes que se torne uma força incontrolável, que produza agressão, dor e morte.

"Senhor, tu que és autor da vida e consumador da fé, guia-nos em nossa jornada, e nos ajuda a ficar de pé, combater o bom combate, completar a carreira e guardar a nossa fé. Diante das nossas dificuldades, não nos deixe esmorecer. Somos homens de caráter, escolhidos pelo senhor, para dar vida em favor dos perdidos e façamos com amor. Temos força, coragem e determinação para nunca fracassar no cumprimento da nossa missão. Graças ao senhor, hoje estamos aqui, prontos para batalha, e decididos a te servir, somos gladiadores do teu altar, isso é uma decisão, todos os dias enfrentamos o inferno, confiantes na tua santa proteção. Eterno é o senhor que nos ama, e a ti pertence o sucesso de nosso trabalho, pois teu é o reino, o poder, a honra e a glória para sempre, amém" – Oração proferida pelos Gladiadores do Altar, da IURD

Diante do sofrimento que vivemos, do contexto brasileiro permeado de intolerância religiosa, da herança execrada do período escravocrata e do preconceito racial, rogamos às Autoridades Brasileiras um maior direcionamento de políticas públicas para assegurar os nossos direitos enquanto comunidades religiosas e tradicionais, assim como o reconhecimento das nossas contribuições para a formação cultural do Brasil, como a efetiva implementação da Lei 10.639/03. Do mesmo modo, diante das evidências aqui apresentadas, solicitamos ao Governo Brasileiro que tome as providências necessárias para investigar rigorosamente como, por que e com qual finalidade os Gladiadores do Altar foram criados. E, caso seja constatada a incitação ao ódio e à violência física, psicológica e moral, pedimos que seja minucioso e criterioso na aplicação da Lei.

Salvador, 7 de março de 2015,

Sivanilton Encarnação da Mata
Babalorixá da Casa de Oxumarê

Guerra santa

  Ogun mímọ́ mọ́ àwọn ère.
Guerra santa contra as estátuas.
                                                            



1. Em 2001, Taleban ordena a destruição de estátuas de Buda, patrimônios da humanidade.

Bamiyan Region Of Afghanistan

2. Estado Islâmico destrói dezenas de estátuas milenares no Iraque.



3. 12 de outubro de 1995, o pastor Von Helder chutou a imagem de Nossa Senhora Aparecida.



4. Evangélicos fanáticos destruíram Centro de umbanda no Rio de Janeiro-RJ.



Àkójọ́pọ̀ Itumọ̀ (Glossário).
Ìwé gbédègbéyọ̀  (Vocabulário).


Ogun, s. Exército, batalha, guerra.
Mímọ́, adj. Limpo, puro, íntegro, sagrado.
Mọ́, prep. Contra.
Ibi Ọ̀ṣọ́ Àgbáyé, s. Patrimônio mundial.
Àti, conj. E. Usada entre dois nomes, mas não liga verbos.
Àwọn, pron. Eles, elas. Indicador de plural.
Ère, s. Imagem. Máscara de madeira usada pelos Egúngún. Estátua.
Ère Òmìnira, s. Estátua da liberdade.