sábado, 14 de março de 2015

Cura

Ó wò mí sàn.
Ele tratou de mim.



Àkójọ́pọ̀ Itumọ̀ (Glossário).
Ìwé gbédègbéyọ̀  (Vocabulário).


Ó, òun, pron. pess. Ele, ela.
, v. Olhar para, assistir, observar. Pagar uma visita. Ter cuidado. Tratar de um doente.
Mi, pron. oblíquo. Me, mim, comigo.
Sàn, v. Curar. Ser melhor.
Ìwòsàn, s. Curandeiro, cura.

1- O que é cura?
             Fred Alan Wolf

      Em inglês, a palavra healing (cura), o sonho do médico em nos deixar bem de saúde, deriva da palavra whole (todo). Assim ser curado (healed) é ser totalizado (wholed), é formar uma unidade com o universo. Falamos de uma mão afetuosa, de um coração solidário. Solidariedade é um entendimento rítmico. Uma pessoa solidária sente o que a outra pessoa está sentindo. Talvez a cura seja uma harmonia de fase de nossas ondas quânticas. Quando estamos juntas com outras pessoas, nós intensificamos essa harmonia, à semelhança de dois pedaços de holograma que , quando reunidos, produzem uma imagem mais nítida.
     Segundo essa concepção, a doença nada mais é  que vibração fora de harmonia. A doença é criada da mesma maneira ue qualquer coisa é criada: ela surge do pensamento. Creio que os pensamentos "interferem" no universo, perturbam o universo. Entretanto, não deixe esses pensamentos perturbá-lo; na verdade, você não pode deixar de perturbar o universo. Esse é o único modo de aprender algo acerca dele. Assim, a doença é modo de aprender algo acerca de você mesmo.

2 - O antropólogo e sacerdote da religião afro, Fernandez Portugal Filho, defendeu a medicina yorùbá e disse que a indústria farmacêutica produz remédios que não curam.



PORTUGAL DEFENDE MEDICINA AFRO E CRÍTICA A INDUSTRIA DE MEDICAMENTOS.

Dando sequência ao debate sobre saúde afro que nosso jornal vem fazendo com personalidades ligadas à cultura negra, o antropólogo e sacerdote de religião afro, FERNANDEZ PORTUGAL FILHO, autor de “Formulário Mágico e Terapêutico”, Editora Madras – que traz informações preciosas sobre os remédios de cunho popular -, criticou enfaticamente a indústria farmacêutica mundial por produzir medicações sem eficiência no combate às doenças.
Sobre os laboratórios farmacêuticos, ele disse: “Eles foram criados, não para curar, mas para prolongar enfermidades, muitas pessoas morrem em virtude do acúmulo e uso indevido, de medicamentos. Na medicina tradicional, sobretudo a alopata, alguns médicos se converteram em garotos propaganda dos laboratórios”, enfatizou o sacerdote.
Acompanhem sua entrevista ao nosso jornal:

QUESTÔES NEGRAS – Como o senhor define a medicina africana?
FERNANDEZ PORTUGAL FILHO – Em primeiro lugar é bom que antes de responder esta pergunta, eu possa fazer alguns esclarecimentos a cerca do que os africanos entendem por medicina, na verdade nossos estudos estão voltados para a Tradicional Religião Yurùbá, que em seu bojo detém os conhecimentos da medicina yurùbá. Qualquer um de nós que tente classificar a extensão das relações entre medicina, doença e organização social na Nigéria, logo se dá conta, que nenhum aspecto da vida social e biológica pode ser excluído. Podemos definir que os yorùbá entendem que a medicina tradicional yorùbá, é a arte e a ciência de preservar e restaurar a saúde, através de recursos espirituais e forças naturais.

QN – Ela é apena se apoia no emprego de ervas?
PORTUGAL – Em busca da vida com excelência ou busca de cura, os yurùbá usam folhas, cascas, sementes, ossos, pauas, resinas, areia, pedras, metais, animais, crânios, lagartos, camaleões, etc. Sendo que a maioria dos elementos são utilizados em forma de pó, que pode ser adicionado, em ekó (espécie de mingau), bebida destilada ou no próprio alimento diário. Antes, porém é necessário que a pessoa vá uma consulta com um onisegun (médico tradicional) ou a um Bàbálawo que poderá fazer um diagnóstico através do Ifá e verificar quais são os males que afligem aquela pessoa, após o diagnóstico são preparados os elementos que levarão a pessoa a cura.

QN – Qual o papel das ervas?
PORTUGAL – As folhas tem papel preponderante, uma vez que elas são poderosos agentes benéficos da natureza. Mas, somente um conhecedor profundo poderá ministra-las conhecendo suas características, sua textura, odor e principalmente o principio ativo.

QN – Em muitos casos, a cultura ocidental vê esta medicina como um embuste. Como você vê este problema?
PORTUGAL – Tudo o que aparece de uma forma natural, e que vem do povo e principalmente do Continente Africano, na maioria das vezes é tratado como embuste. Isto se deve principalmente porque uma das maiores comparações financeiras no mundo são os laboratórios, eles foram criados, não para curar, mas para prolongar enfermidades, muitas pessoas morrem em virtude do acúmulo e uso indevido, de medicamentos. Na medicina tradicional, sobretudo a alopata, alguns médicos se converteram em garotos propaganda dos laboratórios, são reféns de uma situação, alguns para passar férias em Paris, a custa de um laboratório, são capazes de entupir os pacientes de medicamentos, quando não levam a cirurgias desnecessárias. Com isso, não quero dizer que toda a Tradicional Medicina Yorùbá é infalível, nem tampouco todos os medicamentos tradicionais são excelentes. Portanto é natural que um médico desavisado, possa afirmar que a medicina de Yorùbá seja um embuste, bem, é melhor que ele estude bem e não tire conclusões apressadas antes de falar.

QN – Você pode fazer uma comparação entre a medicina africana e ocidental? Como o meio ambiente é vista pela medicina africana?
PORTUGAL – Para o país mais populoso da chamada África Negra, existe uma quantidade enorme de problemas, mas pelo menos não nas áreas que conheci, os rios, cachoeiras e a mata como um todo, estavam preservados, não poderia ser de outra forma, uma vez que o habitat Yorùbá está relacionado à preservação desses bens e de sua continuidade, se for o contrário, a cultura dos Òrìsà, já haveria desaparecido.

QN – Em que casos ou doenças a medicina africana não deve ser recomendada?
PORTUGAL – A tradicional medicina Yorùbá, não é um placebo, tampouco ela tem a capacidade de tudo curar, algumas enfermidades de alta cronicidade não são tratadas, por esta medicina. Porque ela não é especulativa, não possui laboratórios sofisticados, ela trata o homem como um todo, não excluindo nenhuma só parte.

QN – Como alma tem relação com a medicina africana?
PORTUGAL – A medicina yorùbá entende o homem uno, como um todo o Onisegun, o Bàbálawo, investigam as origens dos acontecimentos, trabalhando o ori, ipari, e ipin ijeun, estes três elementos constitutivos da alma, devem estar em equilíbrio total.

QN – Qual a relação hoje dos africanos de seus antepassados e a medicina ocidental?
PORTUGAL – Alguns yorùbá, mais jovens, aceitam a medicina de laboratórios, porém os velhos, só se tratam com ervas e outros componentes, porém o mais interessante apesar do progresso da ciência, a medicina dos yorùbá, continua bastante presente, conhecimentos que são passados de geração a geração.

QN – Que elementos/estruturas/fatos da medicina africana que você julga fundamentais para dar saúde/equilíbrio às pessoas?
PORTUGAL – O pensamento africano, sobretudo p yorùbá, se baseia na junção do mundo espiritual com o material, tudo é junto, portanto, o equilíbrio, bem estar e saúde, não são só conseguidos com poções, beberagens, etc., mas sim com um conjunto de normas conceituais, morais e sobretudo religiosas, os ebo é uma das expressões que dão complemento aos fármacos, todo este conjunto, é que proporciona o bem viver.

QN – Quais os deuses que estão relacionados ou ligados a medicina africana?
PORTUGAL – Orunmila, Èsú e Osayn, são os responsáveis maior por toda a medicina yorùbá, é claro que os demais nunca são esquecidos, e a qualquer momento o oráculo poderá através de Orunmila, designar outro Orisà para a resolução de um problema relacionado a saúde ou não.


In Jornal Questões Negras – Ano I – nº 10

Maio/Junho/2011

3 - Não se curem além da conta.



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