terça-feira, 8 de setembro de 2015

Democracia no antigo Reino do Congo

Òṣèlúaráìlú ní Ilẹ̀ọba Kóngò Ayéijọ́un.
Democracia no antigo Reino do Congo. 

Ìwé gbédègbéyọ̀  (Vocabulário)
Àkójọ́pọ̀ Itumọ̀ (Glossário).

Òṣèlúaráìlú = democracia.
 = no, na, em.
Ilẹ̀ọba = reino.
Ilẹ̀ Kóngò, Kóngò = Congo.
Ayéijọ́un = antigo.

“O Kôngo vivia em democracia quando os portugueses chegaram no século XV”, diz Patrício Batsîkama


                                                           


Localização de Kongo
"Reino do Kongo"




24 de abril de 2015 16

                                                       Natalia da Luz, Por dentro da África


 

The Banza or Residence of the King of Kongo called S. Salvador.” – DAPPER, Olfert. Description de L’Afrique. Amsterdam: W. Waesberge, Boom et Van Someren, 1686. Pp. 343-344.




Mbanza-kôngo, Angola – No norte de Angola, Mbanza-Kôngo ganha destaque para a história da humanidade. Foi de lá que partiu a maioria dos africanos escravizados desembarcados nas Américas, foi de lá que saiu o primeiro embaixador africano enterrado no Vaticano, também foi lá onde a primeira igreja católica (Kulumbimbi) da África Subsaariana foi erguida. Com a missão de estudar o Reino do Kôngo (a grafia Kôngo é referente ao antigo Kôngo), um pesquisador angolano se dedica a encontrar as origens da região, destacando que, quando os portugueses chegaram por lá, “os africanos já conheciam a democracia”.

– O Kôngo era um Estado muito influente quando os portugueses chegaram. Já havia democracia, como comprovavam  os relatórios de viagem em 1491 (durante a evangelização). Foram os próprios portugueses que, depois de se familiarizarem com os Kôngo, nos chamaram de gregos de África! A região recebeu a primeira Catedral na África Subsaariana, os cidadãos do Kôngo foram ensinar Humanidades em Portugal, já nos séculos XVI e XVII, já uma vez que existiam escolas de qualidade em Mbânz’a Kôngo – disse em entrevista exclusiva ao Por dentro da África, o historiador Patrício Batsîkama, autor de quatro livros sobre a região

Patrício lembra que o primeiro embaixador africano enterrado em Vaticano, Dom António Nsaku Ne Vunda, teve um funeral com pompas de príncipe europeu e que a revolução do Haiti, também conhecida como Revolta de São Domingos (1791-1804),  foi protagonizada pelos descendentes do Kôngo. Os militares haitianos fizeram o juramento em kikôngo, tal como se fazia entre os Mazômbo do Kôngo. O país caribenho foi o primeiro e o único a ter uma revolução de escravos bem-sucedida. O texto de libertação foi lido em kikongo, língua dos bakongo.

Descobertas

Nesse longo período de estudo, o angolano que escreveu As Origens do Reino do Kôngo, Reino do Kôngo e a sua origem Meridional, Reino do Kôngo consoante a Bibliografia e Tradição Oral e Lûmbu, descobriu muita coisa, principalmente, que há três grandes origens dos Bakôngo (grupo étnico que habitava a região). Patrício lembra que eles vieram do Norte, mas também do Leste e do Sul, desde Tsodilo Hills.


The Banza or Residence of the King of Kongo called S. Salvador.” – DAPPER, Olfert. Description de L’Afrique. Amsterdam: W. Waesberge, Boom et Van Someren, 1686. Pp. 343-344.


– Todos os autores falam de Nimi’a Lukeni como fundador do Kôngo. Eu descobri que foram 12 chefes de 144 tribos que se juntaram para fundar Mbânz’a Kôngo (e estão enterrados na atual Sé Catedral ou Kulumbimbi), além de simbolizarem as doze nascentes de Mbânz’a Kôngo. Nimi’a Lukeni teria sido o primeiro eleito pelo Lûmbu (Grande Conselho). Também ali,  está o famoso túmulo de Dona Mpolo (mãe do Rei Mbemba Nzinga). Em 2012, eu já tinha percebido que lá não se encontravam os restos mortais dela. Isso foi descoberto há pouco tempo – revelou o historiador, que dividiu a sua obra em três livros.

Autor de oito livros sobre o tema, Patrício tentou reestruturar as instituições da época e apresentou o que teria sido o Lûmbu – explicado a seguir -e como ele funcionava. Ele conta que pouca gente dava importância a essa instituição tradicional; mas hoje, o cenário mudou. Pergunto a Patrício como poderíamos descrever essa democracia do século XV, essa mesma que os portugueses encontraram ao desembarcar pela primeira vez na região, por volta de 1492. Em resposta, ele lembra que os portugueses encontraram o Lûmbu: aparelho institucional que regulava as eleições, a atuação militar e a separação dos poderes executivo, militar, religioso e judiciário.

– Dos séculos XV a XVI, a noção de escravizado não era uma questão social, mas sim jurídica. Ninguém que pertencia às três famílias Kôngo (Nsaku; Mpânzu e Ñzînga) poderia ser escravizado e/ou vendido. Os portugueses não conheciam essa estrutura social, e desde o século XVI instalaram provocaram desordens. Mas as autoridades do Kôngo lutaram contra isso, o que levou à Grande Batalha de Mbwîla em 1665 (para expulsar todos os portugueses inimigos do Kôngo) – conta Patrício.



The Banza or Residence of the King of Kongo called S. Salvador.” – DAPPER, Olfert. Description de L’Afrique. Amsterdam: W. Waesberge, Boom et Van Someren, 1686. Pp. 343-344.


O pesquisador lembra que a sociedade kôngo estava estruturada em linhagens e as autoridades eram eleitas nos bairros e municípios com autonomia financeira e integridade territorial. Havia lealdade entre os autarcas dos municípios em relação ao governador, que eram escolhidos como candidatos ao trono. Mas apenas um entre eles poderia ser eleito pelo Conselho Lûmbu.

– É preciso considerar essa democracia no contexto histórico e espacial. “Avançada”, sim, ela foi com relação ao espaço Kôngo. Pelo menos, havia separação de poderes ligada à distribuição das funções sociais consoante as linhagens. Isso era funcional. Os Nsaku eram os sacerdotes; Mpânzu: poder militar, industria; Ñzînga: poder Executivo; Nsaku e Mpânzu juntos: poder Legislativo. A liberdade individual era o princípio vital do diálogo: “Ban abatele; bana batelelwa”, diz o princípio ( “Onde há quem diz, deve se permitir que haja aquele que contradiz”).

O historiador destaca que o Kôngo era o local do Grande Diálogo (por isso, foram chamados de gregos de África). Até os dias de hoje, os Kôngo resolvem os problemas na base de diálogo. Nunca existiu a pena de morte entre os Kôngo porque não faz sentido um homem decretar a morte do outro homem. Há adágio que diz: “Todo chefe eleito respeita a formiga; respeita o capim. Todo cidadão é rei e não pode ser morto em nenhuma circunstância”.

– Depois de Mvêmb’a Ñzînga Dom Afonso vencer os constitucionalistas em 1506 (entenda esse confronto em “Veja mais sobre a entrevista”), ele chegou a realizar um desfile em Setembro de 1509 e em 15013 numa praça que reuniu mais de 1000 pessoas. Estas pessoas eram representantes das linhagens que manifestavam lealdade a ele. Isto é, devemos contar mais de 1000 mbuku (municípios). Ora, por norma, cada aldeia  deve ter doze famílias, e cada mbuku deve ter doze aldeias. Fazendo bem as contas, se cada família pode ter no mínimo 5 integrantes, podemos dizer que, em 1509 e 1513, uma parte de Mbânz’a Kôngo tinha cerca de  600.000 habitantes. Madîmba ma Kôngo era mais populoso ainda, tal como nos indica os relatórios de viagem. O fato de, entre 1491 e 1717,  terem saídos do Kôngo perto de 13.000.000 kôngo – nas estatísticas de Dieudonné Rinchon – tudo indica que Kôngo tinha uma grande população – explica Patrício.

Veja mais sobre a entrevista

Natalia da Luz – Nessa época, o  que os portugueses consideravam democracia? Como a chegada do europeu e o tráfico de pessoas interferiram política e socialmente na democracia da região?

Patrício Batsîkama – Os portugueses não encontraram no Rei Kôngo (Ñtôtila) os poderes que tinham o monarca de Portugal. O Rei kôngo era eleito, e isso surpreendeu-os. Os juízes também eram eleitos, e isso foi espanto para eles. Até os militares tinham um Lûmbu militar no seu kilûmbu. A patente mais alta era eleita, também. Toda promoção militar foi na base de consentimento coletivo.


Patrício Batsîkama


O tráfico negreiro é a principal causa. Em 1506, os portugueses interfiram no aparelho de Estado Kôngo, colocando Mvêmb’a Ñzînga como rei. Este nunca foi eleito e nem o seu poder foi legitimado pelo Nsaku. Os Kôngo lutaram para instaurar a constitucionalidade entre 1506 até 1706, e a desordem foi instalada no Kôngo. Em 1506, os Mpânz’a Lûmbu lutaram, e Mvêmb’a Ñzînga Dom Afonso I (apoiado pelos portugueses) venceu. Mbânz’a Kôngo foi dividido em duas cidades. A atual cidade de Mbânz’a Kôngo é a cidade de Dom Afonso Mvêmb’a Ñzînga. Madîmba ma Kôngo foi separada da capital.

Em 1665, realizou-se a grande batalha para expulsar todos os portugueses inimigos do Kôngo, mas sem sucesso. Entre 1702-1706 realizaram-se kimpâsi restauração do Kôngo através da religião dos ancestrais). Mas Nsîmb’a Vita ou Kimp’a Vita foi queimada pelos católicos portugueses, numa lei canônica que já não vigorava. Durante esse tempo todo, a reserva social/humana (povo) foi escravizada e vendida (como se vende um quilo de açúcar). Todas as instituições políticas, religiosas, culturais, sociais… ficaram sem suporte.

Natalia da Luz – Como era o modelo de justiça e “governo”? Você diz que era baseado na obediência e respeito. Esse formato era incompreensível para os portugueses?

Patrício Batsîkama – Justiça: quando um Kôngo de Mbânz’a Kôngo diz que “eu sou pessoa”, isso é diferente de um Kôngo de Makela, embora a frase seja a mesma. Em Mbânz’a Kôngo, “muntu” é pessoa socializada consoante o diálogo, é agricultor. Em Makela, o “muntu” é a pessoa socializada em armas, militar ou religioso, agricultor/caçador. A justiça faz-se na base do pacote de socialização de cada um. O juiz que recebe uma queixa, informa os interessados (queixado e queixoso) que se faz apresentado pelos seus devidos advogados (mpôvi).

No decorrer do julgamento – caso as partes não se entendam – havia um Conselho composto de juízes oriundos da jurisdição dos queixosos/queixados. O tribunal poderia levar vários anos, pois o objetivo final era de juntar as famílias, independentemente do resultado final. Obediência/respeito kôngo estavam ligados às normas que cada um aprendeu na iniciação de passagem, iniciação para exercer uma função social e iniciação secreta. Os portugueses não poderiam perceber isso tudo. É só ver o padre Cavazzi que se espanta da Ñjîng’a Mbandi convertida, mas que ainda mantinha o respeito e obediência aos seus ancestrais. Ou ainda, do rei Ñzîng’a Nkûwu que, apesar do batismo, nunca deixou de venerar os seus ancestrais.


The Banza or Residence of the King of Kongo called S. Salvador.” – DAPPER, Olfert. Description de L’Afrique. Amsterdam: W. Waesberge, Boom et Van Someren, 1686. Pp. 343-344.


Governo: antes de Mvêmb’a Ñzînga optar pelo modelo português, o Governo Kôngo tinha, por um lado, o Lûmbu e os ministro de Estado ligado ao Lûmbu. O chefe militar (Ministro da Defesa) não dependia do Ñtôtila (Rei), por exemplo. Havia, também, os ministros ligados ao rei, tendo o Chefe de Governo o Ntûdi’a Kôngo (ou Nkasi’a Kôngo): Primeiro ministro. No meu livro Lûmbu tentei reconstruir, a partir da tradição oral analisada e comparada, o que teria sido o aparelho do Governo no antigo Kôngo. Existia o Ministro da Justiça (Mbênz’a Kôngo), Ñnâng’a Kôngo (Governador de Mbânz’a Kôngo), Ndông’a Kôngo (Ministro da Saúde/Educação), Mpâku za Kôngo (Ministro das Finanças), etc.

Natalia da Luz –  Hoje podemos estudar a região a partir de um outro ponto de vista. Como as suas pesquisas puderam esclarecer e contribuir para a percepção e entendimento do Reino do Kongo?

Patrício Batsîkama – Sobrevalorizei a tradição oral na minha pesquisa, e hoje essa fonte tem mais credibilidade em Angola. Ela parece explicar melhor que as fontes escritas, sobre a história do Kôngo antes e nos primeiros momentos dos portugueses. É o caso de Mvêmb’a Ñzînga. As escritas dizem que ele sucedeu ao pai dele consoante a lei. A tradição oral indica que ele usurpou o poder, com o apoio dos portugueses. Nas normas kôngo, o filho nunca sucede ao seu pai. Ora, Mvêmb’a Ñzînga sucedeu ao seu pai. Já é uma anomalia!

Todo poder deve ser investido na tradição kôngo. Ora, Mvêmb’a Ñzînga não o foi investido pelo Nsaku. Nsaku e Mvêmba são da mesma família e não se pode haver investidura. Logo, pensa-se que a legitimação, pelas escritas, de Mvêmb’a Ñzînga explica claramente o plano dos portugueses de instalar o modelo português, do monarca onde o filho sucede ao seu pai. Outra coisa: Mvêmb’a Ñzînga sucede ao seu pai alguns dias depois da sua morte. Ora, a sucessão levava mais de 3 anos, por norma. Começava com enterro do defunto rei (que poderia levar 3 a 5 meses). Passava pelo tempo de komba, um ano kôngo (seis meses). Depois, o Nsaku Ne Vunda assumia-se como interino  durante todo processo de candidatura e novas eleições. Eu acho que a minha démarche metodológica não só sobrevalorizou a tradição oral, mas sobretudo, abriu outro caminho de perceber a História do Kôngo. É um diálogo entre os acadêmicos.

Natalia da Luz – Você aborda as questões orais. Qual o percentual da pesquisa foi oral e escrita (com influências de Portugal)? Como foi o lançamento em Portugal? Porque lançou primeiro lá?

Patrício Batsîkama –  O meu livro LÛMBU, a versão publicada (112 páginas), é um resumo de perto de 370 páginas. Fiz questão de sintetizar para facilitar a leitura. Foram mais de 3500 recolhas de tradições orais: 80% delas já se encontram em arquivos, artigos e livros. A Universidade Católica na Bélgica tem um espólio grande sobre as escritas dos Kôngo, sobre a História deles. A Biblioteca da Suécia tem mais de 600 cadernos, onde encontramos perto de 1300 informações importantes. Jean Cuvelier publicou Nkutama mvila za makanda, onde há mais de 500 tradições orais. Durante a colonização, o Mensário Administrativo publicou várias tradições de Cabinda, Congo, etc.

Eu próprio recolhi centenas de tradições orais. Fiz a comparação de todas essas. Depois tive que comparar com arquivos, livros antigos (século XV-XVIII). Fiz o primeiro lançamento na Fundação OKUMA (espaço de um angolano: Trofa Real), em Lisboa, por uma razão muito simples: Foi um recado a Portugal que Angola já tinha a democracia quando eles chegaram nas nossas terras, de maneira que solicitava Portugal evitar toda ingerência na jovem democracia de Angola. Foi um recado para não cometer os mesmos erros no passado.

Natalia da Luz – A origem do Reino do Kongo se dá com Mbanza Kongo. Como esses estudos contribuem para o reconhecimento de Angola como região importante para toda a África e mundo?

Patrício Batsîkama –  – Milhares de americanos (brasileiros, cubanos, norte-americanos, etc.) vieram do Kôngo. Acho que seria justo saber como esse povo Kôngo se formou. Daí a importância dos meus estudos. Os Kôngo vieram de três grandes sub-regiões africanas, e é importante olhar nele como modelo na construção das nações modernas. África foi desenhada na Conferência de Berlim, de maneira que as repúblicas atuais são assoladas por questões de tribalismo, por exemplo. O Kôngo era um conjunto de 144 tribos diferentes que selaram, pela vontade institucionalizada, o seu país. Os Estado-nações modernos vão nessa linha, e o caso do Kôngo pode servir.

segunda-feira, 7 de setembro de 2015

Empirismo indígena

Ìṣeìrírí ti ọmọ-ìbílẹ̀.
Empirismo indígena.

Àkójọ́pọ̀ Itumọ̀ (Glossário).
Ìwé gbédègbéyọ̀  (Vocabulário).

Aṣeonirírí, ìṣeìrírí, s. Empirismo.
Olùṣeìrírí, s. Empirista, empírico.
Ti ìbílẹ̀, ti ilẹ̀, ti ìlú, ti ọmọ-ìbílẹ̀, adj. Indígena, aborígene.
Ọmọ-ìbílẹ̀,  ẹ̀yà abínibí, onílẹ̀, ìbílẹ̀, s. Índio, nativo,  aborígine, indígena.

 O misterioso povo Pirarrã e o idioma mais estranho do mundo
                               i212917


Eles não sabem contar, não diferenciam cores, não conhecem arte ou mitos, não entendem ficção, não acreditam em nenhum deus. Vivem no agora, sem futuro, sem passado. Esses são os pirarrãs: 150 a 350 índios que vivem na selva amazônica e desafiam nosso entendimento da linguística moderna.
Os pirarrãs ou piraãs, também chamados de pirahãs ou mura-pirahãs, são um povo indígena brasileiro de caçadores-coletores, monolíngues e semi-nômades, que se destacam de outras tribos pela diferença cultural e linguística.


Eles habitam as margens do rio Maici, afluente do rio Marmelos ou Maici, que por sua vez é um afluente do rio Madeira, um afluente do rio Amazonas. Se autodenominam hiaitsiihi, categoria de seres humanos ou corpos que se diferenciam dos brancos e dos outros índios.
Antes mesmo de nascer, ainda no ventre materno, os pirarrãs recebem um primeiro nome, que eles acreditam ser responsável pela criação de seus corpos. Durante a vida, recebem nomes de seres que habitam camadas superiores e inferiores do cosmos, responsáveis pela criação de suas almas e destinos, e também de inimigos de guerra.
Linguagem

A língua pirarrã é um língua da família linguística mura. É a única língua do grupo mura ainda não extinta, sendo que todas as demais desapareceram nos últimos séculos. Essa língua não tem nenhuma relação com qualquer outra língua existente. Havia cerca de trezentos e cinquenta falantes em 2004, distribuídos em oito aldeias ao longo do rio Maici.
Apresenta características peculiares, não encontradas em outras formas de expressão oral. Foi identificada e teve sua gramática elaborada em 1986 pelo linguista estadunidense Daniel Everett em cerca de doze artigos. Everett viveu entre os Pirarrã por sete anos, dos anos 1970 aos 1980.
Entre suas peculiaridades, destacam-se:
Uma das menores quantidades de fonemas entre os idiomas existentes. Identificam-se os sons de apenas três vogais (A, I e O) e seis consoantes: G, H, S, T, P e B;
A pronúncia de muitos fonemas depende do sexo de quem fala;
Apresenta dois ou três tons, quantidade discutida entre estudiosos;
O falar pirarrã pode ser expresso por música, assobios ou zumbidos (como “M” com lábios fechados);
Apenas alguns dos homens, nunca mulheres, conseguem se expressar em nheengatu ou em português;
Sentenças muito limitadas, sendo o único idioma sem orações subordinadas;
Não tem numerais, apenas a noção do unitário (significando também “pequeno”) e de muito. Sua cultura e seu modo de vida, como caçadores e coletores, não exige conhecimento de numerais (um trabalho recente de Everett indica que a língua não trata nem mesmo de “um” e “dois”; não usam números, mas quantidades relativas);
Não há palavras para definir cores, exceto “claro” e “escuro”, embora isso seja discutido entre diversos autores;
Tudo é falado no presente, não há o tempo futuro, nem o passado. Trata-se de um povo, portanto, sem mitos da criação;
Não tem termos que identifiquem parentesco, descendência. A palavra para Pai e Mãe é uma única;
Os pronomes pessoais parecem ter-se originado na língua nheengatu, uma língua franca de origem tupi.
Daniel Everett: sete anos entre os Pirarrãs

Entre as coisas que separam os homens dos outros animais, estão as sutilezas da linguagem. Os animais até são capazes de transmitir mensagens simples – em geral relacionadas a comida, sexo ou disputa de território –, porém não conseguem encaixar uma mensagem dentro de outra.
Por exemplo, um golfinho treinado pode transmitir a mensagem “A bola está na piscina” ou “Pegue a bola”, mas não é capaz de juntar as duas expressões dizendo “pegue a bola que está na piscina”. Esse é um atributo exclusivamente humano que os linguistas chamam de recursividade – que, salvo casos de deficiência mental, é considerado um denominador comum a todos os indivíduos da nossa espécie.
O que aconteceria se um grupo humano não dominasse isso? Essas pessoas seriam menos humanas que outras?
O pesquisador americano Daniel Everett chegou à tribo na década de 1970 como um missionário cristão com a missão de converter os índios. Nunca conseguiu. Everett fazia parte de uma organização internacional que espalha a palavra de Deus por meio da tradução da Bíblia para línguas sem escrita. Mas foi a falta da tal recursividade que ele identificou nos indígenas que o pôs em conflito com seus colegas linguistas.
Ele diz que os índios não são recursivos pelo que chamou de “Princípio da Experiência Imediata”. O nome é mais complicado do que a coisa em si: os pirarrãs só vivem e falam do aqui-agora. Fazem apenas sentenças relacionadas ao momento em que estão falando, aos fatos vistos por eles. “As sentenças dos pirarrãs contêm somente situações vividas pelo falante ou testemunhadas por alguém vivo durante a vida do falante”, define Everett em um de seus artigos. Por isso eles têm problema com as abstrações e tudo o que resulta delas: cores, números, mitos, ficção e a bendita recursividade. Também é isso que faz com que os pirarrãs, ao contrário de todas as outras comunidades linguísticas já estudadas, não aprendam a contar em outro idioma. “Eles não querem saber de nada que esteja fora do seu mundo”, afirma Everett.
Outros linguistas rebatem: “A contagem ‘1, 2, bastante’, por exemplo, é típica de vários outros indígenas”, afirma Maria Filomena Sândalo, linguista da UNICAMP (Campinas, Brasil) que fez sua dissertação de mestrado sobre a tribo. “Isso não quer dizer que eles não reconheçam quantidades. Eles simplesmente fazem recortes diferentes da realidade, como qualquer outra língua”.
A professora argumenta que, enquanto esteve com os pirarrãs, encontrou uma linguagem tão complexa e recursiva como qualquer outra. Ela interessou-se pela questão pirarrã e, junto com dois outros pesquisadores do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (EUA) e da Universidade Harvard (EUA), analisou os dados colhidos por Everett. Em 2007, o grupo publicou um artigo concluindo que a língua é normal. “Ela não é inexplicável ou especial. É tão interessante quanto uma língua de qualquer outro lugar do mundo. Não tem essa história de experiência imediata ou falta de recursividade”, diz a professora.
O linguista e filósofo estadunidense Avram Noam Chomsky, um dos maiores ícones dessa ciência, argumenta que os pirarrãs não são um “contra-exemplo” à gramática universal (termo usado no último século para a teoria do componente genético que habilita os humanos a se comunicar). Como os pirarrãs não são diferentes geneticamente do resto da humanidade, não há nada de extraordinário aí.
Cultura e crença

Os pirarrãs concebem o tempo como uma alternância entre duas estações bem marcadas, definidas pela quantidade de água que cada uma possui: piaiisi (época da seca) e piaisai (época da chuva). O modo de vida é simples, baseado em caça, coleta e pesca, sem traços de prática agrícola.
Outra questão curiosa dos Pirarrãs é a ausência de uma ideia criacionista, algo literalmente único entre povos de cultura primitiva. Eles não acreditam em nada que não possa ser provado, visto ou sentido. Logo, não possuem quaisquer deidades ou mitos de criação, e para eles o céu e a terra sempre existiram. No entanto, acreditam em espíritos menores na forma de coisas no ambiente, segundo experiência pessoal de alguns, e tem uma ideia de cosmologia baseada em camadas existenciais, sendo eles corpos em uma delas (hiaitsiihi).
Enquanto viveu entre eles, o missionário Daniel Everett tentou evangelizar a tribo. Segundo ele, os indígenas perderam o interesse em Jesus quando descobriram que Everett nunca o viu de fato. Seu constante contacto com este tipo de pensamento acabou o transformando. “Os pirarrãs me modificaram profundamente. Eu era um missionário que evangelizava e hoje sou ateu”, disse. [superinteressante, GoldenMAP, pib.socioambiental]

Civilização

Ìlàjú (civilização)

Reaja ou Será Morto (a)!

O ó fèsì tàbí o ó ni òkú
Reaja ou Será Morto (a)!




Àkójọ́pọ̀ Itumọ̀ (Glossário).
Ìwé gbédègbéyọ̀  (Vocabulário).

O, ìw, pron. Você.
Ó, óò, part. pré-v. Forma abreviada de yíò, que faz a marca do tempo futuro dos verbos.
Ó, òun, pron. Ele, ela.
Fèsì, v. Responder, replicar, reagir. 
Tàbí, conj. Ou.
Jẹ́, wà, ni, mbẹ, sí (depois do negativo kò), v. Ser.
Jẹ́, v. Ser. Concordar, permitir, admitir, arriscar-se a um empreendimento. Ser feito de, envolver. Responder, replicar. Chamar-se. ser chamado.  Jurar. 
, v. Estar, ser, existir, haver. Implica a existência ou a presença de algo.
Ni, v. Ser, é. Usado para ênfase, excluindo o efeito de possibilidade.
Mbẹ, v. Ser, existir.
, v. Forma negativa do verbo wà - estar, existir, haver. É precedido por kò (não). Bàbá kò sí nílé - Papai não está em casa.
Òkú, s. Morto, cadáver.

1. Povo Maxakalí pede socorro em Minas Gerais

02 de Setembro de 2015


Os Maxakali vivem em três municípios no nordeste de Minas Gerais, eles tem sido vítima de agressões, preconceitos, descaso, golpes e assassinatos. Comerciantes tem aplicado golpes em indígenas, além dos vários outros problemas que a população indígena vem enfrentado. 


Em janeiro, mais de 90 casos de diarreia aguda, crianças das aldeias Pradinho e Água Boa, no município de Bertópolis, foram internadas em hospitais. Oito crianças morreram ano passado, das Aldeias Água Boa (Santa Helena de Minas) e Pradinho (Bertópolis).

                     
A população Maxakali é de aproximadamente 1.600, suas terras foram devastada por fazendeiros, a desnutrição e a falta de projetos é preocupante na região, vítima de grande descaso. Assine o abaixo-assinado "Pressionando Governo de Minas,FUNAI e Presidência da República Investiguem, prendam e punam os responsáveis pela chacina do povo Maxakali em MG. Intervenham na situação de miséria e ajudem nossas crianças.", organizado pelo Comitê Mineiro de Apoio As Causas Indígenas.
                                                               

2. Frei Betto: A morte dos Guarani-Kaiowá



Rio -  A Justiça revogou a ordem de retirada de 170 índios Guarani-Kaiowá das terras que habitam no Mato Grosso do Sul. Em carta à opinião pública, eles apelaram: “Pedimos ao Governo e à Justiça Federal para não decretar a ordem de despejo, mas decretar nossa morte coletiva e enterrar nós todos aqui. Nós já avaliamos a nossa situação atual e concluímos que vamos morrer todos, mesmo, em pouco tempo”.

  A morte precoce é recurso frequente adotado pelos Guarani-Kaiowá para resistir frente às ameaças que sofrem. Preferem morrer a se degradar. Nos últimos 20 anos, quase mil indígenas, a maioria de jovens, puseram fim às suas vidas, em protesto às pressões de empresas e fazendeiros que cobiçam suas terras.

  A carta dos Guarani-Kaiowá foi divulgada após a Justiça Federal determinar a retirada de 30 famílias indígenas da aldeia Passo Piraju, em Mato Grosso do Sul. A área é disputada por índios e fazendeiros. Em 2002, acordo mediado pelo Ministério Público Federal, em Dourados, destinou aos índios 40 hectares ocupados por uma fazenda. O suposto dono recorreu à Justiça.

A Constituição abriga o princípio da diversidade e da alteridade e consagra o direito dos índios às terras habitadas tradicionalmente por eles. Os índios não são estrangeiros nas terras do Brasil. Ao chegarem aqui, os colonizadores portugueses se depararam com mais de 5 milhões de indígenas, que dominavam centenas de idiomas distintos. A maioria foi vítima de um genocídio implacável, restando hoje, apenas, 817 mil indígenas.

  Não adianta o governo brasileiro assinar documentos em prol dos direitos humanos e do desenvolvimento sustentável se isso não se traduzir em gestos concretos para a preservação dos direitos dos povos indígenas e de nosso meio ambiente.

Frei Betto é escritor, autor da novela indigenista ‘Uala, o amor’

ÍNDIA É PRESA DE MODO VIOLENTO EM MONTES CLAROS – MG.
Juvana Petyrhara, uma índia Xakriabá, participava do ato O Grito dos Excluídos em Montes Claros, norte de Minas Gerais, quando foi agarrada de forma violenta por entres os alambrados de contenção, arrastada, deitada com o rosto na calçada, algemada e mantida presa com os joelhos dos policiais sobre seu corpo.
No ponto final do ato, que acompanhou o desfile de 07 de setembro, culminou em frente ao palanque onde estava ao prefeito da cidade, Ruy Muniz. Debaixo de muitas vaias e gritos da multidão, o prefeito foi retirado do local por assessores. Foi nesse momento em que a índia Juvana, estava em frente a grade que distanciava a multidão, segurando um cartaz de cartolina, foi puxada com truculência. 
O policial, que efetuou a prisão, disse que ela teria empurrado a grade, por isso foi preciso “agir usando a força”. 
O cartaz de cartolina branca da índia dizia: “Somos Todos Guarani-Kaiowás contra o genocídio a mando do agronegócio”.

Wil Correia, em Montes Claros, MG, 35°.



3. Genocídio Tupinambá.

Dona Maria Tupinambá, mãe de Célia Tupinambá e do Cacique Babau, entre outros guerreiros encarcerados pelo Terrorismo de Estado, baleada no peito (bala de borracha) pela Polícia Federal em ação de reintegração


Índios são mortos em região de conflito no sul da Bahia

DANIEL CARVALHO
DO RECIFE


09/11/2013  15h03

Três índios tupinambás foram mortos na noite de sexta-feira (8) na região de Ilhéus (a 460 km de Salvador), no sul da Bahia, área de disputa entre produtores rurais e indígenas.

A morte dos índios foi confirmada pelo Cimi (Conselho Indigenista Missionário), braço da Igreja Católica para a questão indígena.

Segundo a missionária Alda Maria de Oliveira, as famílias das vítimas disseram que os três índios foram alvo de emboscada. A missionária não soube informar os nomes deles.

De acordo com o Cimi, os índios eram da aldeia do Mamão, que integra a aldeia de Olivença.

O clima no sul da Bahia é tenso. Indígenas e produtores rurais disputam uma área de 47.376 hectares (cada hectare equivale a um campo de futebol), delimitada pela Funai (Fundação Nacional do Índio) em 2009.

Desde a data da delimitação, os tupinambás cobram do Ministério da Justiça o reconhecimento de que aquela área é território tradicional indígena.

Enquanto índios dizem que a área se trata de terra sagrada e afirmam que estão apenas retomando o espaço, produtores rurais dizem que são donos legítimos do local.

Em agosto, o governo federal enviou tropas da Força Nacional de Segurança, o que não impediu novos confrontos.

Duas semanas após a chegada das tropas, um trabalhador rural foi baleado e um índio morreu atingido por tiros.

No último dia 25, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, e o governador da Bahia, Jaques Wagner (PT), reuniram-se com líderes indígenas e proprietários rurais para tentar mediar o conflito.


O governo federal e o da Bahia afirmaram que iriam elaborar um plano de segurança para a região, sobre o qual nada foi divulgado ainda.

4. Genocídio de jovens negros e pobres.









O Mapa da Violência produzido pela Unesco – braço da Organização das Nações Unidas (ONU) para a educação, a ciência e a cultura – igualmente atesta o morticínio da juventude negra e pobre do Brasil. Pelo levantamento, em 2002, o índice de vitimização negra alcançou 73 pontos, ou seja, morreram proporcionalmente 73% mais negros no País do que brancos. Em 2012, esse índice subiu para 146,5, fazendo a vitimização negra no período (2002 a 2012) mais que duplicar.

Entidades e pessoas que apoiam o genocídio de indígena, negros e pobres:

Àwọn ààrẹ - Presidentes e presidenta.
Àwọn igbákejì Ààrẹ - Vice-presidentes.
Aṣàkóso ìdájọ́ - Ministro da Justiça.
Ilé-ẹjọ́ Gígajùlọ - Supremo Tribunal Federal (STF).
Àwọn onídàájọ́ - juízes.
Ìbùjókó aṣòfin ti olóko ní Kọ́ngrésì Onítọmọorílẹ̀-èdè (Ilé Aṣòfin Àgbà àti Ilé Aṣòfin Kéreré) - bancada ruralista no congresso nacional (Senado e Câmara dos Deputados).
Àwọn amúnisìn tipátipá - facistas, nazistas, neonazistas, hitleristas. 
Ẹgbẹ́ ọmọ-ogun ti oko aṣòdì sí ọmọ-ìbílẹ̀, s. Milícia rural anti-indígena.
Ọlọ́pàá, s. Polícia.
Àwọn ológun, s. Militares.
Ọ̀dáràn, apànìà, apani, s. Criminoso, assassino, malfeitor, culpado, matador.
Okoòṣowó, s. Agronegócio.
Àwọn olóko, s. Ruralistas, fazendeiros, latifundiários.
Àwọn bálẹ̀ - prefeitos.
Àwọn aṣòfin ìlú - vereadores.
Àwọn gómìnà - governadores.

Xangô

Ṣàngó jẹ́ òrìṣà ẹdùn àrà.
Xangô é a divindade dos raios.

Àkójọ́pọ̀ Itumọ̀ (Glossário).
Ìwé gbédègbéyọ̀  (Vocabulário).

Ṣàngó, s. Orixá dos raios.
Jẹ́, v. Ser. Concordar, permitir, admitir, arriscar-se a um empreendimento. Ser feito de, envolver. Responder, replicar. Chamar-se. ser chamado.  Jurar. 
Òrìṣà, s. Orixá, divindade.
dùn àrà, s. Meteorito, pedra do raio.
Àrà, s. Trovão, raio.






sábado, 5 de setembro de 2015

Líderes Guarani-Kaiowa pedem ajuda ao povo de São Paulo

Àwọn olórí guaraní-kaiowá bẹ̀bẹ̀ ìrànlọ́wọ́ fún ènìyàn Ìpínlẹ̀ Páùlù mimọ́.
Líderes guarani-kaiowá pedem ajuda ao povo do Estado de São Paulo.

                                                             


CARTA ABERTA DE SOLIDARIEDADE AO POVO GUARANI KAIOWA

Por meio desta carta aberta queremos expressar nossa indignação e repúdio aos ataques promovidos por fazendeiros que resultaram na morte do líder indígena Semião Vilhalva em 29 de agosto na Terra Indígena Ñande Ru Marangatu, município de Antônio João, no Mato Grosso do Sul. Expressamos também nossa solidariedade e nosso total apoio a toda a comunidade Guarani Kayowa.

Não podemos aceitar que um Estado e um Congresso que se dizem democráticos continuem agindo de forma arbitrária, omitindo-se na construção de direitos já reconhecidos na Constituição. A não demarcação das Terras Indígenas, além de um desrespeito aos fundamentos constitucionais do país e aos direitos dos povos originários desta terra, agrava os conflitos e crimes por todo o país, e impede que se estabeleça a Justiça e o Direito.


Durante 18 anos o povo Guarani Kayowa aguardou a resolução do conflito de acordo com as regras dos não indígenas. A Terra Indígena Ñande Ru Marangatu foi homologada em 28 de março de 2005. Cinco meses depois, porém, o então presidente do Supremo Tribunal Federal, Nelson Jobim, atendendo aos apelos de Pio Queiroz Filho, dono das fazendas Barra e Fronteira, suspendeu os efeitos da homologação em medida cautelar, decisão que deve perdurar até o final do julgamento do processo, mandato de segurança de número 0003154–21.2005.0.01.0000. Desde 5 de setembro de 2009, porém, o processo está parado nas mãos do atual Ministro do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes.

O que se viu nas últimas semanas em Ñande Ru Marangatu ampliou ainda mais o cenário de crueldade. Cansados de esperar ação da Justiça e do Governo, os indígenas resolveram ocupar o Território já homologado. Em resposta, fazendeiros e ruralistas comandados pela presidente do Sindicato Rural de Antônio João, Roseli Maria Ruiz (casada com Pio Queiroz Filho), orquestraram uma verdadeira campanha de terror, pânico e mentiras, incitando a população contra a comunidade indígena.

O ex-deputado federal Pedro Pedrossian Filho chegou a divulgar em sua rede social imagens de um incêndio ocorrido no Paraguai como se fossem fotos de vandalismo provocado pelos índios. Há relatos de comerciantes que estão sendo orientados a não vender nada a pessoas com “aparência indígena”. O ódio facilitou o ataque ocorrido nos dias 29 e 30 de agosto, que resultou na morte de Simão, de apenas 24 anos, e em ferimentos por bala de borracha em um bebê de um ano. Os indígenas encontram-se sitiados, impedidos de receber alimentação e socorros médicos.

A demora, a burocracia e a balança da justiça, que parece pender para o lado mais rico da história, têm custado muito caro para os Guarani Kayowa. Nas últimas décadas eles têm sido massacrados e explorados de todas as maneiras. Foram expulsos de seu território e abandonados à beira da estrada. Perderam vários de seus líderes, vítimas de assassinato. Todas essas mortes, assim como a de Semião, foram tragédias anunciadas e poderiam ter sido evitadas.

Tanto em Ñande Ru Marangatu como em outras Terras Indígenas no Mato Grosso do Sul, o povo Guarani Kayowa viu seus jovens, incluindo menores de idade, serem submetidos a trabalho análogo ao dos escravos em canaviais e nas fazendas daqueles que querem tirar suas terras. Crianças morreram por desnutrição. Forçadas a sair de sua terra, em meio aos conflitos, as crianças guarani kayowa têm negado também o direito à educação.

Apesar da indignação crescente e já expressa por entidades como a Anistia Internacional e Articulação dos Povos Indígenas do Brasil, o cenário não apresenta melhoras, pelo contrário. Atendendo à solicitação do governador do Mato Grosso do Sul, Reinaldo Azambuja (PSDB), a presidente Dilma Roussef (PT) aceitou enviar tropas do Exército para atuarem a partir de 1o de setembro nas cidades de Antônio João, Aral Moreira, Bela Vista e Ponta Porã por um período de 30 dias.

Esperávamos que a Presidente agisse, mas não dessa forma, pois sabemos que os modos de ação próprios do Exército irão agravar os conflitos já violentos contra a população indígena, quando trata-se de um crime impetrado por milícias e omissão na demarcação das Terras Indígenas. Tememos que mais mortes e mais dor se espalhe por Ñande Ru Marangatu, agora por ação direta do Estado brasileiro, a quem cabe a responsabilidade pela questão indígena no país.

Desta forma, pedimos:

Ao governo federal, que tenha transparência e agilidade na demarcação das Terras Indígenas em Ñande Ru Marangatu e nas demais TIs do Brasil. Não fazê-lo expõe o atual governo, em seu sentido lato, na medida em que vemos implicados os diversos poderes, a mais um episódio triste e vergonhoso de nossa história recente, colocando-o ora como omisso, ora como um inimigo direto dos povos indígenas.

Ao ministro e relator Gilmar Mendes, que aprecie o processo que está em suas mãos e que reconheça prontamente a homologação da Terra Indígena Ñande Ru Marangatu, pondo fim a esses vergonhosos acontecimentos.

Ao Ministério Público Federal, que instaure investigações sobre o assassinato de Simão Vilhalva, cujo corpo foi devolvido à comunidade guarani kayowa sem o laudo de autopsia, bem como de outros crimes noticiados no Estado. Que também apure as denúncias de racismo e difamação contra o povo guarani kayowa cometidas por fazendeiros e ruralistas.

Que sejam apuradas as responsabilidades neste e em outros crimes, e o possível envolvimento entre interesses de proprietários de terras, milícias e políticos nas diversas esferas de governo, inclusive no Congresso, segundo notícias amplamente divulgadas, que ultrapassando o conflito de interesses e a lisura necessária do cargo público, ligam-se manifestamente, segundo essas mesmas notícias, a milícias e ações criminosas contra lideranças e crianças.

Que o Congresso Nacional rejeite a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 215.



A questão não pode ser tratada como uma questão política, nem mesmo econômica, na medida em que trata-se de crimes que expõem as formas de apropriação do poder público por interesses privados e de violência contra pessoas que estão em defesa de seus direitos já reconhecidos. O país necessita de uma resposta que estabeleça o Direito e a Justiça dos povos originários da terra, salvaguardando de modo digno para a história deste início de século a construção contemporânea de nosso território e da diversidade étnica que nos constitui como nação no presente.





São Paulo, 1º de setembro de 2015

Coletivo Antena Guarani

https://www.facebook.com/groups/1561934177414064/?fref=ts

sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Criança-soldado

1. Ọmọdé-jagunjagun ní Áfríkà (Criança-soldado em África) 

  Criança-soldado é o termo que refere-se a menores que estão ativamente envolvidos em guerras e outros conflitos armados. Atuam não somente em combates, mas também servindo como cozinheiros, espiões, carregadores ou mensageiros.



 2. Ọmọdé-jagunjagun ti ẹ̀yà ènìyàn guaraní Kaiowá jà ṣòdì sí ìpakúpa ti ará rẹ ní ilẹ̀ Bràsíl.

Curumim-guerreiro da etnia guarani Kaiowá luta contra o genocídio de seu povo no Brasil.

 Crianças indígenas agem como guerreiros e conflito por terras suspende aulas.

Foto: Álvaro Rezende/Correio do Estado 

Crianças estão sem aula em razão do conflito.


Ao menos 450 alunos, entre crianças e adolescentes índios estão sem aulas desde o início dos conflitos envolvendo indígenas e fazendeiros na região de Antônio João, cidade sul-mato-grossense, na fronteira com o Paraguai. Com a escola fechada dentro da aldeia e sem ônibus para transportá-los até a cidade, restaram aos estudantes guarani-caiuás, com até cinco anos de idade, juntarem-se aos adultos e equiparem-se com flechas, feitos guerreiros.
Índios e fazendeiros travam há 11 dias um duelo pelo domínio de fazendas que teriam sido declaradas território indígena, em 2005, pelo ex-presidente Lula, mas a medida fora contestada judicialmente pelos ruralistas. No sábado (29) à tarde, um índio foi morto baleado na cabeça.
A reportagem do Correio do Estado notou que no dia mais delicado do confronto, no sábado, crianças corriam e espalhavam-se pela mata com os adultos, assim que viram camionetes indo para as fazendas que haviam sido invadidas dias atrás.
Um garotinho pequeno, segurava uma flecha, provavelmente feita por ele mesmo, com gravetos. Outro maior, com aparência de dez anos de idade, vestido com uniforme escolar, também agitava-se com uma flecha.
Ainda no sábado, os ruralistas que ocupavam ao menos 40 camionetes, entraram dentro de duas fazendas invadidas, a Barra e a Fronteira. Quando perceberam os fazendeiros, os índios recuaram. Policiais foram para o local depois que um índio já havia morrido com tiro no rosto. Para a polícia, ainda não se sabe de onde partiu o tiro que matou o guarani.
Além da morte do índio Simeão Vilhalva, outro índio de 27 anos foi levado para o hospital com ferimento na cabeça. Uma mulher e uma criança de um ano de idade foram feridas com balas de borracha.
Sem aulas, sem comida
Somente na aldeia Campestre, 7,5 quilômetros da área urbana de Antônio João, cidade distante 160 km de Itaporã, cursam o ensino infantil, fundamental e educação indígena, ao menos 370 índios na Escola Municipal M’bo Eroy Tupã I Arandu Renoi, fechada desde o dia 21, data do início das ocupações das fazendas. Os índios guarani ocuparam sete áreas que seriam deles, mas duas delas já foram retomadas pelos fazendeiros.
A reportagem tentou entrar na aldeia Campestre, onde fica a escola, mas não foi autorizada pelos líderes da comunidade. Sem aulas, as famílias das crianças índias estariam com dificuldades de alimentar os filhos, pois eles dependem da merenda escolar. A comunidade recebe o Bolsa Família, programa do governo federal que paga a elas parcela mensal de até R$ 175.
Além dos cerca de 370 alunos da M’bo Eroy, outros 80 alunos que cursam o ensino médio e o Educação de Jovens e Adultos, o EJA, precisam transporte escolar até as escolas de Antônio João. Ocorre que os veículos não têm circulado durante os conflitos.
Alunos índios estudam nas escolas estaduais Pantaleão Coelho Xavier, Aral Moreira e ainda na escola municipal Maicka Sanabria Pinheiro.
A diretora da escola Aral Moreira, Selzanet Ramirez, onde ao menos dez índios estudam à noite, disse que além do risco de os alunos reprovarem por faltas, há uma perda maior a eles. “Reprovar pela falta é mais difícil, mas eles vão ficar com defasagem no aprendizado”, disse a diretora.

Celso Bejarano, do Correio do Estado

Fonte:http://ifato.com.br/noticias/educacao/criancas-indigenas-agem-como-guerreiros-e-conflito-por-terras-suspende-aulas/7581.html#.Vep7ohFVikp



3. Entidades e pessoas que apoiam o genocídio guarani:


-Àwọn ààrẹ - Presidentes e presidenta.
-Àwọn igbákejì Ààrẹ - Vice-presidentes.
-Ilé-ẹjọ́ Gígajùlọ - Supremo Tribunal Federal (STF).
-Àwọn onídàájọ́ - juízes.
-Ìbùjókó aṣòfin ti olóko ní Kọ́ngrésì Onítọmọorílẹ̀-èdè (Ilé Aṣòfin Àgbà àti Ilé Aṣòfin Kéreré) - bancada ruralista no congresso nacional (Senado e Câmara dos Deputados).
Àwọn amúnisìn tipátipá - facistas, nazistas, neonazistas, hitleristas. 
Ẹgbẹ́ ọmọ-ogun ti oko aṣòdì sí ọmọ-ìbílẹ̀, s. Milícia rural anti-indígena.
Ọlọ́pàá, s. Polícia.
Àwọn ológun, s. Militares.
Ọ̀dáràn, apànìà, apani, s. Criminoso, assassino, malfeitor, culpado, matador.
Okoòṣowó, s. Agronegócio.
Àwọn olóko, s. Ruralistas, fazendeiros, latifundiários.
Àwọn bálẹ̀ - prefeitos.
Àwọn aṣòfin ìlú - vereadores.
Àwọn gómìnà Ìpínlẹ̀ - governadores do Estado (Mato Grosso do Sul).